Os
números da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que aconteceu no Rio de
Janeiro, são prova de que a religião tem o poder de mobilizar milhões de
pessoas: por dia,1,5 milhão de fiéis devem passar [na verdade, já passaram] pela
cidade para participar do evento. E esse fenômeno não é exclusividade do
catolicismo. 80% da população mundial é adepta de alguma religião. Por
que, então, não transformar essa fé em uma poderosa aliada do meio ambiente? Esse
é o trabalho que o WWF - enquanto parceiro da Aliança de Religiões e
Conservação (ARC) - está fazendo ao redor do mundo por meio do programa Terra Sagrada. “Acreditamos que não
vamos conseguir um mundo melhor, mais justo e sustentável, se ficarmos exclusivamente
falando para nós mesmos. Precisamos conversar com milhões, bilhões, movimentar a sociedade toda. Se existem
entidades que conseguem essa mobilização e carecem do conhecimento em
conservação ambiental que temos, por que não unir forças?”, defende Cláudio
Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, do WWF.
A instituição atua com
diferentes lideranças religiosas, em diversas partes do planeta,
de acordo com as necessidades de cada local. No Himalaia, por exemplo, onde o
trabalho do WWF já está mais desenvolvido, vários monastérios budistas estão
implantando programas de reflorestamento e incentivo às energias alternativas.
Na África oriental, a rede dialoga com líderes de religiões tradicionais e,
também, da Igreja Católica, para criar ações de combate à matança e ao tráfico
ilegal de animais. Já nos EUA, a conversa é com representantes do
protestantismo e catolicismo, sobretudo para discutir mudanças climáticas, assunto em que a “nação do Tio Sam” é
peça-chave no cenário mundial.
“Cada
religião tem uma maneira diferente de se relacionar com a natureza, mas há um
ponto em comum: todas as crenças moralmente defensáveis, ou seja, aquelas que
não são cultos satânicos ou coisas do tipo, têm uma visão positiva do meio
ambiente”, diz Maretti. “Os católicos, por exemplo, defendem que ao homem foi
dado o dom e a tarefa de viver na Terra e cuidar da criação divina. Para
sobreviver, precisamos da natureza, mas o papa Francisco diz que a tarefa não
pode se sobrepor ao dom. Ou seja, que a extração dos recursos naturais não deve
se sobrepor à capacidade de amá-la e respeitá-la”, explica o especialista em
conservação ambiental.
Por
sua popularidade na América do Sul, a Igreja
Católica uniu forças com o WWF para defender a preservação da Amazônia. “O
diálogo começou há cerca de um ano e meio, já pensando na Jornada Mundial da
Juventude. Ainda estamos dando os primeiros passos nessa parceria, mas já
estamos vendo resultados muito positivos”, conta Maretti.
A
organização participou de dois eventos, durante a JMJ, para debater a relação
entre fé e conservação ambiental. Em um deles, inclusive, jovens de vários
lugares do mundo apresentaram um manifesto pela sustentabilidade. “A principal
conclusão desses encontros foi que é responsabilidade do homem cuidar do meio
ambiente, como parte da criação divina, assim como assegurar uma natureza sã
que garanta que as futuras gerações também tenham a opção de investir no
desenvolvimento sustentável. Enfim, conclui-se que o futuro que queremos
depende da Amazônia que conseguiremos preservar”, afirma Maretti.
Bento XVI já
demonstrava apreço pelas questões da sustentabilidade e costumava tuitar a
respeito das mudanças climáticas. A expectativa é de que o papa Francisco
continue esse trabalho e vá além. Os motivos? “Além de
ser latino-americano e, portanto, entender melhor a importância da Amazônia e a
necessidade de preservá-la, o papa Francisco já mostrou que é o Papa dos Pobres
e sabemos que o combate às mudanças climáticas é ainda mais importante para
essas pessoas. Aqueles que têm menos condições serão os que sofrerão primeiro e
com mais intensidade os efeitos de toda essa bagunça climática que estamos
vivendo”, explica Maretti.
Ciente
do carisma e do poder de mobilização do pontífice, o WWF está fazendo campanha
para que ele transmita uma mensagem sobre a Amazônia. O papa Francisco ainda
não se pronunciou sobre o assunto, mas Maretti não se abala. “Em comunicados
anteriores, o papa já falou sobre natureza em uma linguagem muito concordante
com o WWF. Eu gostaria que ele mencionasse meio ambiente e, eventualmente,
Amazônia, mas, se ele achar que não é o momento adequado para isso, vamos
entender. Até porque esse não é o único esforço que estamos fazendo nesse
evento e já colhemos resultados muito positivos”, diz Maretti. Ele explica: “O
mais importante é construir lideranças intermediárias, em diferentes setores,
para que a bandeira da conservação ambiental siga sendo carregada. Nesse
sentido, os debates de que participamos na Jornada foram um sucesso.”
(Info)
Nota:
É bom não nos esquecermos de que uma das propostas ECOmênicas para “salvamento
do planeta” é a observância do domingo como dia sagrado/de descanso. Nisso,
todos (ou quase todos) estarão de acordo. (Leia mais sobre ECOmenismo clicando no marcador abaixo.)[MB]