Às
23h de um dia de semana, com seus trabalhos terminados, uma caloura na
Universidade da Pensilvânia fez o que costuma fazer quando tem algum tempo
livre: mandou uma mensagem de texto para um cara com quem ela dorme
frequentemente, mas sem namoro. Ele apareceu, eles viram um pouco de TV,
fizeram sexo e foram dormir. O relacionamento, ela diz, não tem nada de “almas
gêmeas”. E ela não reclama da falta da cortesia por parte dos homens, ou que
eles não querem compromisso. “Não posso ter um relacionamento romântico e
significativo agora porque estou sempre muito ocupada e as pessoas que me
interessam também estão sempre ocupadas”, ela diz. “Há tantas coisas
importantes acontecendo na minha vida que não quero abrir um tempo para o amor.
Quando estou sóbria, estou trabalhando”, completa a estudante que pediu
anonimato.
Está
cada vez mais claro que os tradicionais namoros na época da faculdade quase
acabaram, substituídos pelo chamado hookin
up, um termo ambíguo que pode significar quase qualquer coisa, de uns
amassos a sexo, sem os laços emocionais de um relacionamento.
Até
recentemente, os estudiosos do comportamento acreditavam que a mudança era
iniciativa dos homens, e que as mulheres estavam mais interessadas em romance
do que em encontros sexuais casuais. Mas cada vez mais percebe-se que as jovens
também querem esse tipo de relação.
Hanna
Rosin, em seu livro The End of Men (O
fim dos homens, em tradução livre), argumenta que o hooking up é uma estratégia funcional para as mulheres ambiciosas,
permitindo que desfrutem de uma vida sexual enquanto focam a maior parte de sua
energia em objetivos acadêmicos ou profissionais.
Mas há outros que discordam, como Susan Patton, ex-aluna de Princeton e mãe de dois jovens, que recentemente enviou uma carta ao jornal da universidade falando que as jovens não devem perder a chance de procurar por um marido no campus. Segundo ela, tirar a ênfase dos relacionamentos durante a faculdade trabalha contra as mulheres.
Mas há outros que discordam, como Susan Patton, ex-aluna de Princeton e mãe de dois jovens, que recentemente enviou uma carta ao jornal da universidade falando que as jovens não devem perder a chance de procurar por um marido no campus. Segundo ela, tirar a ênfase dos relacionamentos durante a faculdade trabalha contra as mulheres.
“Para
a maioria, a felicidade futura estará ligada ao homem com quem se casarem. E
vocês nunca mais vão encontrar essa concentração de homens interessantes”,
aconselha. Susan diz que decidiu escrever o texto depois de uma conversa com
universitárias, quando perguntou quantas queriam se casar e ter filhos e elas
ficaram constrangidas, mas quase todos ergueram as mãos. “Essas mulheres
brilhantes têm vergonha de dizer que casar e ter filhos é uma parte importante
da vida delas.”
Como
as entrevistas com mais de 60 jovens na Universidade da Pensilvânia sugerem, a
discussão é central na vida de uma geração de mulheres que têm a sua frente
grandes oportunidades e forte pressão, talvez como nunca antes, algo que está
formando uma visão diferente sobre sexo e relacionamentos na faculdade.
As
universidades americanas de elite, hoje, estão repletas de jovens mulheres que
aspiram a se tornar doutoras, advogadas, políticas, banqueiras, ou executivas
como Sherly Sandberg do Facebook ou Marissa Mayer do Yahoo. Preocupadas em
conseguir alguma vantagem competitiva, especialmente numa época de economia
vacilante, muitas veem a faculdade como uma corrida para adquirir as melhores
credenciais: notas altas, posição de liderança em organizações estudantis,
estágios disputados. O tempo fora da sala da aula está tomado por outras
atividades.
Essas
mulheres dizem que construir um bom currículo, e não encontrar namorados (nem
se fala em maridos), é sua tarefa principal durante a faculdade. Elas imaginam
seus 20 anos como um período de esforço sem impedimentos, época em que poderão
trabalhar por um ano em um banco em Hong Kong, voltar a estudar, então entrar
no mundo corporativo de Nova York, etc. Para elas, é difícil se imaginarem
engatadas num relacionamento durante tantas possíveis transições. Quase todas
dizem que não planejam se casar até chegarem próximo de completar 30 anos, ou
depois.
Nesse
contexto, algumas mulheres aproveitam a oportunidade de ter relacionamentos
sexuais sem envolvimento emocional. Ainda assim, por acreditarem que falar
abertamente sobre isso pode lhes prejudicar – seja por temer a opinião da
família, receio de ficar com reputação ruim na universidade, ou ainda
acreditarem que o assunto possa atrapalhar o futuro profissional – elas só dão
entrevistas em condição de anonimato.
(Delas)
Nota:
O fato de se casarem bem mais tarde e de manterem múltiplas experiências
sexuais antes disso pode até garantir a esses jovens prazer momentâneo e uma
boa carreira, mas não satisfação a longo prazo e um matrimônio feliz – e, no
fim das contas, ninguém vive apenas de realização profissional. Não existe
relacionamento sexual sem envolvimento emocional, por mais que se queira negar
isso (confira aqui). As “marcas” ficam, e frequentemente acompanham as pessoas
por toda a vida. O “namoro tradicional” era uma oportunidade de conhecer melhor
o/a pretendente a casamento, numa relação sadia de amizade e respeito. Se isso
está desaparecendo, o futuro das famílias também fica seriamente ameaçado.[MB]