Torre de Davi, em Jerusalém |
Sob
camadas do piso de um antigo prédio abandonado em Jerusalém, o suposto palco de
uma das mais famosas cenas narradas no Novo Testamento: o julgamento de Jesus.
Arqueólogos anunciaram nesta semana terem descoberto os restos do palácio do
rei Herodes ao lado do Museu da Torre de Davi. No local, o governador romano
Pôncio Pilatos teria condenado Jesus à morte, segundo o relato da Bíblia. A
descoberta pode ter impacto no caminho percorrido por peregrinos cristãos que
viajam a Jerusalém. Mas os ecos do achado, divulgado pelo jornal americano Washington Post, vão muito além de
questões religiosas, avaliam especialistas. As possíveis pistas do palácio
foram encontradas durante escavações que tinham como objetivo inicial a
expansão do Museu da Torre de Davi, planejada há 15 anos. Os profissionais
envolvidos no trabalho sabiam que o prédio, localizado no lado ocidental da
cidade, havia sido usado como prisão quando a cidade estava sob domínio otomano
e britânico. Os arqueólogos já sabiam, há algum tempo, que a prisão estava lá -
mas não o que estava embaixo dela. Apenas agora, depois de anos de escavação e
de atrasos causados por guerras e por falta de verbas, a descoberta está sendo
exibida para o público em excursões organizadas pelo museu.
Para
Amit Re’em, arqueólogo de Jerusalém que liderou a equipe de escavação há mais
de uma década, a prisão “é uma grande parte do quebra-cabeça de Jerusalém e
mostra a história da cidade de uma forma muito original e clara”. Em entrevista
ao Washington Post, ele afirmou que o
local preserva um punhado de importantes descobertas de todo os séculos. Nas
paredes, há símbolos gravados por prisioneiros da resistência judaica lutando
para criar o Estado de Israel em 1940, bacias usadas para tingimento de tecidos
do período das Cruzadas e um sistema de esgoto que provavelmente pertenceu ao
palácio construído por Herodes, o Grande, o excêntrico rei da Judeia sob o
Império Romano, já morto quando Jesus foi condenado.
Professor
de arqueologia da Universidade de Carolina do Norte em Charlotte, Shimon Gibson
afirma que estudiosos estão quase certos de que o julgamento de Jesus ocorreu
no complexo de Herodes. O episódio é descrito como tendo ocorrido “perto de um
portão e em um pavimento de pedra irregular”. Os detalhes coincidem com os
achados arqueológicos anteriores perto da prisão: “Obviamente, não há qualquer
inscrição informando o que aconteceu aqui, mas tudo (relatos arqueológicos,
históricos e religiosos) recai sobre este lugar e faz sentido.”
Especialistas
brasileiros afirmam que a descoberta é um importante fragmento na reconstrução
da história do período. Pedro Paulo Abreu Funari, arqueólogo e professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) explica que, do ponto de vista
histórico, os achados servem para ser comparados com relatos bíblicos. A partir
desse confronto, é possível tirar conclusões.
“Quando
se trata de lugares onde Jesus teria estado há locais que são evidentemente
imaginativos porque não há dados concretos sobre eles. Outra coisa são lugares
de Jerusalém onde ele esteve ou pode de fato ter estado, como é o caso do
palácio de Herodes, sobre o qual há referências em relatos bíblicos. A
descoberta é importante para os fieis, que não necessariamente precisam de
evidências, mas principalmente para os estudiosos que podem tirar ilações a
partir dela. É possível, por exemplo, ver se o local condiz com o relato de que
Jesus teria sido apresentado ao povo junto com Barrabás”, afirma Funari, em
referência à passagem bíblica segundo a qual Pilatos teria pedido a populares
que escolhessem pela liberdade de Jesus ou de um criminoso chamado Barrabás.
A
opinião é compartilhada por Jeanne Cordeiro, do Laboratório de Arqueologia
Brasileira. “A arqueologia demanda fontes que podem ou não ser corroboradas
pelas descobertas. A Bíblia é uma fonte enquanto relato histórico de uma
sociedade, no caso a judaica. A fé não requer constatação, mas a ciência sim. É
disso que se trata a arqueologia bíblica”, diz Jeanne, acrescentando que Jesus
provavelmente não foi a única pessoa julgada naquele espaço. “Esse foi um
momento intenso da história dos judeus, sob o jugo romano.”
Para
os mais de um milhão de peregrinos cristãos que visitam Jerusalém a cada ano, o
local é significativo porque poderia ter sido um lugar importante na vida de
Jesus. Como a forma como o caminho percorrido pelos peregrinos cristãos que
viajam a Jerusalém foi estabelecida há muito tempo, a descoberta pode mudar
esse trajeto.
“Para
aqueles cristãos que se preocupam com precisão em relação a fatos históricos,
isto é muito forte”, opinou Yisca Harani, especialista em cristianismo e
peregrinação à Terra Santa. “Para outros, no entanto, aqueles que vêm para o
exercício mental de estar em Jerusalém, não há importância, desde que sua
jornada termine em Gólgota, o local da crucificação.”
Teólogo
e ex-reitor da PUC-Rio, o padre Jesus Hortal comemora o achado, mas faz
ressalvas sobre as limitações de exploração ao lugar. “A descoberta é
interessante, do ponto de vista arqueológico, e corrobora o que está escrito na
Bíblia”, afirma o padre. “Temos diversas escavações que retratam a história de
cristãos e a perseguição que sofreram. Jerusalém é uma cidade rica para essas
documentações, mas infelizmente um local muito revelador não pode ser
explorado, devido à rixa histórica entre judeus e árabes. Poderíamos encontrar
restos do primeiro Templo de Salomão, de três mil anos atrás, sob a Esplanada
das Mesquitas.”
(O Globo)
Nota: Descoberta
interessante que ajuda a confirmar o já corroborado relato bíblico.
Interessante é que o achado histórico vem à luz exatamente no mesmo mês em que
um fragmento de mandíbula é tido como evidência do “homem mais antigo”
da história evolutiva (confira no fim deste texto). Compare as muitas
evidências bíblicas (aqui) com as mínimas evidências paleontológicas e tente
entender por que muitos não duvidam da suposta história evolutiva humana, ao
passo que descreem dos relatos bíblicos. O que será que está por trás dessa
teimosia (Rm 1:19-21)? [MB]