Rosto da estátua de Madre Paulina |
Imbituba,
terra do primeiro milagre [atribuído a] santa Paulina, deve se tornar nos
próximos anos o mais novo destino de quem busca o turismo religioso. Em fase
inicial, o monumento à religiosa começa a receber o trabalho de terraplenagem e
fundação, para abrigar uma estátua de 46,5 metros de altura. A santa será mais
alta do que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que mede 38 metros, e terá um
investimento de R$ 4,9 milhões, pago integralmente pela administração
municipal. Desde a ideia inicial do projeto, há quase dez anos, a construção do
monumento encontrou resistência. Recentemente, nas redes sociais, foram criadas
comunidades para discutir a obra e o emprego do recurso público, sendo a
maioria das manifestações contrárias à imensidão da obra. Mas, pelas ruas, é
mais difícil encontrar quem se oponha ao projeto. “Qualquer projeto sempre tem
os prós e contras. Há evangélicos, espíritas, vários segmentos, é uma obra
voltada aos católicos, mas abrange uma área espiritual importante. Esses do
contra vão ter sempre, falam que com esse dinheiro poderia se fazer outras
coisas, mas é um investimento no turismo religioso em uma cidade onde a população
católica ultrapassa os 80%”, defende o secretário de Turismo de Imbituba, Paulo
Sefton.
O
turismo religioso é um dos segmentos que mais crescem no país, tendo
movimentado 17,7 milhões de viagens no último levantamento do Ministério do
Turismo, de 2014. Com a vinda em massa dos fiéis e turistas, todo o trade de serviços é movimentado, com a
vantagem de que esse tipo de atração pode ser visitada o ano inteiro, em todas
as estações. Do ponto de vista espiritual, a construção do monumento consolida
o trabalho e a dedicação da Associação de Peregrinos da Caminhada da terra do
primeiro milagre de Santa Paulina.
“Esse
monumento traz uma mensagem diferente, espiritual, de uma pessoa que só fez o
bem. A matéria-prima dessa obra é também a fé, e esse vai ser o segundo maior
monumento religioso do país, só perdendo para a estátua de Santa Rita de
Cássia, com 52 metros”, explica o presidente da Associação, Camilo Carvalho
Damásio. [...]
Embora
o monumento a Santa Paulina deva se tornar mais um destino para o turismo, a
questão religiosa não pode ser desvinculada da obra. Do ponto de vista da
comunidade evangélica, que não adora imagens nem cultua santos, a obra vai na
contramão da crença, e por isso não é bem aceita. Segundo as lideranças da
Assembleia de Deus em Imbituba, o investimento poderia ser destinado a outras
questões. [...]
Embora
seja católica, a dona de casa Carmem Lúcia dos Santos Martins, de 62 anos,
também acredita que as prioridades do município deveriam ser outras, como a
construção de uma creche, por exemplo. Já a diretora do Santuário de Santa
Paulina em Nova Trento, irmã Anna Tomelin, defende a obra e ressalta que o
monumento será um espaço de fé para receber todos que creem em Deus,
independente da religião.
Nota 1: [Faço o comentário a seguir com todo o respeito aos irmãos católicos sinceros.] Será ingenuidade da irmã Tomelin? Como pessoas de outras religiões que não
cultuam imagens poderão usar aquele lugar como um “espaço de fé”? Fica evidente
o interesse das autoridades em incentivar o turismo, mais ou menos como faziam os fabricantes de estátuas da deusa Diana dos efésios, nos tempos de
Paulo (Atos 19). Puro interesse financeiro, portanto. E o interesse da Igreja
Católica, que deveria, na verdade, desestimular a idolatria por parte de seus fiéis.
Geralmente, os líderes católicos dizem que não adoram imagens, apenas as veneram. Mas por que não dizem isso aos
fiéis católicos que idolatram, sim, as imagens de santos, carregando-os nas
costas, beijando-os, tratando-os como entidades milagreiras. O segundo
mandamento da lei de Deus (retirado do Catecismo por motivos óbvios) condena
esse tipo de atitude. A estátua será maior que a do Cristo Redentor, quase numa
ilustração do que fazem muitos religiosos, ao exaltar alguns santos acima do
próprio Filho de Deus. Alguém deveria lembrar às autoridades catarinenses que o
Estado brasileiro continua sendo laico, e que é errado e anticonstitucional utilizar
verbas públicas em benefício de uma religião, ainda que seja majoritária. [MB]
Nota 2: Em
compensação, veja esta decisão interessante proferida em Goiás, sobre a
necessidade de respeito ao direito de credo (clique aqui). O
que mais chamou a atenção do meu amigo e advogado Willian Bittencourte, de Criciúma, SC, além da notícia em si (que na essência é
positiva), foi o que está por trás de um dos argumentos usados pelo magistrado
que proferiu a decisão, para quem “a Igreja Católica, a Santa Sé, é pessoa
jurídica de direito público”, ou seja, para o juiz, a Igreja Romana desfruta
de prerrogativas de ente público, por constituir, segundo ele, “um país
soberano, o Vaticano, logo goza da proteção Constitucional por possuir
personalidade jurídica”. E as demais denominações religiosas? Gozariam
igualmente dessa mesma proteção? Evidentemente que não. Willian explica: “Isso
porque as demais denominações religiosas não são consideradas pelos organismos
multilaterais internacionais – como a ONU e demais entes políticos – um país
soberano com personalidade jurídica; somente a Santa Sé goza dessas
prerrogativas; somente ela pode invocar esse tipo de direitos contra os demais
entes políticos estatais. Ou seja, num futuro não muito longe, esses tipos de
argumentos de ‘soberania’ poderão ser usados (e certamente o serão) para impor
que os credos e as doutrinas católicos sejam respeitados por todos, o que para
mim deixa tudo muito claro de que estamos, realmente, bem próximos do limiar de
novos tempos, nos quais se cumprirão as profecias previstas na escatologia
bíblica.” Sim, são novos tempos, mas algumas coisas mudaram muito pouco e
voltarão com toda a força... Quem viver verá. [MB]