Quando
a cristianização da Inglaterra anglo-saxã começou, por volta do ano 600,
predominavam nas ilhas diferentes formas de paganismo (adoração dos espíritos
da natureza), incluindo o ensinamento dos druidas (feiticeiros da cultura
celta). Os primeiros cristãos ensinavam que isso não passava de “cerimônias
satânicas” e deveriam ser abandonadas. Embora nunca totalmente extintas da
cultura inglesa, as práticas pagãs agora parecem ter reencontrado seu caminho
justamente no seio da igreja cristã. A Igreja da Inglaterra, também conhecida
como Anglicana ou Episcopal, está tentando reunir no mesmo culto, cristãos,
pagãos e todas as pessoas que tenham interesse nas coisas espirituais. Esse
seria um novo esforço para estancar a constante perda de membros de suas
congregações.
A
liderança da denominação está fazendo treinamento para ensinar os pastores e
bispos a “criar uma igreja pagã onde o cristianismo está no centro”, segundo o
jornal The Telegraph. Embora não
explique como isso seria feito, o objetivo seria tentar criar novas formas de
cultuar a Deus, “mais adequadas para as pessoas de crenças alternativas”.
O
reverendo Steve Hollinghurst, teólogo e pesquisador de novos movimentos
religiosos, disse que a intenção é “formular uma exploração da fé cristã, que
estaria de acordo com a cultura local”. Para ele, a questão é simples: a
Grã-Bretanha não é mais um país cristão, mas a espiritualidade é parte da vida
de muitas pessoas.
“Minha
jornada espiritual começou na adolescência, quando explorei todos os tipos de
religiões e espiritualidades alternativas antes de escolher o cristianismo como
o meu caminho. Se Deus fez-Se homem em Jesus não somente para Se relacionar com
seres humanos, mas também para transformar a criação, então o cristianismo deve
ser relevante para todas as pessoas”, acrescenta. “Mas como essa conexão
pode ser feita quando, para muitos, ele [cristianismo] é visto como uma
religião antiga e ultrapassada? Só posso dizer que gosto de um bom desafio!”
A
Church Mission Society, órgão da denominação que cuida do treinamento de
ministros explica que deseja “abrir novos caminhos”, e com isso espera ver
todas as pessoas com interesse nas questões spirituais “alinhar-se com o
cristianismo”. Andrea Campenale, um dos responsáveis pelo programa, justifica:
“Hoje em dia as pessoas querem sentir alguma coisa, desejam ter alguma nova
experiência... Vivemos em uma Inglaterra onde há um foco muito
individualista. Acho que com isso poderemos iniciar outro diálogo com a
sociedade.”
O
famoso monumento de Stonehenge, cuja origem antecede a Cristo, reúne
regularmente pagãos e druidas para cerimônias de culto à natureza e aos astros.
Mais de 20 mil pessoas se reuniram no local neste ano para celebrar o
solstício, a chegada do verão no hemisfério norte. Isso mostra a força do
movimento em uma sociedade considerada pós-cristã.
O
Reino Unido é a nação europeia onde o islamismo tem uma das maiores taxas de
crescimento e o movimento neoateista de Richard Dawkins está cada vez mais
popular. Uma recente pesquisa do Instituto YouGov aponta que apenas 25% das
pessoas da Geração Y (com menos de 35 anos) dizem crer em Deus, enquanto 38%
declaram não crer. Apenas 10% delas participam de um culto religioso pelo menos
uma vez por mês. Além disso, 41% dos entrevistados acreditam que a religião
causava mais mal do que bem ao mundo. Apenas 13% deles são filiados à Igreja da
Inglaterra.
(Gospel Prime, com
informações de WND e Telegraph)
Nota 1:
Quando o cristianismo perde o sabor (o sal, na metáfora de Jesus) e a
relevância, o que sobra? Isso aí que estamos vendo na Inglaterra. Os anglicanos
há um bom tempo se divorciaram da Palavra de Deus, adotando uma religião
tradicionalista com teologia liberal e evolucionista. Apenas têm nome de
cristãos. Faz tempo que essa e outras religiões não mais consideram literais os
relatos da criação, do dilúvio, da queda e dos milagres. E se esses relatos não
são reais, a própria redenção efetuada por Jesus na cruz perde seu significado
e o âmago do cristianismo (incluindo aí a ressurreição, o ministério de Cristo
no santuário celestial e a segunda vinda dEle) é esvaziado de significado. Para
eles, Jesus não é a verdade e o
cristianismo é tão-somente mais uma forma de viver a espiritualidade, essa,
sim, a coisa mais importante. Se a espiritualidade e a experiência pessoal com
o Divino (seja ele/ela quem e o que for) é o que mais importa e não a
Revelação, toda e qualquer expressão da espiritualidade passa a ser aceita
(mesmo as antibíblicas, como a feitiçaria), numa perfeita aplicação do pensamento
pós-moderno e relativista. E que não pensem estar imunes as igrejas que ainda
creem na Revelação e na Palavra de Deus como regra de fé e prática. À medida
que diminui a fé no fator normatizante das Escrituras, mais e mais a cultura (com
seus aspectos positivos e negativos) vai se sobrepondo ao princípios bíblicos.
Haja vista a aceitação crescente de estilos musicais incompatíveis com o louvor, como é o caso do rock, do samba, do rap e
outros, para citar apenas um exemplo de “aculturação” negativa. É o gosto do
adorador predominando sobre a orientação do Adorado. O exemplo da Inglaterra
está aí como um sinal de alerta e um aviso de quão longe se pode ir quando a
teologia que abraçamos perde sua força. É a ponta de um iceberg previsto por Jesus, segundo o qual a fé verdadeira seria
artigo raro pouco antes de Sua vinda (Lc 18:8). [MB]
Nota 2: Os pagãos sempre adoraram o Sol (cujo dia de culto é o domingo) e a natureza (divinizam a criação). Os feiticeiros invocam os "mortos" e lidam com o ocultismo. A Bíblia nos conclama a adorar unicamente o Criador (Ap 14:6, 7) e enaltecer o dia que comemora a criação, o santo sábado (Êx 20:8-11), e nos orienta a ficar longe da feitiçaria (Dt 18:10-12), pois os mortos não têm parte no que se faz neste mundo (Ec 9:5, 6). Esses espíritos são, na verdade, anjos caídos que se fazem passar por entes desencarnados. Você percebe a contradição que há entre uma coisa e outra? E percebe a jogada de mestre de Satanás, ao juntar as duas coisas? Evidentemente que quem se opuser a um movimento ecumênico dessa natureza, com fins aparentemente tão nobres, e reivindicar a autoridade máxima das Escrituras será acusado de fundamentalista. Mas isso já era de se esperar. [MB]