quinta-feira, julho 18, 2013

Fé, oração, estilo de vida e cura

A fé e o estilo de vida têm tanto efeito na saúde cardiovascular que ganharam duas mesas redondas no 68º Congresso Brasileiro de Cardiologia, no Rio de Janeiro, em setembro. A aceitação da doença e a crença de ter que enfrentá-la como parte de um plano maior é observada pelos médicos como fator positivo em pacientes religiosos, praticantes ou não. “A gente não aprende isso na faculdade, mas eu vejo muito nas UTIs coronarianas pacientes graves que, com fé, enfrentam a doença com muita determinação”, conta o médico Roberto Esporcatte, da Sociedade de Cardiologia do Rio. Não há estudos científicos definitivos sobre o poder da prece, é difícil documentar o índice de mortes de pessoas mais ou menos religiosas, mas até agora, o que se sabe é que a crença em um poder superior tem ação benéfica na qualidade de vida dos pacientes.

“Em relação ao bem-estar, pacientes que têm uma espiritualidade em tratamento costumam apresentar pressão arterial melhor, melhores taxas, menos calcificação coronariana, mas isso é uma dedução”, explica o cardiologista. “Essa ponte entre a formação ortodoxa e a vida religiosa dos pacientes será tratada no congresso, porque por mais que se estudem novos medicamentos não se sabe por que alguns respondem a eles e outros não.”

No tratamento de tumores há uma comprovação de alteração cognitiva de 40% relacionada à quimioterapia, em mulheres que sobreviveram ao câncer de mama. Mas nas que praticam ioga essa alteração é menor, segundo a Mônica Klemz, do Centro Oncológico de Niterói. Pode ter a ver com o exercício, com os mantras, com a respiração, com a meditação durante as aulas ou com o conjunto desses fatores.

“É difícil definir e medir a fé das pessoas. Até agora nos estudos não há aumento de sobrevida em religiosos, a não ser nos adventistas do sétimo dia, mas neste caso é relacionado a uma vida mais regrada praticada por quem é dessa religião”, observa a oncologista.

Mônica alerta para resultados conflitantes em relação ao tema, já que a situação de doença quando vista como punição pode atrapalhar a recuperação do paciente. Mas ela conta que em reuniões com pacientes oncológicos a figura de um padre ou religioso costuma emocionar. “Em geral, quando há uma prece, a equipe médica e os pacientes se emocionam, acho que porque a gente lembra da fé na recuperação.”