Onde isso vai parar? |
Uma
série de reportagens e apelos assinados por cientistas de universidades e
empresas de biotecnologia está chamando a atenção da imprensa do mundo todo. Nas
reportagens, os próprios pesquisadores conclamam uma moratória total nas
pesquisas com a manipulação genética de embriões humanos, taxadas por eles como
perigosas e antiéticas. Segundo as revistas Nature
e Science, artigos científicos a
serem publicados nos próximos dias relatam experimentos com “técnicas de edição
genética de precisão”, nos quais os cientistas modificaram o DNA de embriões
humanos. O assunto foi denunciado pela revista Technology Review, do MIT (EUA), que cita “uma pesquisa ativa em
torno de edição das células da linha germinativa, que está ocorrendo na China,
na Universidade de Harvard e em uma empresa de biotecnologia de capital aberto
chamada OvaScience”.
Os
resultados devem ter assustado os próprios cientistas. Embora as revistas citem
apenas “rumores” sobre os experimentos, o processo de publicação científica
envolve a chamada “revisão por pares”, por meio da qual outros cientistas da
área avaliam a qualidade dos artigos e dos experimentos antes que os artigos
sejam efetivamente publicados. Ou seja, os experimentos e seus resultados já
são conhecidos de uma parte da comunidade científica - além, obviamente, dos
próprios cientistas envolvidos -, embora só devam chegar ao conhecimento
público nos próximos dias.
E,
aparentemente temendo serem acusados de conivência pela opinião pública, esses
cientistas e as duas revistas de ciência mais famosas do mundo lançaram o apelo
pela moratória.
Em
um dos textos publicados pela revista Nature,
intitulado “Não editem a linha germinativa humana”, cinco pesquisadores da área
afirmam que “há graves preocupações com relação às implicações éticas e de
segurança dessa pesquisa. Há também medo do impacto negativo que ela poderá ter
sobre trabalhos importantes envolvendo o uso das técnicas de edição genômica em
células somáticas (não reprodutivas)”.
Segundo
eles, as tecnologias de edição do DNA - que envolvem a ativação ou o
silenciamento de genes específicos - têm grande importância para a pesquisa de
várias doenças humanas, e que essas técnicas não precisam lidar com as células
reprodutoras humanas, que afetam diretamente o bebê a ser gerado e que podem
visar a aplicações não terapêuticas, incluindo a “modelagem” de filhos com
características específicas.
“Em
nossa visão, a edição genômica em embriões humanos usando as tecnologias atuais
poderá ter efeitos imprevisíveis sobre as futuras gerações. Isso as torna
perigosas e eticamente inaceitáveis”, afirmam Edward Lanphier e seus colegas.
O
grande problema é que apenas poucos países - cerca de 40 - criaram legislações
restringindo ou proibindo a manipulação genética dos embriões humanos. E, se
não é proibido, pressupõem os cientistas que continuam com essas pesquisas,
então deve ser permitido.
Mas
a parte da comunidade científica que agora decidiu se manifestar defende que a
ética está sendo ferida, com graves riscos para a humanidade. Eles conclamam a
sociedade a se manifestar para evitar que o impacto negativo atrapalhe as
pesquisas que seguem as regras éticas e são feitas para benefício da raça
humana.
Um
embargo voluntário dos cientistas parece não ser suficiente, a exemplo do que
ocorreu em 2011, quando eles manipularam o vírus da gripe aviária para que
ele afetasse humanos, uma pesquisa que foi duramente criticada pela
Organização Mundial da Saúde - os artigos acabaram publicados.
Veja aqui o que escrevi sobre tema semelhante, envolvendo a
manipulação da vida.
Leia também:
“Cientistas criam ratos com cérebro metade humano”