Muçulmanos convertidos em Berlin |
Mas
o fundamentalismo religioso nos países de origem é também um fator importante
na decisão da conversão. Somaye, uma iraniana convertida ao cristianismo,
afirma que resolveu deixar de ser muçulmana no dia em que começou a ser
perseguida pela polícia religiosa do seu país. “Eu estava fora de casa quando
fui informada por amigos que a minha casa tinha sido vasculhada pela polícia
religiosa, que encontrou no meu quarto uma Bíblia, um delito grave para um
muçulmano no Irã”, revela a iraniana de 29 anos.
Uma
conversão ao cristianismo só é possível no exílio. Países como o Irã, que têm
uma polícia religiosa com poderes ainda maiores do que a Justiça comum,
classificam a conversão como um crime tão grave que deve ser punido com a pena
de morte.
Para
evitar a perseguição no exílio, a igreja alemã mantém sigilo sobre os
convertidos, embora o batismo, que é a coroação do processo de conversão, seja
aberto ao público. A Igreja da Trindade batiza atualmente mais adultos
muçulmanos do que crianças. Dois domingos do mês são dedicados ao batismo de
muçulmanos adultos, enquanto os domingos restantes, alternados, têm como centro
da liturgia o batismo de crianças.
Com
orações rezadas em farsi (idioma do Irã) e em árabe, a missa dos convertidos da
igreja de Steglitz termina com comemorações pelos novos cristãos e um bufê com
especialidades dos países de origem dos batizados. Como não consegue mais
atender à demanda de todos os interessados, o pastor Martens, que batizou 350
muçulmanos no ano passado, pediu ajuda de paróquias vizinhas, que passaram a
abrir mais espaço para receber os novos cristãos.
O
primeiro passo é o curso intensivo de catecismo. Para impedir que a conversão
seja uma decisão pouco pensada, os padres e pastores encarregados da catequese
costumam ter longas conversas com os interessados sobre os motivos que os
levaram à decisão. Com isso, eles querem evitar que a opção pelo cristianismo
seja uma tática para obter mais direitos como imigrantes na Alemanha.
Muçulmanos convertidos ao cristianismo têm mais facilidade em obter visto de
residência.
Cada
um tem uma história diferente para contar, mas há um elemento em comum: uma
situação de conflito extremo. O iraniano Elia Hosseini, de 20 anos, sofreu na
adolescência uma opressão dupla – da polícia religiosa e do próprio pai, um
muçulmano fundamentalista que teria tentado assassinar o filho por não tolerar
os contatos que ele tinha com cristãos.
“Ser
cristão significa para mim ter a sensação da mais profunda liberdade”, diz o
iraniano, que todo domingo frequenta a igreja de Steglitz.
Em
Berlim, os novos cristãos preferem a igreja luterana, que tem liturgias mais
festivas, com mais músicas sacras e um sermão mais longo. Mas também igrejas
católicas do Ocidente do país, como em Colônia, registram um grande interesse
de muçulmanos pela conversão.
Talvez
influenciado pela própria experiência, Hosseini diz que o cristianismo é a
religião da alegria, enquanto o Islã é uma religião triste. “Aqui em Berlim, as
pessoas sorriem quando cantam na liturgia; já nas mesquitas do Irã, eu só tinha
vontade de chorar”, lembra ele.
O
jovem iraniano ressalta, porém, que o problema não é a religião em si: “O
problema é como a religião nos países islâmicos é instrumentalizada como parte
do sistema de opressão. Uma religião que deixa as pessoas decidirem livremente
se vão ou não à igreja, quais alimentos ou bebidas consomem, é um
enriquecimento espiritual e não uma limitação da vida. Já o Islã é
frequentemente o oposto.”
Segundo
o pastor Martens, as entidades islâmicas, como o Conselho Central dos
Muçulmanos da Alemanha, reagem com tolerância. Mas muitos dos convertidos são
alvo de agressões de outros muçulmanos. Sobretudo os convertidos que moram no
bairro de Neukölln, no Sul de Berlim, onde vivem mais muçulmanos,
fundamentalistas e imãs pregadores da inimizade entre as religiões, os homens e
mulheres jovens mantém sigilo absoluto de que foram batizados como medida da
própria segurança.
(O Globo)
Nota:
Os muçulmanos precisam ter a chance de conhecer uma igreja/religião que
valoriza um dia de repouso semanal (eles guardam a sexta-feira), se abstém de
alimentos imundos e de álcool e crê na volta de Jesus e no poder de uma vida de
oração. Em alguns lugares espalhados pelo mundo (como é o caso de São Paulo), a
Igreja Adventista mantém casas de oração para muçulmanos. A liturgia é
semelhante à de uma mesquita, mas a mensagem é a de Cristo. Mais esforços
precisam ser empreendidos em favor desses filhos de Deus. [MB]