Em
pleno planejamento, “Liga da Justiça o filme” promete reunir os mais famosos
super-heróis da editora DC Comics num único filme cheio de efeitos especiais e
de enorme bilheteria nos cinemas. Seu
diretor declarou recentemente em entrevista que “os personagens da Liga da Justiça são
relacionados aos antigos deuses gregos e esse é meu ponto de referência”.[1] Seria
idolatria assistir a histórias de super-heróis? A mitologia é cheia de deuses
equivalentes. Thot, Odin, Hermes e Mercúrio foram adorados como sendo a mesma
entidade por diferentes povos, conforme a opinião geral de antropólogos como
Mircea Eliade. Zeus, Júpiter, Baal e Teshub parecem ser os mesmos em diferentes
povos. Antropólogos concordam que Vênus ou Afrodite é a adaptação da Astarote
de Canaã, chamada na suméria de Inana. São esses mesmos deuses que na Bíblia
são chamados de obra de mão humana, manifestações de demônios que deveriam ser
destruídos. Os deuses gregos que foram combatidos pela pregação dos apóstolos
(At 19:35, 36) parecem ter correspondentes no mundo dos super-heróis.
Mulher Maravilha é de uma ilha mítica de amazonas, onde
as guerreiras têm frequentes encontros com os deuses. Ela foi feita do barro e a
vida lhe foi dada pelos deuses. Sua roupa é sensual e leva as cores da América
do Norte, apesar de ela ser grega. Frequentemente, a Mulher Maravilha é
retratada invocando o nome da rainha das deusas gregas, dizendo “grande Hera!”
Ela oferece incenso aos deuses e luta com seres mitológicos. Seu nome, Diana, é
de uma deusa muito popular na Roma antiga, identificada como Artemis, a deusa
da caça e da Lua. Diana era a deusa da caça, e em Éfeso era um tipo de deusa
mãe virginal. Seus adoradores foram inimigos dos apóstolos.
Aquaman, que comanda os seres marinhos,
frequentemente é retratado com o tridente de Netuno. Atualmente, seu visual com
barba e cabelos longos lembra ainda mais o deus mitológico marinho chamado
pelos gregos de Posseidon.
O
super-rápido Flash, em seu visual
original, usava um elmo com asas em homenagem ao deus Hermes, o veloz
mensageiro dos deuses.
Lanterna Verde usa a luz para materializar objetos.
Apolo era um deus grego da luz e da arte. Apolo também era arqueiro, e há um
arqueiro na LJ.
Os
gregos tinham um deus da guerra chamado Ares, Marte para os Romanos. A Liga da
Justiça tem um marciano chamado Caçador
de Marte!
O
deus Efesto, o ferreiro, pode ser equiparado ao personagem Cyborg e a ciência que trabalha com metais e máquinas.
Os
deuses egípcios Ísis e Hórus estão presentes por meio de personagens como Gavião Negro e Mulher Gavião, por vezes retratados como alienígenas. Gavião é um
arqueólogo que recebeu a reencarnação e os poderes do faraó Queóps. Gavião
Negro e Mulher Gavião são um casal que prometeu se encontrar em todas as reencarnações.
Batman já foi comparado ao sombrio deus Hades,[2] pois
os dois são do trio principal de personagens, e Hades mora no submundo, assim
como Batman tem seu esconderijo numa caverna.
Superman é por vezes associado a Zeus/Júpiter:
eles voam, são os líderes e se disfarçam de pessoas comuns e indefesas para
andar entre os homens. Zeus é por si só uma paródia pagã de Jesus. Veja como
ele é descrito por um crítico da série “O
Reino do Amanhã”, considerada um grande clássico da DC Comics: “Extrapolando o fato de o Superman ter sido o
primeiro dos super-heróis, aquele que fez nascer os demais, uma espécie de
‘Zeus’, simbolicamente falando, Waid apresenta-o assumindo uma autoridade
paternalista, um veterano por trás das atitudes mais enérgicas adotadas para
consertar o mundo a qualquer custo”.[3]
Mitologia,
religião e espiritualismo são as inspirações da DC Comics que chama seus três
personagens principais – Superman, Batman e Mulher Maravilha – de “Trindade”.
Entre seus heróis também está o Espectro,
um ser ancestral que possui o corpo de homens usando-os como médiuns
pelos quais desencadeia sua vingança, sendo o último deles o próprio
Lanterna-Verde,[4] fato que lembra muito o Templo de Apolo e seus videntes, de
acordo com a comparação que já fizemos entre o deus Apolo e o Lanterna-Verde.
Mas Espectro teria um papel ainda mais interessante na principal obra de HQ dos
anos 1990, Kingdom Come (O Reino do Amanhã, em
português), um título que no original se trata de um trocadilho lembrando a
expressão do Pai Nosso e a escatologia do reino de Deus implantado na Terra. A
revista foi um sucesso mundial, com desenhos realistas de Alex Ross e texto de
Mark Waid. Sendo uma alusão direta à literatura cristã escatológica,[5] fãs
reconhecem nela uma versão com super-heróis do Apocalipse da Bíblia.[6] Nela, o
Espectro como um espírito sai do vitral da igreja, do meio de imagens de santos,
e dá visões do fim ao pastor Norman MacCay, que descreve os acontecimentos com
textos bíblicos. O personagem do pastor MacCay foi desenhado com a aparência do
pai do desenhista, um pastor protestante na vida real, fato que mostra o quanto
os autores desses super-heróis são influenciados por suas crenças e de onde
tiram suas ideias.[7]
Em
Reino do Amanhã, o Coringa matou
centenas de pessoas explodindo os amigos do Superman no planeta diário,
incluindo a famosa Lois Lane. Preso, o Coringa está indo a julgamento quando é
morto por um herói que ajudou o Superman. Esse herói chamado Magog é julgado e
inocentado, o que causa desgosto no senso de justiça de Superman, que se
retira, deixando o mundo por si mesmo.
O
mundo sem Superman se parece com a tipologia de Jesus deixando a Terra, até
porque, no momento de caos, em O Reino do
Amanhã, ele voltará para salvar e reunir seus “anjos”. Magog é um
personagem encomendado para essa estória, com aparência de bode. Ele
é um herói, mas, na Bíblia, Magog é um símbolo para os inimigos do povo de
Deus. Compreende a inversão?
Com
a retirada de Superman, todos os velhos heróis da LJ se aposentam e vão ficando
velhos, e uma nova geração de heróis aniquila o mal, mata ou prende todos os
vilões concedendo um tipo de “milênio de paz” ao mundo, embora na revista seja
um período bem mais curto. Entre esses novos heróis estão nomes muito
sugestivos como Dama Demônio, Demônio Azul II e 666. Superman é mostrado na
estação espacial do Lanterna Verde reunindo os heróis numa mesa esmeralda, o
que lembra muito as visões celestiais.
Quando
o mundo se torna ameaçado pela nova geração de heróis, Superman retorna
influenciando sua velha equipe, que com muitos conflitos internos se reúne para
uma última grande batalha. Um armagedom da DC Comics! E o que se concluí ao
longo dessa minissérie? Nas palavras dos especialistas em quadrinhos, “a crença em ídolos, líderes e forças superiores
é lentamente posta abaixo ao longo da história. Obcecadas com seus próprios
objetivos, as figuras centrais se desmoronam em decepção”.[8]
Então
é essa a colaboração dos super-heróis? Depois que o religioso se torna mito e o
mito se torna ficção, o que sobra? O ateísmo?
O
Reino do Amanhã termina
com um último grande apelo à idolatria, parodiando Satanás que é solto para seduzir
as nações após o milênio. Lex Luthor consegue dominar a mente do Capitão Marvel,
que luta com Superman tentando impedi-lo de salvar a todos. Por fim, o próprio
Capitão Marvel salvará os homens e matará a maioria dos super-heróis numa
explosão nuclear, e o Superman assumirá seu papel de novo messias na ONU
dirigindo a humanidade.
De
fato, sabemos sobre a origem do personagem do Capitão Marvel que ele recebe
seus poderes invocando um bruxo chamado Shazan, que cultua estátuas de Salomão,
Aquiles, Atlas, Hércules e Hermes, que dão poderes a um menino para ele se
tornar o Capitão Marvel. Percebeu que Salomão foi sutilmente reduzido a um
mito? Mas, na maioria das vezes, essas estátuas são mostradas apenas como
ídolos com aparência demoníaca.
Contrariando
a história de Abrão na Bíblia, que foi chamado por Deus para “sair” de Ur dos
Caldeus, o mais poderoso mágico do universo DC é um arqueólogo que vai até as
ruínas de Ur e encontra uma ordem de bruxos que lhe dá um capacete e um amuleto
que o transformam no herói conhecido como Senhor
Destino. Ele não é o único mágico “herói” membro da LJ. Há também Zatana, uma ilusionista sempre desenhada
com decotes e roupas sensuais. Ela aprendeu magia do pai, que foi amaldiçoado
por um demônio.[9]
Tornado Vermelho é um robô possuído pelo espírito de um
alienígena, e Vixen é uma africana
que usa um colar ou totem feito pela entidade espiritual Ananse.[10] No mundo
dos quadrinhos e filmes de heróis, um deus, espírito ou alienígena é muitas
vezes a mesma coisa. Vixen incorpora o “espírito” de todos os animais ao tocar
no totem. A explicação pseudocientífica é que ela adquire em forma humana os
poderes genéticos desses animais, mas não passa de puro espiritismo, mais uma
vez baseado na idolatria pagã. Poucos sabem que Ananse é um mito de tribos
africanas que conta a história de um “deus homem-aranha” que, para satisfazer o
“deus dos céus”, desce à Terra em sua teia e engana os animais e os seres planeta.
A
equipe de heróis mais jovens e adolescentes da DC Comics é conhecida como Titãs
ou Jovens Titãs, ou no desenho do
Cartoon Network, Teen Titans. Na mitologia, os Titãs são deuses que se
rebelaram e foram jogados no inferno pelos olímpicos, o que seria o nosso
equivalente aos demônios.
Entre
os Teen Titans se destaca Raven, uma moça de aparência EMO com capa de druida e
um pingente em forma de terceiro olho na testa. Raven ou Ravena é filha de uma humana com um
demônio chamado Trigon, e luta pelo bem usando seus poderes mágicos, entre eles
sair do próprio corpo. Nas revistas, Raven morreu e ressuscitou; seu espírito
foi invocado em sessões espíritas, entre outras práticas satanistas.[11]
Obviamente,
se os heróis são ocultistas na LJ, não esperaríamos menos de seus inimigos da
Legião do Mal. Solomon Grundy é um
zumbi, fruto de alguém que ressuscitou num pântano de Gothan City, com todos os
espíritos maus mortos ali incorporados nele. Giganta é uma gorila evoluída em mulher.[12] Até mesmo Lúcifer faz
parte dos personagens da DC Comics e tem sua própria revista, onde é desenhado
como um bem apresentado anjo loiro.
Magia
é a origem dos poderes de muitos dos super-heróis da DC Comics junto com a
identidade ligada à mitologia ou a seres alienígenas. Grant Morrison, que
trabalhou em alguns dos maiores projetos da DC Comics, entre eles Batman e
Superman, admite a equivalência dos super-humanos com a mitologia. Ele chegou a
lançar um livro sobre a história dos quadrinhos intitulado Superdeuses.
Ele
não foi o primeiro a perceber que os deuses só haviam sido vestidos de roupa
colante e capa colorida: “Quando
você vê fãs vestidos como seus heróis favoritos em convenções de quadrinhos,
você está vendo o mesmo tipo de culto que foi desempenhado uma vez no antigo
mundo pagão, onde celebrantes se trajavam como seus objetos de culto e
ordenavam seus dramas em festivais e cerimônias.”[13]
Se
os personagens da DC Comics são apenas ficção, por que haveria algum perigo?
Paulo deixa claro que os deuses e os ídolos não são deuses reais, mas estão
ligados a homenagem aos demônios!
“Que
o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o ídolo é alguma coisa? Antes
digo que as coisas que eles sacrificam, sacrificam-nas a demônios, e não a
Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios. Não podeis beber do
cálice do Senhor e do cálice de demônios; não podeis participar da mesa do
Senhor e da mesa de demônios. Ou provocaremos a zelos o Senhor? Somos, porventura,
mais fortes do que Ele? Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas
convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” (1Co 10:19-23).
Será
que convém participar do universo obscuro dos super-heróis?
O
universo DC Comics é totalmente repleto de bruxaria. A magia proibida na Bíblia
(At 19:19) esteve entre os pecados abomináveis (Dt 18:10), objetada junto com a
consulta aos mortos (Lv 20:27), outra prática comum nas histórias de
super-heróis que muitas vezes morrem e voltam à vida. Mágicos na Bíblia sempre
são os enganadores, ilusionistas e rivais dos profetas e apóstolos. Assim foi
com os magos de faraó em oposição a Moisés, os magos de Nabucodonosor que
competiam com Daniel ou com Simão, o mágico que enganava nos dias dos
apóstolos. Na Bíblia, magia é a prática de buscar os poderes e as ilusões do
diabo (veja At 13:8-10).
Mas
às vezes a magia tenta ser justificada com um disfarce de ciência. No universo
DC Comics, os “deuses” são as raças mais evoluídas e imortais no Universo, não
necessariamente algo como um “Criador”. O Big Bang é tudo, e os heróis que
voltam no tempo apenas veem uma misteriosa mão segurando o cosmos que está
nascendo.
Os
Novos Deuses são uma raça criada
após uma batalha cósmica, dando origem ao planeta do bem, Nova Gênese, e o
planeta do mal, Apokolips. Nova Gênese é governada pelo Pai Celestial, um velho
imortal com um cajado na mão. Ele é chamado de Isaya, que lembra o nome Isaías,
cujo significado é “Jeová é Salvação”. Esse imortal deu seu filho, conhecido
como Sr. Milagre, para o líder de Apokolips, Darkside (nome que significa “lado
negro”). Darkside, por sua vez, deu seu filho para ser criado pelo Pai
Celestial, sendo chamado de Órion. Semelhança com a Bíblia?
Sr.
Milagre, o filho do Pai Celestial, vive entre os demônios de Apokolips, mas
foge, vindo à Terra e se passando por humano, adotado por um artista de circo e
se tornando um “escapista” conhecido como Sr. Milagre.[14] Ele chegou a ser
retratado como um escapista crucificado de cabeça para baixo, típico deboche
satanista para a cruz de Cristo. É simplesmente blasfêmia!
Dizer
que os super-heróis são diferentes dos ‘deuses pagãos’ porque os super-heróis
são apenas projeções da imaginação humana seria dar realidade aos deuses que na
verdade são exatamente a mesma coisa, segundo a Bíblia. Portanto, não há
diferença nenhuma!
Na
sociedade pós moderna, o termo “ídolo” está tão banalizado que o usamos sem
pensar nas reais consequências. Temos ídolos na música, ídolos do cinema e da TV,
e ídolos do esporte. Eles demandam tempo e atenção e, por isso, na realidade,
tornam-se deuses. Alguns os servem e cultuam e não pouco dinheiro é devotado a
eles. A todos os cristãos é bom lembrar: “Quando
não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses. Mas agora,
conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez
a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gl 4:8, 9).
Referências:
[13]
Christopher Knowles, Nossos Deuses
Usam Colante, citado por Iuri A. Reblin em http://www.espacoacademico.com.br/086/86res_reblin.htm