A incoerência deve ser revelada |
Quando
era jovem, lá pelos meus 17, 18 anos, comecei a estudar a Bíblia mais a fundo e
passei a incomodar meus amigos católicos com minhas perguntas insistentes. Eram
perguntas sinceras, como: “Por que cremos que devemos orar pelos mortos, se a
Bíblia diz que eles estão ‘dormindo’ até a volta de Jesus?” “Por que devemos pedir a intercessão de Nossa Senhora e
dos santos, se a Bíblia diz que somente Jesus é nosso único e suficiente
intercessor?” “Por que batizamos crianças, se a Bíblia diz que os candidatos ao
batismo devem crer e ser ensinados?” “Por que veneramos imagens, se a Bíblia,
nos Dez Mandamentos, diz para não nos prostrarmos diante delas?” “Por que
rezamos para a Virgem Maria, se em lugar algum a Bíblia diz que ela está no Céu
nem que pode atender nossas orações?” “Por que guardamos o domingo, se o
mandamento bíblico é para guardarmos o sábado e em lugar algum a Bíblia fala em algum tipo de anulação do quarto mandamento
ou de substituição do sétimo dia por qualquer outro dia?” Por quê? Por quê? E
por quê? Eram perguntas realmente sinceras. Eu era um líder na igreja,
presidente de grupo de jovens e membro das pastorais da Juventude e da
Comunicação. Minha intenção não era ofender nem provocar ninguém. Eu realmente
queria saber o que a Bíblia ensina e por que não estávamos vivendo de acordo
com esses ensinamentos. (Clique aqui e conheça um pouco mais da minha difícil
história de conversão à verdade bíblica.)
Meus
estudos e minhas perguntas continuaram, e o incômodo foi se alastrando. Até que
a liderança da paróquia decidiu organizar um curso bíblico, por minha causa.
Para instrutor, convidaram um ex-seminarista e professor de História. Todos
estávamos ansiosos pelo início das aulas – eu mais ainda, afinal, poderia finalmente
esclarecer minhas dúvidas com alguém mais experiente e conhecedor da Palavra de
Deus.
Na
primeira aula, numa quarta-feira à noite de meados de 1991, o professor começou
sua exposição pelo livro de Êxodo, relacionando a história dos hebreus a movimentos
como o dos Sem Terra. A Teologia da Libertação estava no auge e aquele
professor era um legítimo representante dela, vendo em cada parte da Bíblia um
exemplo de luta social. Quando chegou ao relato da saída dos hebreus do Egito e
da passagem deles pelo Mar Vermelho, sua interpretação do texto causou
estranheza até naqueles que não conheciam muito bem a Bíblia nem a estudavam. O
professor simplesmente negou o relato bíblico dizendo que os judeus, na
verdade, não haviam cruzado o mar, mas passado por ele com água talvez pela
cintura, num momento de maré baixa. E foi desconstruindo praticamente todos os
milagres relatados nas páginas sagradas. Levantei a mão algumas vezes, tentando
contestar aquilo, mas foi inútil.
A
turma, que devia ter inicialmente uns 30 ou 40 alunos, aos poucos foi minguando
e o curso teve fim depois de poucas semanas. Nem preciso dizer que fiquei
frustrado, mas, por outro lado, ainda mais motivado a me aprofundar no
conhecimento das Escrituras e na correta exegese dos textos. Depois de dois
anos e meio de pesquisas intensas e muita oração, acabei me tornando adventista
do sétimo dia, por entender – e constatar – que, dentre todas as igrejas que
pesquisei, a Adventista é a que tem as doutrinas verdadeiramente de acordo com
a Bíblia Sagrada.
Por
que estou contando tudo isso? Porque recebi nesta semana um texto interessante
que me fez lembrar da história que narrei acima. Aqui está ele, com algumas
adaptações:
Na
sala de aula, a professora pergunta:
–
Hoje vamos falar sobre milagre. Quem sabe de algum?
–
Eu sei de um milagre, professora – disse um aluno, e ela voltou a perguntar:
–
Qual?
–
A travessia dos israelitas pelo Mar Vermelho.
–
Ora, aquilo não foi milagre! – ela interrompeu. – No lugar onde os
israelitas atravessaram, em certas épocas do ano, a água baixa tanto que fica
reduzida a uma camada de lama na altura dos tornozelos. Atravessar o Mar
Vermelho não foi nenhum milagre.
E,
dirigindo-se à turma, ela voltou a perguntar:
–
Alguém pode citar algum milagre?
O mesmo aluno levantou a mão e disse:
O mesmo aluno levantou a mão e disse:
–
Tenho outro milagre para citar, professora.
–
Qual? – ela perguntou, já com um tom de impaciência. E o menino respondeu:
–
Os exércitos de faraó terem se afogado em uma camada de lama à altura dos
tornozelos.
Michelson Borges