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Dia de silêncio protegido por lei |
É
noite de sábado. As filas são longas, e as estantes dos supermercados já estão
quase vazias. Todos correm para garantir que nada vai faltar em casa até
segunda-feira. A cena quase apocalíptica é comum na véspera do “dia do silêncio” na
Alemanha. O domingo aqui é sagrado e protegido por lei. Quase tudo fica
fechado. Supermercados, shoppings e
lojas abertos são raríssimas exceções. Por isso, é preciso se planejar. Se você
esqueceu de comprar um ingrediente para o almoço de domingo, não tem chance.
Vale o improviso ou correr para o restaurante. O domingo poderia ser o dia
perfeito da semana para passar o aspirador, cortar a grama do jardim e fazer
pequenos reparos em casa, como colocar um prego na parede. Mas, na
Alemanha, é proibido. Quem desrespeita o silêncio do vizinho tem que pagar
multa. Até jogar garrafas de vidro em contêineres espalhados pelas ruas não é
permitido.
O
Ruhetag (dia do descanso) é protegido
pela lei do trabalho alemã. “Trabalhadores não devem exercer suas atividades
aos domingos e feriados das 0h às 24h”, diz o texto. A regra não se aplica a
veículos de comunicação, hospitais, espaço de lazer e teatros, que podem
funcionar normalmente. Padarias e farmácias entram em esquema de plantão, num
sistema de rodízio. Já a maioria dos restaurantes abre como nos outros dias da
semana, e muitos oferecem brunch.
Em
2014, o Tribunal Administrativo Federal da Alemanha, em Leipzig, decidiu que
bibliotecas, loterias e call centers não devem funcionar aos
domingos, em resposta a uma ação movida
por igrejas protestantes e o Verdi, sindicato de funcionários do setor de
serviços, contra exceções aplicadas a certas categorias no estado de Hesse.
O entendimento foi de que as pessoas podem fazer apostas ou pegar livros
durante a semana, e que os trabalhadores desses locais precisam ter seu
descanso respeitado.
Domingo,
definitivamente, não é o dia para riscar tarefas da sua lista. Mas é ideal para
acordar tarde, tomar um longo café da manhã e, se o tempo estiver bom, sair
para andar pelo parque, passear na floresta e brincar com crianças ao ar livre.
É
o dia para estar com a família e os amigos. Quem tem uma avó alemã, provavelmente
será convidado para um Kaffee und Kuchen (bolo e café da
tarde), seguido de um Spaziergang (passeio).
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Papa e os líderes da UE; atrás, pintura do juízo final |
Nota: Note que foram os protestantes e os
sindicatos que “brigaram” pelo descanso dominical na Alemanha. Os primeiros
deveriam defender a Bíblia (o princípio protestante sola scriptura), que estabelece o sábado como dia de descanso. E o
segundo será uma pedra no sapato dos que querem obedecer a Deus e à Sua Palavra.
Quando o decreto dominical for assinado em um futuro próximo, muitos países o
acatarão sem maiores dificuldades. Falando nisso, ontem os presidentes e líderes de 27 países da União Europeia (UE) foram até o Vaticano celebrar os 60 anos do Tratado de Roma. Quem discursou para eles e defendeu a união e o combate ao terrorismo? Sim, ele mesmo, o maior defensor do descanso dominical: o papa Francisco. [MB]