Deu
na Veja desta semana: “A HBO Latin
America anunciou a encomenda da segunda temporada de ‘O Negócio’. As filmagens
dos novos episódios terão início neste ano. A previsão de estreia é para 2014. Criada
por Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho, a série acompanha
a vida de três prostitutas de luxo que decidem aplicar estratégias de marketing para aumentar a
clientela. Ao todo, a HBO Latin America já produziu oito séries brasileiras. ‘O
Negócio’ é a quinta que consegue chegar na segunda temporada.”
Não
é de hoje que o conteúdo “cultural” exportado pelo Brasil se resume quase que
exclusivamente a samba, futebol e mulheres “calientes”. Pude constatar isso
pessoalmente numa recente viagem que fiz ao Chile, com um grupo de amigos
teólogos. Logo que desembarcamos em Santiago, uma van foi nos buscar no
aeroporto. Assim que viu aquele grupo de 14 homens, o motorista foi logo
perguntando: “Ustedes gustan de chicas?” Se fazendo de desentendido, um
dos meus colegas respondeu: “Sim, gostamos de xícaras. De chá.” Mas o chileno insistiu com um sorriso de canto de
boca: “Si, pero xícaras com piernas.”
Aí tivemos que explicar que somos todos casados, e muito bem casados. E mudamos
o assunto.
No
dia seguinte, acompanhado por dois amigos, regressávamos de um passeio num shopping, quando o taxista me perguntou
(eu estava no banco do caroneiro): “Como estão as garotas?” Ingenuamente,
pensei: “Como ele sabe que sou casado e tenho duas filhas?” E perguntei: “Minha
esposa?” Ele respondeu: “Não, as garotas que sambam.” Ele se referia às famosas
dançarinas brasileiras das escolas de samba. Outra decepção. Pensei: “Será que
esse pessoal não tem outras perguntas para fazer aos brasileiros? É tudo culpa
das nossas novelas, dos nossos seriados, das nossas propagandas.” E me lembrei
de que, no voo entre São Paulo e Santiago, haviam sido exibidos alguns vídeos
sobre o Brasil e o Chile. Um, o do Brasil, mostrava imagens de favelas, do
carnaval e de praias. O do Chile trazia cenas de pontos turísticos bem mais “culturais”
e da Cordilheira. Assim, é difícil lutar contra o estereótipo. Mas tentei.
Perguntei
ao taxista se o Chile tinha apenas uma cultura, de ponta a ponta. Ele, obviamente,
me disse que não. Então expliquei-lhe que o Brasil, muito maior que o país
dele, também é um mosaico cultural e que nem todos gostam de samba e carnaval (confira). Quando ele me disse que queria muito conhecer
o Rio de Janeiro (por causa das praias e das mulheres), disse-lhe que o Rio, de
fato, é lindo, digno de ser conhecido, mas que existem muitos outros lugares no
Brasil que vale a pena visitar, não necessariamente pelos motivos apresentados
por ele.
Depois
de falar um pouco mais sobre meu país, procurei conduzir a conversa para temas
mais edificantes e meus amigos e eu lhe falamos sobre a Bíblia e suas promessas.
Pouco antes do fim da viagem, anotei o e-mail dele e prometi enviar o e-book La Gran Esperanza (o que já fiz).
Uma
de minhas irmãs, a Michela, em viagem aos Estados Unidos, também passou por
experiências semelhantes. É ela quem conta:
“Entrei em uma loja na
Times Square, em Nova York, e o atendente puxou assunto. Perguntou primeiro de
onde eu era. Respondi que do Brasil e ele começou a falar bobagens. Primeiro
disse que as brasileiras são bonitas. Depois perguntou se eu queria casar com
ele. Eu disse ‘não’ e ele voltou a perguntar: ‘Não? Você não gostou de
mim?’ Desconversei, mostrei minha aliança no dedo e saí da loja.”
“Em outra oportunidade”,
continua ela, “eu estava em outra loja em Nova York olhando botas e uma senhora
se sentou ao meu lado e começamos a conversar. Ela também perguntou de onde eu
era e ao saber que do Brasil, começou a falar: ‘Ah, o Brasil, Rio, carnaval!’
Então falei a ela que o Brasil não é o Rio e que nem todos gostam de carnaval.
Falei que no Sul, onde moro, é bem diferente do Rio e que muitos que conheço,
incluindo aí eu mesma, não gostam de carnaval. Então ela me respondeu: ‘Você está
certa. Os americanos são muito ignorantes. Pensam que todas as mulheres brasileiras
são fáceis, que somente
existe Rio e carnaval no Brasil.’”
Infelizmente,
grande parcela de culpa por essa imagem negativa que temos lá fora é nossa. É
das nossas produções televisivas e cinematográficas. É dos nossos publicitários
e até dos nossos governantes. Sei que é como uma gotinha no incêndio, mas, de
minha parte (e minha irmã concorda com isso), sempre que tiver a oportunidade,
tentarei mostrar que o Brasil é mais do que futebol, carnaval e mulheres “fáceis”.
Há por aqui pessoas que têm outros valores. Há por aqui pessoas que vivem por princípios
e que desejam ser respeitadas por isso.
Michelson Borges
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