A
fé e o estilo de vida têm tanto efeito na saúde cardiovascular que ganharam
duas mesas redondas no 68º Congresso Brasileiro de Cardiologia, no Rio de
Janeiro, em setembro. A aceitação da doença e a crença de ter que enfrentá-la
como parte de um plano maior é observada pelos médicos como fator positivo em
pacientes religiosos, praticantes ou não. “A gente não aprende isso na
faculdade, mas eu vejo muito nas UTIs coronarianas pacientes graves que, com
fé, enfrentam a doença com muita determinação”, conta o médico Roberto
Esporcatte, da Sociedade de Cardiologia do Rio. Não
há estudos científicos definitivos sobre o poder da prece, é difícil documentar
o índice de mortes de pessoas mais ou menos religiosas, mas até agora, o que se
sabe é que a crença em um poder superior
tem ação benéfica na qualidade de vida dos pacientes.
“Em
relação ao bem-estar, pacientes que têm uma espiritualidade em tratamento
costumam apresentar pressão arterial melhor, melhores taxas, menos calcificação
coronariana, mas isso é uma dedução”, explica o cardiologista. “Essa ponte
entre a formação ortodoxa e a vida religiosa dos pacientes será tratada no
congresso, porque por mais que se estudem novos medicamentos não se sabe por que
alguns respondem a eles e outros não.”
No
tratamento de tumores há uma comprovação de alteração cognitiva de 40%
relacionada à quimioterapia, em mulheres que sobreviveram ao câncer de mama.
Mas nas que praticam ioga essa alteração é menor, segundo a Mônica Klemz, do
Centro Oncológico de Niterói. Pode ter a ver com o exercício, com os mantras,
com a respiração, com a meditação durante as aulas ou com o conjunto desses
fatores.
“É
difícil definir e medir a fé das pessoas. Até agora nos estudos não há aumento
de sobrevida em religiosos, a não ser
nos adventistas do sétimo dia, mas neste caso é relacionado a uma vida mais
regrada praticada por quem é dessa religião”, observa a oncologista.
Mônica
alerta para resultados conflitantes em relação ao tema, já que a situação de
doença quando vista como punição pode atrapalhar a recuperação do paciente. Mas
ela conta que em reuniões com pacientes oncológicos a figura de um padre ou
religioso costuma emocionar. “Em geral, quando há uma prece, a equipe médica e
os pacientes se emocionam, acho que porque a gente lembra da fé na recuperação.”
(O Globo)