Você
já deve ter ouvido falar, ou talvez lido em seus livros de Química, que os “pesos
atômicos são constantes imutáveis da natureza”. Nada poderia estar mais longe
da verdade. Na realidade, o peso atômico de alguns elementos varia dependendo
de onde você está na Terra. A maior parte da massa de um átomo reside em seu
núcleo, composto de prótons e nêutrons (com a exceção do hidrogênio, cujo
núcleo é constituído por um único próton). O número de prótons no núcleo
determina com qual átomo você está lidando: todos os átomos de carbono têm seis
prótons, todos os átomos de oxigênio têm oito, e assim por diante. Mas o número
de nêutrons pode variar entre átomos do mesmo elemento – átomos do mesmo
elemento, mas com diferentes números de nêutrons, são chamados isótopos.
Agora,
os guardiões da Tabela Periódica - a União Internacional de Química Pura e
Aplicada (IUPAC) - decidiram que os pesos atômicos do bromo e do magnésio não
serão mais representados por um número, mas por um intervalo. O peso atômico do
bromo mudou de 79,904 para o intervalo [79,901 a 79,907]. O peso atômico do
magnésio, por sua vez, antigamente era 24,3050 - agora ele é representado pelo
intervalo [24,304 a 24,307]. Pode parecer pouco, mas é uma mudança radical em
relação a visões tradicionais do tipo “constante imutável da natureza”.
E
por que essa mudança? Todos os elementos têm certo número de isótopos
instáveis, que se “quebram” através de um processo chamado decaimento
radioativo. Mas alguns elementos têm também mais do que um isótopo estável. É
aí que os químicos começam a ter problemas quando querem definir o peso
atômico.
O
bromo, por exemplo, tem dois isótopos estáveis que ocorrem na Terra em
quantidades semelhantes. Mas os dois não estão igualmente dispersos: por
exemplo, o isótopo mais pesado do bromo é ligeiramente mais comum na água do
mar e nos sais do que nas substâncias orgânicas.
O
magnésio se comporta de forma semelhante: existem três isótopos estáveis desse
metal, e eles variam ligeiramente em abundância em diferentes ambientes. Isso
significa que o peso médio de um átomo de bromo ou de magnésio nesses
diferentes ambientes também varia. Daí a necessidade da mudança - dependendo da
situação onde a medição for feita, resultados diferentes poderão estar
igualmente corretos.
E
já que estavam com a mão na massa, os químicos da IUPAC aproveitaram a
oportunidade para ajustar os pesos atômicos de mais três elementos: germânio,
índio e mercúrio.
E
não espere que a Tabela Periódica fique estável por muito tempo. Foram
necessários 150 anos para que as propriedades dos elementos químicos sofressem
a primeira modificação - a Tabela Periódica foi corrigida pela primeira vez na
história em 2010. Agora, menos de três anos depois, já veio a segunda
modificação. Ou seja, talvez seja uma boa ideia olhar a “versão da Tabela
Periódica” da próxima vez que você precisar consultar uma.
Nota:
Desde que deixei o ensino médio (no meu tempo era segundo grau) para trás, muitas “verdades” científicas têm caído
por terra. Uma delas (recentemente publicada aqui no blog) era aquela segundo a qual neurônios não se
regeneravam. Quando fiz meu curso técnico de Química, a Tabela Periódica era
nossa “amiga” de todos os dias e, de fato, tínhamos a impressão de que os dados
ali registrados eram “intocáveis”, imutáveis. Nova mudança paradigmática. Mas revisões
baseadas em fatos e pesquisa empírica são sempre bem-vindas na ciência, afinal,
acabam aproximando os modelos da realidade. Pena que outras áreas da ciência
(muito mais “contaminadas” por conceitos filosóficos como o naturalismo) acabem
sendo bem mais “blindadas” contra revisões...[MB]