A psicóloga americana Andrea Faber Taylor, da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, passou os últimos dez anos de sua vida estudando os impactos do meio ambiente no comportamento das crianças. Ela acaba de concluir uma pesquisa que analisou a influência do contato com a natureza em crianças que sofrem do transtorno de déficit de atenção e têm dificuldades para se manter concentradas. O resultado mostrou que as crianças que têm contato com áreas verdes – seja um passeio num parque ou uma brincadeira no gramado – apresentavam melhores resultados na escola do que as que ficam privadas de ambientes naturais. Segundo a psicóloga, o contato com a natureza permite descansar a atenção que exige mais foco, como a que é usada enquanto estamos trabalhando.
Por que estudar o impacto da natureza no comportamento das crianças?
Nós acreditamos que todo ser humano pode ter a atenção prejudicada pelo excesso de uso. Existem dois tipos de atenção. O primeiro é a atenção direta, que usamos para tarefas como trabalhar, ler e estudar, sem nos distrair. O outro tipo é a atenção periférica, que usamos para perceber o que acontece nos arredores, quando ouvimos um bebê chorar, por exemplo. Ocorre que a atenção direta é um recurso limitado. Podemos perceber isso em momentos da vida em que estamos trabalhando muito e ficamos com dificuldades de concentração. Tínhamos algumas evidências de que a atenção direta era mais facilmente "recarregada" quando entramos em contato com a natureza do que quando realizamos outros tipos de atividade, como assistir à televisão, por exemplo. Resolvemos, então, ver se a presença da natureza tinha impacto no comportamento de crianças com distúrbio de déficit de atenção.
E quais foram os resultados da pesquisa?
Percebemos que a capacidade de aprendizado das crianças que possuem o distúrbio melhora muito quando elas têm contato com a natureza. Não é que elas vão zerar o déficit de atenção, mas melhoram muito.
Por quê?
Porque o contato com a natureza estimula a atenção periférica enquanto a direta descansa. Se estamos vendo a água escorrer por uma cachoeira, também podemos pensar em outras coisas e não precisamos usar a atenção direta.
Como a pesquisa foi conduzida?
No começo, perguntamos aos pais se eles percebiam diferença no desempenho de seus filhos quando eles tinham contato com a natureza. Eles nos diziam que sim, que estudavam melhor depois de passeios em áreas verdes. Depois analisamos um grupo de crianças que caminhava em parques depois das aulas e também fazia atividades ao ar livre. Daí pudemos extrair uma estatística de que os sintomas do déficit de atenção diminuíram entre esse grupo. Num terceiro momento observamos crianças que estudavam em espaços verdes, ao ar livre. Observamos que elas tinham um desempenho melhor do que as que estudavam dentro da sala de aula.
Existem estudos que medem os impactos na atenção dos adultos ou crianças que não têm déficit de atenção?
Há evidências de que qualquer um pode se beneficiar do contato com o verde. O que é interessante é a maneira como esse contato é mensurado. Para ter benefícios de concentração não é preciso fazer uma imersão em uma floresta. Passear por um jardim, em uma praça pode ser suficiente. É importante que esse lugar nos permita refletir e não pensar naquilo que estamos vendo. Isso acontece quando vemos uma flor bonita, um pássaro, uma fogueira. É por esse motivo que a televisão não é um bom restaurador da atenção. Ela não nos permite refletir. Também é importante que as condições sejam favoráveis. Se estiver muito frio, ou chovendo, um passeio em um parque não será vantajoso do ponto de vista da atenção porque o indivíduo estará preocupado em resolver um problema.
A falta da natureza pode levar as pessoas comuns a ter problemas de atenção?
Não há evidência científica para isso. Mas certamente as pessoas que não têm contato com a natureza pagam um preço por isso.
Que tipo de recomendação você dá aos pais de crianças que moram em grandes cidades e que têm pouca área verde?
Recomendo que os pais reavaliem a maneira como eles gastam seu tempo de lazer e tentem fazer atividades ao ar livre com seus filhos. Também é interessante fazer alguns percursos a pé com as crianças em ruas arborizadas, deixar o carro em casa. São pequenas coisas que fazem a diferença. Cada um pode testar o que é mais fácil e que dá mais resultado om seus filhos. É só prestar atenção.
(Época)