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Afloramentos
vulcânicos no arquipélago de Galápagos não parecem fornecer a riqueza de
exemplares encontrados em outras localidades ricas em fósseis ao redor do
mundo. No entanto, os fósseis estão, de fato, presentes nas Ilhas Galápagos.
Esta breve revisão aborda o onde, o que, quando e por que de haver fósseis nas
Ilhas Galápagos, e fecha com uma discussão sobre sua potencial contribuição
para o desenvolvimento de modelos sobre as origens.
Onde estão os fósseis
encontrados nas Ilhas Galápagos?
1.
Os sedimentos depositados em águas rasas ao redor das ilhas e posteriormente
levantados acima do nível do mar, muitas vezes contêm fósseis de organismos
marinhos (tais como conchas de moluscos).[1]
2. Tubos
de lava se formam durante as erupções vulcânicas, quando o topo de um fluxo de
lava resfria e solidifica, mas a lava continua a fluir por baixo. Quando drenos
de lava se esvaem desses condutos tubulares, um espaço vazio é deixado no
subsolo. Esses túneis e fissuras muitas vezes contêm sedimentos com restos
fósseis de vertebrados terrestres.[2]
3.
O interior de algumas das ilhas é caracterizado por um clima mais
consistentemente úmido. Pequenos lagos e pântanos, formados dentro de crateras
vulcânicas inativas, podem ser encontrados. Os sedimentos que enchem o fundo
dessas pequenas depressões contêm material vegetal fóssil.[3, 4]
Que tipo de fósseis são
encontrados nas Ilhas Galápagos?
Os
fósseis encontrados nos depósitos marinhos emergidos rasos são dominados por
invertebrados marinhos como moluscos bivalves, gastrópodes, briozoários, corais
e cracas.[1, 5-7] Não são visíveis a olho nu, mas muito abundantes nos
sedimentos também são os microfósseis planctônicos, pequenos animais (2 mm) exóticos que habitam locais inferiores, como os ostracodes, além de grupos específicos de protozoários, como os foraminíferos.[5] Raros, mas às vezes
encontrados nesses sedimentos, são fragmentos de esqueletos de vertebrados
marinhos e terrestres, como pássaros, lagartos e leões-marinhos.[1, 5, 7]
A carcaça de um leão-marinho
parcialmente decomposto em uma praia, Ilha Norte Seymour, Galápagos. Escala em
centímetros. Elementos esqueléticos de carcaças podem ser incorporados em
depósitos de praia e, eventualmente, se tornar fossilizados.
Os
fósseis coletados dos tubos de lava incluem dezenas de milhares de ossos e
fragmentos de ossos de aves, répteis e mamíferos, bem como conchas de caracóis
terrestres.[2, 8, 9] Os restos de vertebrados incluem espécimes das espécies de
Galápagos mais emblemáticas, tais como a tartaruga gigante, iguana terrestre,
tentilhões e sabiás, juntamente com espécies de roedores, cobras, lagartos,
lagartixas, morcegos e aves. Curiosamente, a maioria desses ossos representa
restos de presas regurgitadas por corujas de celeiro de Galápagos, uma espécie
que constrói poleiro e ninhos em bordas dos tubos de lava. Ossos de organismos
maiores (como tartarugas gigantes), por outro lado, representam animais que
caíram e morreram presos nos tubos.
Material
vegetal fóssil recuperado de sedimentos de pântano e lago consiste
principalmente de pólen e esporos microscópicos.[3, 4] No entanto, de tamanho
pequeno (restos macroscópicos tais como sementes de plantas e fragmentos)
também foram encontrados.[10]
Quando os fósseis das
Ilhas Galápagos se formaram?
A
questão da idade é sensível para os criacionistas. Existem duas abordagens para
datar um objeto geológico, como um fóssil ou uma rocha. O primeiro, denominado
datação absoluta, visa a atribuir uma idade numérica para o objeto. O segundo,
chamado de datação relativa, tenta estabelecer se o objeto é mais jovem ou mais
velho do que outros objetos, mas sem atribuir uma idade numérica específica.
Idades
absolutas em geologia são baseadas em métodos de datação radiométrica. Idades
radiométricas têm valores que sugerem uma longa cronologia da vida na Terra,
criando um conflito potencial com o registro bíblico.[11] Por essa razão, os
criacionistas tendem a rejeitar esses valores absolutos, à procura de formas
alternativas que expliquem esses resultados. Em geral, no entanto, existe um
consenso de que a ordem relativa das datas (mais jovem versus mais velhas) pode ser um indicador fiável da sua idade
relativa, independentemente dos valores absolutos. Nas Ilhas Galápagos, as
idades de radiocarbono obtidas a partir de alguns dos ossos fósseis são quase
invariavelmente mais jovens do que oito mil anos,[12] com apenas um par de
exceções dando valores em torno de 20 mil anos.[2, 8] Idades de radiocarbono de
matéria orgânica associada com os materiais vegetais fósseis também são
consistentemente mais jovens do que 26 mil anos,[4, 13] com exceção de uma
camada mais antiga datada em 48 mil anos.[3]
Fósseis
em depósitos marinhos são considerados mais jovens do que dois milhões de anos,[14]
com base em idades radiométricas de rochas vulcânicas intercaladas com os
depósitos.[1] No geral, a cronologia de longa idade dessas datações se
correlaciona com os intervalos muito superiores da coluna geológica
(Pleistoceno e Holoceno). Em resumo, uma abordagem mista de datação absoluta e
relativa parece sugerir que os fósseis de Galápagos se formaram durante uma
parte mais recente da história da Terra, sendo restritos às camadas superiores
da coluna geológica.
Por que os paleontólogos
estão interessados em estudar fósseis das Ilhas Galápagos?
Fósseis
de Galápagos são explorados como um arquivo da vida passada e da ecologia nas
ilhas. Tópicos sendo perseguidos pelos paleontólogos incluem: (a) padrões
documentados na diversidade de espécies e tendências morfológicas, com
potencial de visão sobre a origem da fauna e flora endêmicas;[2, 15] (b) estudo
do impacto sobre o ecossistema da introdução de flora e fauna não nativas, com
implicações para a ecologia e conservação;[2, 10] e (c) reconstrução de
tendências climáticas passadas e eventos na ilha e no sistema do Oceano
Pacífico tropical.[3, 4]
Implicações para modelos
criacionistas
Embora
não sejam tão icônicos e bem conhecidos como seus homólogos vivos, os fósseis
das Ilhas Galápagos podem realmente oferecer algumas contribuições valiosas
para a discussão das origens, quando abordados a partir de uma perspectiva
criacionista. Os seguintes pontos resumem algumas das considerações mais
importantes:
Correlação com a
cronologia bíblica: uma das questões-chave levantadas a
partir de uma perspectiva criacionista seria se os fósseis de Galápagos se
formaram antes, durante ou depois do dilúvio bíblico. Dois elementos importantes
informam uma possível resposta que, provavelmente, a maioria dos criacionistas
abraçaria. Em primeiro lugar, os fósseis parecem ser relativamente jovens,
sendo encontrados em depósitos que são muitas vezes dentro de características
recentes da paisagem (por exemplo, tubos de lava, crateras) e associados com
idades radiométricas do Holoceno e do Pleistoceno. Em segundo lugar, as assembleias
de fósseis consistem quase completamente de espécies modernas, e não tipos
extintos.[8, 15] A maioria dos criacionistas concorda que espécies modernas
diferem das espécies pré-diluvianas, devido ao fato de elas se adaptaram às
novas condições ambientais após o dilúvio. Portanto, ao considerar esses dois
aspectos, uma conclusão razoável em um modelo criacionista seria a de que esses
fósseis se formaram durante o período pós-diluviano.
Estase e taxas de
evolução: desde a época de Darwin, as espécies modernas em
Galápagos têm sido apresentadas como uma ilustração paradigmática de especiação
e origem de novas espécies a partir de uma forma ancestral comum. No entanto,
os fósseis conhecidos atualmente em Galápagos não corroboram significativamente
essa narrativa. A esmagadora maioria dos fósseis recuperados pertence a
espécies modernas conhecidas, com muito poucos exemplos de formas extintas.[2,
6, 15, 16] Portanto, em vez de documentar a mudança gradual, os fósseis de
Galápagos ilustram estase. Pode-se objetar que a série de fósseis de transição
não é observada, porque o registro fóssil das ilhas é fragmentado e representa
apenas o intervalo de tempo mais recente. No entanto, essa é uma sugestão
baseada em dados que não temos. O que é observável não captura transições
evolutivas.
Ordem no registro fóssil: diferentes
tipos de fósseis não são distribuídos aleatoriamente na coluna geológica, mas
seguem um padrão específico de aparecimento e desaparecimento. Fósseis de
Galápagos podem ser usados como um modelo para explorar por que vários tipos de
fósseis não estão todos misturados nos estratos, mas seguem certa ordem. Dois
fatores principais parecem estar em jogo: tempo e espaço. Não há fósseis de
dinossauros ou leões africanos em Galápagos. Sabemos que os leões africanos não
estão extintos, mas eles vivem apenas no continente Africano. Portanto, a razão
pela qual os leões não estão fossilizados em Galápagos está ligada à sua
distribuição geográfica (espaço). Por outro lado, os dinossauros estão
extintos. Portanto, pode ser que eles nunca fossilizaram em Galápagos, porque
eles não estavam presentes na Terra no momento da formação dos fósseis de
Galápagos (tempo). A presença ou ausência de certos grupos de organismos no
tempo e no espaço determina a distribuição ordenada de fósseis, tanto em
interpretações criacionistas quanto evolucionistas do registro fóssil.
O processo de
fossilização: fósseis de Galápagos podem ser usados
para mostrar como o processo de fossilização depende de ambas as
características de um organismo e seu ambiente deposicional. Por exemplo, as
criaturas marinhas mais bem representadas nos fósseis de Galápagos são aquelas
com conchas e partes duras. Animais de corpo mole, como pepinos do mar,
apresentam menor probabilidade de ser fossilizados. O meio de deposição também
é crucial para a fossilização. Por exemplo, lavas vulcânicas não são favoráveis
para a preservação de organismos mortos, mas se armadilhas onde os sedimentos
podem acumular estão presentes (por exemplo, os tubos de lava), fósseis podem
ser encontrados mesmo em terreno vulcânico. Além disso, os ambientes terrestres
(por exemplo, lagos e pântanos) são mais propensos a preservar fósseis de
organismos terrestres (por exemplo, plantas terrestres), e ambientes marinhos
tendem a ser dominados por fósseis de organismos marinhos. Usando as Ilhas
Galápagos como estudo de caso, pode-se concluir que a fossilização certamente
não é onipresente e não preserva todos os tipos de organismos, mas mesmo em
ambientes desfavoráveis (por exemplo, províncias vulcânicas), a fossilização
não é tão improvável quanto se poderia pensar. Representar o registro fóssil
como altamente fragmentado e incompleto pode ser uma má caracterização de um
arquivo muito rico de formas de vida passadas.
(Traduzido do original
Geoscience Research Institute[17] por Everton Alves)
Notas e referências:
1.
Hickman, C.S. and J.H. Lipps, Geologic youth of Galápagos Islands confirmed by
marine stratigraphy and paleontology. Science, 1985. 227(4694): p. 1578-1580.
2.
Steadman, D.W., et al., Chronology of Holocene vertebrate extinction in the
Galápagos Islands. Quaternary Research, 1991. 36(1): p. 126-133.
3.
Colinvaux, P.A., Climate and the Galapagos Islands. Nature, 1972. 240(5375): p.
17-20.
4.
Collins, A.F., M.B. Bush, and J.P. Sachs, Microrefugia and species persistence
in the Galápagos highlands: a 26,000-year paleoecological perspective. Frontiers
in Genetics, 2013. 4: p. 269.
5.
Finger, K.L., et al. Pleistocene Marine Paleoenvironments on the Galapagos
Islands. in GSA Abstracts with Programs. 2007.
6.
Ragaini, L., et al., Paleoecology and paleobiogeography of fossil mollusks from
Isla Isabela (Galápagos, Ecuador). Journal of South American Earth Sciences,
2002. 15(3): p. 381-389.
7.
Johnson, M.E., P.M. Karabinos, and V. Mendia, Quaternary Intertidal Deposits
Intercalated with Volcanic Rocks on Isla Sombrero Chino in the Galápagos
Islands (Ecuador). Journal of Coastal Research, 2010: p. 762-768.
8.
Steadman, D.W., Holocene vertebrate fossils from Isla Floreana, Galápagos.
Smithsonian Contirbutions to Zoology, 413: 104 pp.
9.
Chambers, S.M. and D.W. Steadman, Holocene terrestrial gastropod faunas from
Isla Santa Cruz and Isla Floreana, Galapagos: evidence for late Holocene
declines. Transactions of the San Diego Society of Natural History, 1986.
21(6): p. 89-110.
10.
Coffey, E.E.D., C.A. Froyd, and K.J. Willis, When is an invasive not an
invasive? Macrofossil evidence of doubtful native plant species in the
Galápagos Islands. Ecology, 2011. 92(4): p. 805-812.
11.
Uma discussão sobre abordagens criacionistas para a datação radiométrica está
além do escopo deste artigo, mas um resumo útil pode ser encontrada em:
https://grisda.wordpress.com/2013/07/29/radiometric-dating/
12.
ka = milhares de anos antes do presente
13.
van Leeuwen, J.F., et al., Fossil pollen as a guide to conservation in the
Galápagos. Science, 2008. 322(5905): p. 1206-1206.
14.
Ma = Milhões de anos antes do presente
15.
James, M.J., A new look at evolution in the Galapagos: evidence from the late
Cenozoic marine molluscan fauna. Biological Journal of the Linnean Society,
1984. 21(1‐2):
p. 77-95.
16.
Steadman, D.W. and C.E. Ray, The Relationships of Megaoryzomys curioi, an
Extinct Cricetine Rodent (Muroidea: Muridae) from the Galapagos Islands,
Ecuador. Smithsonian Contributions to Paleobiology, 51: 24 pp.
17.
Fossils of the Galápagos: A review with implications for creationist models. Geoscience
Research Institute (29/05/2016). Disponível em:
https://grisda.wordpress.com/2016/05/29/fossils-of-the-galapagos-a-review-with-implications-for-creationist-models/