Nessa
busca, não é coincidência que a crença religiosa funcione como uma bússola para
tantas pessoas. Como explicar a origem do Universo? Ou da vida? Ou por que
temos uma mente capaz de refletir sobre essas questões complexas?
Tais
questões são, hoje, parte da pesquisa científica de ponta. Vivemos numa época
peculiar, em que o que antes era província exclusiva da religião faz parte do
discurso rotineiro da ciência. Porém, por não termos ainda respostas, essas
questões continuam nos assombrando.
Talvez
um dos dilemas da humanidade seja a angústia de poder contemplar o divino sem
sê-lo. Temos a capacidade de imaginar a perfeição [como, se somos imperfeitos?],
a ausência de dor, a imortalidade [que vantagem evolutiva existe nesse desejo
pelo transcendente?]; mas, tirando a ficção e a fé, não temos como transcender
nossa realidade carnal, os limites temporais e espaciais. Ou será que temos?
Considerando
que a ciência moderna tem apenas quatro séculos (marcando seu início com Kepler
e Galileu), e percebendo o quanto já fizemos em tão curto prazo, imagine o que
nos espera em mil anos? Ou 10 mil anos, se, claro, não nos destruirmos antes
disso [mais um exercício de futurologia?]. A
ciência nos permite já uma manipulação dos genes de criaturas, a ponto de
podermos modificar o que comemos e mesmo alcançar curas diversas.
Extrapolando
a expansão tecnológica para o futuro, alguns afirmam que, em algumas décadas,
chegaremos a um ponto em que nossa hibridização com máquinas será tão profunda
que não poderemos mais nos dissociar delas. Caso essas previsões se concretizem
- e, a meu ver, já estão ocorrendo -, seremos, como escrevi aqui recentemente,
uma nova espécie, além do humano.
Agora
imagine que, tal como nós, outras criaturas inteligentes em algum canto da
galáxia descobriram a ciência. Só que o fizeram, digamos, um milhão de anos antes
de nós, o que em termos cósmicos não é nada. Essas criaturas teriam se
transformado completamente ao se hibridizar com máquinas [por que elas teriam
que depender de máquinas, como nós?]. Seriam, talvez, apenas informação,
existindo em campos energéticos no espaço.
Teriam
o poder de criar vida, escolhendo suas propriedades [ah, sim, esses ETs podem,
Yahweh, não!]. Poderiam, por exemplo, ter nos criado, ou a alguns de nossos
antepassados, como parte de um experimento. Poderiam, por exemplo, estar nos
observando, como nós observamos animais no zoológico ou no laboratório. Essas
entidades imateriais, mas existentes, seriam nossos criadores. Seriam eles
deuses, mesmo se não sobrenaturais? [Gleiser prefere acreditar em seres
imaginários imateriais a crer num Deus que Se define como “espírito”.]
(Marcelo Gleiser, Folha de S. Paulo)
Nota:
Textos como esse me mostram que a única tentativa de substituição da boa
teologia somente pode ser provida pela imaginação, já que a ciência se limita
ao natural, nada podendo dizer a respeito do sobrenatural – e a Causa primeira
não causada, que deu origem ao tempo, ao espaço e à matéria, só pode ser
definida como sobrenatural. Gleiser
diz que “um teorema e um poema são reflexões do possível, seja o concreto ou o
onírico. A imaginação lança mão de todos os recursos à sua disposição para dar
sentido à existência”. Não creio que a imaginação dê sentido à existência. A
imaginação, naturalmente, “viaja” muito, e prefiro mais “substância” sobre a
qual fundamentar o sentido da minha existência. Note que mesmo o ateu Marcelo Gleiser não consegue conceber a ideia de origem da vida
por acaso e escolhe deuses ETs (será que ele quer “ressuscitar” Von Daniken?).
Advoga o design inteligente (quase
sem querer), mas foge do Deus bíblico, muito mais razoável. Será que os “deuses
ETs” teriam sido criados por outros ETs milhões de anos antes, e estes por
outros ETs, num processo quase infinito? E quem teria criado a primeira raça
criadora? Pra falar a verdade, essa historinha do Gleiser já foi explorada em
filmes de ficção que qualquer trekker
poderia recordar. E, finalmente, o paradoxo: criacionistas não têm espaço na
mídia para falar de assuntos sérios, mas o físico pop tem uma coluna no maior jornal do país para falar de temas que
mais parecem roteiro de filmes de ficção trash.[MB]
Leia também: "Marcelo Gleiser e a origem da vida", "Marcelo Gleiser recebe o livro Por Que Creio", "Marcelo Gleiser chega perto, mas tapa os olhos", "Gleiser chutou o balde", "Atos falhos de um ateu" e "O verdadeiro Senhor do Universo"
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