Deu no jornal luterano O Caminho: “Em suas anotações de 1837, Darwin desenha uma árvore genealógica da vida, na qual as espécies se bifurcam cada vez mais, desenvolvendo-se ou extinguindo-se. As de melhor adaptação sobrevivem e as outras desaparecem. ‘Ao concluir que uma espécie pode transformar-se em outra, todo o prédio balançou e desabou’, anotou ele. Assim, acabava de descobrir que sua teoria se choca com aquela defendida pela igreja. (...) Ainda hoje sua [de Darwin] teoria é vista por muitos como avançada demais para ser aceita. Entretanto, sua pesquisa não contradiz a Bíblia ou confronta a ideia de Deus criador. Antes, enriquece-a e a complementa. O papel da teologia é fundamentar a confissão de que Deus criou todas as coisas e não se ocupa da descrição de como isso aconteceu. Por isso, é possível ver na teoria da evolução das espécies a presença permanente do ato criador de Deus ao longo de milhões de anos.
“Milhões de anos? Sim, porque a teoria de que somente seis mil anos nos separam de Adão não encontra mais fundamento científico algum. A paleontologia descobre cada vez mais evidências da presença humana há mais de 200 mil anos, enquanto se sabe que os dinossauros viveram na terra há milhões de anos.
“A Bíblia é o livro da fé e não um compêndio de ciências naturais. Gênesis foi escrito há 3,8 mil anos, sem que seu autor tivesse à mão os modernos meios científicos de pesquisa. Se tivesse, ele produziria um texto ainda mais espetacular para dizer que Deus criou tudo.
“Após ruidosos embates, nas últimas décadas a igreja cristã não vê contradição entre a fé na criação divida e a teoria da evolução, distanciando-se conscientemente dos criacionistas. A teoria de Darwin é saudada como uma visão bem-fundamentada da vida sobre a Terra.
“A fé em Deus e as ciências naturais, portanto, não se excluem. Antes, se complementam e devem dialogar entre si. A igreja deve combater uma corrente radical de naturalistas que contrapõem a teoria de Darwin como fundamento para uma nova forma de ateísmo, o que nem o próprio Darwin defendia. Ao mesmo tempo, deve opor-se aos que usam o relato da Criação como única descrição aceitável da criação divina.”
Nota: Com amigos assim, quem precisa de inimigos? Na verdade, existe variação dentro de tipos básicos, conforme notou Darwin no caso dos Tentilhões das ilhas Galápagos. Mas dizer que uma espécie pode se transformar em outra a tal ponto de se poder desenhar uma “árvore da vida” com um ancestral comum a todas as espécies, isso é extrapolação anticientífica. Infelizmente, muitos religiosos não percebem que Darwin “acertou no varejo (microevolução), mas errou no atacado (macroevolução)” e abraçam todo o pacote darwinista como se esse modelo pudesse ser integralmente amalgamado com sua visão de cristianismo. Essa é uma mistura impossível, como já demonstrei aqui. Antes de mais nada, esses cristãos precisam abdicar do método gramático-histórico de interpretação bíblica para abraçar a alegorização dentro de uma visão liberal das Escrituras. Luteranos, católicos e outros cristãos que vão por esse caminho negam a visão do próprio Jesus, para quem Adão e Eva são personagens históricos. Negam também o relato da Queda, a partir da qual teve origem o pecado, a morte e a degeneração neste planeta. Chamam-se de cristãos, mas negam a própria base teológica do cristianismo.[MB]