Nas igrejas adventistas, quarta-feira à noite tem culto de oração. Costuma ser uma reunião singela, mas muito significativa, pois os membros da igreja têm a oportunidade de falar a respeito de suas lutas e contar com a oração dos irmãos na fé. Depois ouvem um breve sermão cujo objetivo é animá-los a prosseguir na jornada cristã. Por ser em dia de semana à noite (quando muitos estudam e trabalham), não é dos cultos mais frequentados da semana. Ontem, minha família e eu tivemos uma grata surpresa quando chegamos à igreja que frequentamos num dos bairros de Tatuí. O templo estava completamente lotado, como se fosse o culto de sábado. No entanto, mais da metade dos que ali estavam eram visitantes, pessoas que não conhecíamos. Em pouco tempo, ficamos sabendo o porquê do “fenômeno”.
Depois de breves momentos de oração e de uma bela música apresentada por um casal, tomou a palavra o irmão Geraldo Lopes, membro da nossa igreja. Quem o viu ali, com o microfone na mão, pensamentos claros, de terno e gravata, mal pôde se lembrar de quem era o Geraldo três anos antes. Alcoólatra, ele tinha uma rotina diária que consistia em peregrinar por cinco bares. Praticamente não se relacionava com a esposa e os filhos. Homem bravo, andava armado. Arrastava-se pela vida, sem objetivos, sem planos ou sonhos. O pai dele trabalhou para o jornal O Estado de S. Paulo produzindo palavras cruzadas e estimulando no filho o gosto pela leitura. Geraldo tinha tudo para progredir na vida, mas o vício não deixou.
Geraldo trabalhava como pintor de automóveis e disse em sua pregação: “Eu coloria a vida das pessoas, mas não conseguia trazer cor à minha vida.” Ninguém acreditava que ele pudesse mudar de rumo. Mas Deus nunca desistiu dele. Um dia Geraldo foi convidado para assistir a uma pregação do pastor Antonio Tostes (ex-diretor financeiro da Casa Publicadora Brasileira), numa pequena igreja da cidade. Na ocasião, o pastor contou a história do próprio pai, também alcoólatra e chamado Geraldo. À saída, o pastor disse para o irmão Geraldo: “Eu não pude batizar o meu pai [ele morreu de câncer antes de poder ser batizado], mas vou batizá-lo um dia.”
Aquelas palavras ficaram gravadas na mente de Geraldo e ele aceitou estudar a Bíblia com o irmão Elias Gonzalez, também funcionário da editora adventista. Oito meses depois, no dia 31 de março de 2007, Geraldo foi batizado pelo pastor Antonio Tostes.
No sermão de ontem, ele falou sobre a história de Ana, mãe do profeta Samuel. Ela era estéril, mas nunca desistiu do sonho de ter um filho. E Geraldo, com a autoridade de quem nunca mais colocou um copo de cachaça na boca e se tornou bom pai e esposo, nos disse: “Nunca desista de seus sonhos, pois Deus pode fazer um milagre na sua vida.”
Geraldo foi de casa em casa convidando seus ex-amigos de bar, companheiros dos Alcoólicos Anônimos, parentes e pessoas do bairro. Disse-lhes que queria contar para eles o milagre que Deus operara em sua vida. E as pessoas foram. E ouviram um valentão agora manso chorar ao falar sobre o sacrifício de Jesus; um marido outrora ausente fazer belas declarações de amor à esposa e aos filhos, todos ali, na igreja.
Ontem assistimos a um milagre.
Michelson