Quando
era apenas um bebê, Carolina Ferreira viveu o seu primeiro grande trauma: a
separação de seus pais, após uma traição. “Esse assunto marcou profundamente a
minha vida. Minha personalidade foi, em grande parte, influenciada pela
experiência vivida por minha mãe. O meu pai a traiu com a melhor amiga dela”,
desabafa Carolina. Por essa razão, ela não costuma assistir a novelas e
discorda da forma que o adultério é representado nas tramas. “Com essa
representação tão superficial e banal do adultério na TV, a lealdade – em
qualquer tipo de relação – tem ficado cada vez mais rara.” As
novelas da TV Globo que estão em exibição atualmente têm estórias de adultério.
Em “Flor do Caribe”, Ester (Grazi Massafera) trai o marido Alberto (Igor
Rickli), após descobrir que este forjou o desaparecimento do noivo dela,
Cassiano (Henri Castelli). Em “Sangue Bom”, os protagonistas dos casos de
adultério são personagens de caráter duvidoso, como Bárbara Ellen (Giulia Gam)
e Natan (Bruno Garcia). Já em “Amor à Vida”, a personagem de Vanessa Giácomo,
Aline, faz de tudo para seduzir o rico Dr. César (Antônio Fagundes).
Para
o professor e psicólogo Claudio Paixão, as representações que se repetem nas
telenovelas são simplificadas. “Como na maioria das narrativas feitas para as
grandes massas, as representações do adultério ‘teledramático’ são bastante
esquemáticas. Muitas vezes, a imagem do adultério oscila entre a justificação
da traição pela conduta ‘errada’ (irritante, obsessiva, ciumenta, negativa, etc.)
da ‘parte traída’, ou, de outro modo, pela vilania ou ‘mau caratismo’ da parte ‘traidora’.”
Entre
pesquisadores e interessados em novelas, a discussão é comum e há quem defenda
que o adultério não deve aparecer nos folhetins, mesmo sendo um fenômeno real e
recorrente na sociedade. “Esse é um fato comprovado por inúmeras pesquisas
dentro e fora do país. Homens traem, mulheres traem. E o fazem por motivos
diversos que vão dos impulsos biológicos mais atávicos (que muitas vezes fogem
das convenções sociais) até a percepção não assumida de que o relacionamento se
tornou estreito para um ou dois dos parceiros e que a traição é, muitas vezes,
a busca por um novo espaço, por oxigênio, em uma relação
sufocada que os parceiros insistem em sustentar, mas pouco se dispõem a mudar”,
confirma o psicólogo.
Nota:
O mais surpreendente é ver pessoas que, muito embora discordem teoricamente dos
(anti)valores apresentados nas novelas, perdem tempo diariamente assistindo a
esse tipo de produção. Esquecem-se do que disse Joseph Goebbels: “Uma mentira
repetida mil vezes torna-se uma verdade.” Que verdade você quer para viver?[MB]