Na
seção de cartas da revista Superinteressante
deste mês foi publicada a opinião do leitor Walmir: “Sou assinante e gostaria
muito de manifestar minha insatisfação com a posição desta revista em defender
a ideia (sem nenhuma prova) de que o homem tenha vindo do macaco. Na seção
Ideia Visual (agosto), o texto diz que ‘um chimpanzé macho, nosso parente mais
próximo, não olharia duas vezes para a mulher’. Acredito que uma revista tão
conceituada não deve manifestar sua posição pessoal sobre um fato não
comprovado.”
E
a revista respondeu: “Walmir, nós nunca dissemos que o homem ‘veio’ do macaco,
mas que o chimpanzé é o seu parente mais próximo – somos descendentes de um
ancestral comum, como fica claro pela teoria da evolução, que é um modelo
científico sólido. Agora, se a sua religião não permite que você acredite na
teoria da evolução, não tem problema algum, temos pleno respeito por todas as
religiões. Achamos que a Bíblia é um documento histórico belíssimo, mas, na
hora de falar de ciência, ficamos mesmo com A
Origem das Espécies.”
Preciso
dissecar a resposta, já que eles conseguem espalhar tantas “pérolas” em tão
poucas linhas:
1.
Super repete a máxima evolucionista: “O
homem não veio do macaco.” Tá, isso a gente já sabe. Mas se o ser humano e os
chimpanzés são primos e vieram de um suposto ancestral comum, duvido que ele
tenha sido (se tivesse existido) um tipo de galinha. Teria que ser um tipo
de... macaco. E até hoje há debates sobre qual teria sido esse suposto
ancestral comum. É leviandade afirmar que isso é um “fato estabelecido”, mesmo
que se apele para os alegados 90 e tantos por cento de semelhança genética
entre chimpanzés e humanos, o que também é discutível (confira). Alias, já apontaram semelhanças genéticas entre humanos e anêmonas! E até porcos.
2.
Super não respeita o leitor e afirma
que o chimpanzé é parente dele, ignorando sua opinião.
3.
Como assim “a teoria da evolução é um modelo científico sólido”? Qual teoria da
evolução? A macroevolução ou a microdiversificação? Diversificação étnica
humana e variações entre cães e tentilhões, por exemplo, são fato e permanecem
na categoria da diversificação de baixo nível (ou “microevolução”). Humanos e
macacos provindo de hipotéticos ancestrais comuns (ou mesmo toda a
biodiversidade atual tendo origem num ser unicelular desconhecido que teria
vivido bilhões de anos atrás), isso é mera especulação hipotética oriunda da
mentalidade naturalista, ou seja, é filosofia sem amparo científico (empírico).
Quem está por dentro das discussões intramuros sabe que a teoria da evolução
não se trata de um “modelo científico sólido”. Darwinistas honestos têm
reconhecido isso. Mas o pessoal da Super
parece fanático demais por Darwin para admitir isso.
4.
“Se a sua religião não permite que você acredite na teoria da evolução...”
Espere aí! O leitor não menciona em momento algum (pelo menos não no texto
publicado) qualquer tipo de religião. Aqui, também, o pessoal da Super (ou, pelo menos, o editor de
cartas e e-mails) cai no lugar comum da controvérsia ciência x religião. Essa é
uma tática antiga para blindar o evolucionismo de discussões realmente
científicas. Note que a revista muda rapidinho de assunto. Sai da ciência para
a religião e tenta, assim, encerrar a questão. Esse é um típico argumento
evolucionista de “roda de bar”, mas não deveria ser usado por uma revista que
se propõe séria e científica.
5.
Eles dizem ter respeito por todas as religiões, exceto (isso fica nas
entrelinhas) por aquelas que insistem em defender o criacionismo e que veem a Bíblia como mais do que simplesmente um "documento histórico".
6.
“Achamos que a Bíblia é um documento histórico belíssimo, mas, na hora de falar
de ciência, ficamos mesmo com A Origem
das Espécies.” Quem falou em Bíblia? O Walmir não menciona (no texto publicado) qualquer livro religioso. Mesmo assim, a resposta é reveladora. A "Bíblia" deles é o livro de Darwin, e eles não
negam isso! Quem disse que A Origem das
Espécies fala de ciência? Até porque, como diz o químico Marcos Eberlin, o maior instrumento de pesquisa no tempo de Darwin era a cadeira de balanço. Quem
disse que as informações do naturalista/teólogo (sim, Darwin estudou teologia)
do século 19 estão todas de acordo com a ciência experimental? Quem disse que
as ideias macroevolutivas de Darwin resistem ao laboratório e às observações
possibilitadas pelos modernos recursos do nosso tempo? Se resistissem, não
haveria rumores de uma nova teoria da evolução não selecionista sendo gestada...
(confira aqui, aqui, aqui e aqui). Apesar
do título, Darwin não entregou o que se propôs explicar - a origem das
espécies. Um título melhor para o livro seria Origem das Variações, assunto que
Darwin muito abordou, mas nem isso conseguiu explicar. Que ciência Darwin
praticou nesse livro?
Depois
de ler essa resposta tão SUPERficial, carregada de imprecisões, pregação e
preconceito, reafirmei para mim mesmo o motivo pelo qual deixei de ser
assinante da Super há muito tempo.
Detalhe:
a matéria de capa deste mês é sobre Ovnis. Nisso eles também parecem acreditar...
Michelson Borges