Sociedade intolerante |
Há
pouco mais de duas semanas, causou furor nas redes sociais o título de uma reportagem
da revista Veja relacionada com Marcela
Temer, esposa do vice-presidente Michel Temer: “Bela, recatada e do lar.” Essas
poucas palavras foram suficientes para despertar o ódio das feministas e o
humor ácido de blogueiros e criadores de memes, os quais fervilharam na
internet. Milhares de mulheres postaram fotos – algumas bem indecentes e apelativas
– ironizando o tom considerado tradicionalista da matéria. Mas, para uma das
principais pesquisadoras da história das mulheres brasileiras, a historiadora
Mary Del Priore, as críticas refletem uma visão “intolerante” sobre o modo de
vida de uma parcela significativa da população.
É
claro que são legítimas as lutas pelo chamado empoderamento da mulher. As
conquistas sociais dos últimos anos são muito importantes, no sentido de
defender a igualdade em vários aspectos e os direitos da mulher – direito,
inclusive, de ser recatada e do lar. Quem disse que cuidar da casa e dos filhos
é sinônimo de rebaixamento da mulher? Ou existiria missão mais importante do
que a de uma mãe? Qualquer tipo de empreendimento humano é passageiro. As
pontes projetadas pelos engenheiros um dia cairão. Máquinas terminarão no
ferro-velho. Mas o caráter de uma pessoa pode ser eterno. Na verdade, é a única
“coisa” que levaremos para a eternidade. E quem é a pessoa responsável por
moldar o caráter, nos primeiros e essenciais anos de vida de qualquer um? Geralmente,
é a mãe. O pai também, mas, principalmente, a mãe. Essa é uma missão
intransferível (ou pelo menos não deveria ser) e deve ser valorizada como a
mais importante do Universo.
A
mulher pode e deve buscar seu desenvolvimento em todos os sentidos. Pode e deve
se desenvolver acadêmica e profissionalmente. Tem tanto direito quanto o homem
de se realizar da maneira como bem entender, ainda que essa realização esteja
ligada à “carreira” de boa mãe, boa esposa e gerente de um lar.
Mary
Del Priore tem razão: as críticas feitas à matéria da Veja e, por extensão, à Marcela Temer são pura intolerância de uma
parcela das mulheres que talvez esteja confundindo as coisas e que parece ter
se esquecido de que respeito é uma atitude que tem mão dupla. Mulheres que
talvez estejam confundindo libertinagem com liberdade, expondo-se de modo
indevido e pagando, elas mesmas, o preço disso.
Exibicionismo na sala do ministro |
Exemplo
de inversão de valores pôde ser visto nesta semana, na mesma revista Veja. Na verdade, pôde ser visto pela quase
ausência de manifestações de repúdio, de crítica ou, no mínimo, de deboche.
Contra o quê? Contra o comportamento nada recatado de Milena Santos, ex-miss Bumbum
e esposa do recém-indicado ministro do Turismo. O que ela fez que mereceu a
matéria? Milena compartilhou com seus milhares de seguidores no Facebook cenas do
seu “primeiro dia” no posto de primeira-dama do Turismo. Detalhe: ela estava usando,
na descrição da Veja, “um vestido
branco de um só botão, abaixo e acima do qual tudo se revelava”, e uma bolsa de
oito mil reais. E ainda escreveu: “Não é atoa [sic] que ao lado de um grande
Homem, existe sempre uma linda e poderosa mulher. Te amo meu amor, juntos somos
mais fortes!”
Onde
estão as feministas de plantão para denunciar o que poderia ser visto como exploração
e exibição indevidas do corpo da mulher? Onde estão as feministas para reclamar
do “linda mulher ao lado de um grande Homem”? Onde estão os produtores de memes
numa hora dessas? Em silêncio. Um silêncio revelador, na verdade. Um silêncio que
expõe uma sociedade inimiga do recato e complacente com o exibicionismo
indiscreto. Uma sociedade decadente, confusa e intolerante.
Michelson Borges