O imperador que cristianizou Roma |
Este
é um artigo de Blaise Joseph que compara Donald Trump ao imperador romano
Constantino e foi publicado pela primeira vez em MercatorNet, em 26 de março,
muito antes de Trump conquistar a indicação republicana e derrotar Hillary
Clinton. Na época, parecia audacioso e improvável. Agora parece profético. Os
cristãos são incapazes de falar livremente. A liberdade religiosa está sob
ataque. A sociedade é materialista e imoral. A civilização ocidental enfrenta
enormes ameaças, de dentro e de fora. E, aparentemente, o poderoso líder
emergente não é santo. Você está pensando nos Estados Unidos de 2016? Não, Roma
de 312. O líder é Constantino, que está lutando para se tornar o imperador
romano. Constantino tinha muitos defeitos: ele tinha múltiplas esposas e até
mesmo matou uma delas, era extremamente ambicioso, e era um general e político implacável.
Mas a lenda permanece de que ele teve um momento como um “caminho para Damasco”,
teve uma “visão”, converteu-se ao cristianismo, triunfou sobre seus
adversários, e se tornou um grande imperador de Roma.
Constantino
continuaria não apenas a salvar o Império Romano, mas também a dar liberdade ao
cristianismo. Ele assinou o Edito de Milão em 313, dando aos cristãos o direito
de praticar sua fé e falar livremente. Isso foi o suficiente para permitir que
os cristãos se envolvessem na esfera pública com liberdade, permitindo-lhes
assim difundir a mensagem cristã até os fins do Império e cristianizar uma
cultura pagã.
O
próprio Constantino não era um pilar de virtudes, mas criou o ambiente que deu
aos cristãos a liberdade de influenciar a sociedade. Os primeiros cristãos eram
perfeitamente capazes de ser eles mesmos influência para a sociedade; tudo o
que precisavam do imperador era a liberdade de fazê-lo.
Avançando
rapidamente para 2016, podemos ver muitas semelhanças óbvias. A sociedade
ocidental tem muitos problemas. Os cristãos conservadores têm as soluções para
muitos desses problemas, mas não conseguem articulá-las livremente na praça
pública devido à correção política endêmica e ao marxismo cultural.
Aos
conservadores não falta vontade, bons argumentos ou defensores articulados. O
que lhes falta é a liberdade de falar abertamente sobre questões sociais sem
que vingativas multidões do progressismo secular esbravejem por “ofender”
determinados grupos de pessoas. Donald Trump é a única pessoa que pode nos dar
essa liberdade.
Mas
primeiro considere o seguinte:
-
Ao afirmar que as crianças deveriam idealmente ter mãe e pai, porque em média
elas se sairão melhor nesse ambiente (como apoiado esmagadoramente pelas
ciências sociais relevantes), você se torna “homofóbico” (mesmo que a
declaração não tenha nada a ver com homossexualidade) e um “odiador” das mães
solteiras.
-
Explicar que há realmente uma razão biológica e social para que o casamento
tenha promovido e protegido, como entre um homem e uma mulher, por milênios
(dica: é sobre crianças) o faz “intolerante”.
-
Argumentar que a alta taxa de divórcio fere as crianças, e que o divórcio “sem
motivos” é responsável por muitos problemas sociais, faz você “viver na década
de 1950” e ser um “dinossauro” (mesmo que os dados sociais sobre os efeitos do
divórcio sejam indiscutíveis e o próprio presidente Obama o tenha dito).
-
Afirmar o fato biológico de que homens e mulheres são inerentemente diferentes
faz você “transfóbico” (algo que ninguém sabia que existia apenas alguns anos
atrás).
-
Apontar que os bebês não simplesmente aparecem magicamente do nada depois de
nove meses e podem, de fato, ter direito à vida e à dignidade antes do
nascimento faz de você um extremista (porque sim) e um sexista (mesmo que essa
afirmação não diga nada sobre as mulheres).
Há
muitos outros exemplos. O ponto é que fazer afirmações perfeitamente razoáveis
causa tanta indignação que os conservadores desistem ou acabam perdendo
credibilidade e tornando-se impotentes em influenciar a opinião pública.
Argumentos não são mais considerados em seus méritos, mas antes avaliados com
base na medida em que “ofendem” determinados grupos de pessoas. Isso torna a
causa cristã conservadora na esfera pública, em última instância, sem
esperança. E é aqui que Trump entra.
A
América não precisa de um presidente para tecer argumentos para nós. A América
só precisa de um presidente para nos dar a liberdade de criarmos nossos próprios
argumentos sem medo de ser coagidos pela brigada politicamente correta.
Qualquer
outra coisa que você possa dizer sobre Trump, ele é definitivamente
politicamente incorreto, e orgulha-se nesse atributo. Ele se recusa a recuar
depois de fazer declarações controversas. Ele não se desculpa por ofender os
grupos depois de argumentar. Ele se posiciona diante da mídia. Ele é desafiador,
apesar de ser difamado por elites políticas, jornalistas e acadêmicos.
Consideremos
o exemplo da imigração ilegal. Trump está aproveitando a tendência
compreensível dos cidadãos comuns de se tornarem céticos em relação a altos
níveis de imigração, especialmente quando há pouca ou nenhuma ordem para o
programa de imigração. Durante muitos anos, essa foi uma zona de exclusão, pois
aqueles que levantaram a questão foram acusados de “racistas” e ofensores de
imigrantes, mexicanos, etc. Trump, no entanto, em menos de um ano, conseguiu
dar início a um bom debate sobre o tema, recusando-se a ser diminuído pelos
clamores e pedir desculpas a grupos de minorias potencialmente ofendidas.
Independentemente das opiniões do leitor sobre a imigração ilegal, é claro que
as táticas dos marxistas culturais, usadas no debate sobre imigração,
simplesmente não funcionam contra Trump.
Ou
tome a questão do terrorismo. Ao contrário de muitos outros líderes cristãos,
Trump chama o mal do terrorismo islâmico e do extremismo pelo que é; e procura
examinar com sensatez a política de imigração islâmica em massa, a fim de
proteger a segurança nacional. Ao fazê-lo, ele novamente superou os slogans da “islamofobia” e do “racismo” para
realmente discutir uma questão importante e sensível.
Os
conservadores cristãos precisam que exatamente a mesma coisa aconteça com
outras questões, como o aborto e o casamento. É assim que Trump poderia ser um
grande presidente para cristãos conservadores. Trump é o único candidato
presidencial que é capaz de mudar a sociedade para torná-la mais tolerante com
discussões robustas sobre questões controversas. Finalmente, com um líder que
publicamente mantém as táticas de silêncio da esquerda com total desprezo,
seria possível enfrentar os esquerdistas em questões que exaltam os ânimos.
Se
Trump se tornar presidente dos EUA [já é] e o líder mais poderoso do Ocidente,
ele poderá mudar fundamentalmente a cultura ocidental. Os efeitos de sua
presidência iriam muito além das costas e dos muros da América. As pessoas
falariam mais livremente sobre uma série de questões. O “politicamente
correto”, depois de ser denunciado por Trump uma e outra vez, seria severamente
enfraquecido. O marxismo
cultural e a política de vitimização ficariam paralisados. Progressistas
que buscam fechar o debate perceberão que suas táticas já não funcionam. E após
essa transformação fundamental da cena política, os conservadores poderiam
finalmente ser livres para expor seu caso no que tange à esfera pública.
Todo
o resto seria resultado disso. Nossas universidades se tornariam novamente
lugares de aprendizado e de pensamento livre. Melhores juízes, advogados e
políticos resultariam disso. A população estaria muito melhor informada porque
os debates públicos teriam lugar com menos impedimentos. Isso levaria a
sucessos de longo prazo em questões políticas sociais, como aborto e casamento,
além, também, de permitir que os cristãos tornem a sociedade ocidental
verdadeiramente cristã mais uma vez.
Agora,
muitos comentaristas cristãos conservadores e acadêmicos têm falado contra
Trump. Por exemplo, um grupo numeroso de acadêmicos católicos e intelectuais
públicos, incluindo o professor Robert George, de Princeton, que saiu
recentemente com muitas críticas a Trump: todas elas compreensíveis, muitas
delas justificáveis e algumas indisputáveis. É perfeitamente legítimo
preocupar-se com a súbita mudança de opinião de Trump sobre o aborto, seus
comentários anteriores sobre o casamento e a família, sua atitude em relação
aos muçulmanos, seu apoio à tortura, e assim por diante.
Pessoas
como o professor George são gigantes intelectuais que foram grandes guerreiros
em defesa do conservadorismo, mas eles parecem estar perdendo o real cenário
desta eleição. Eles querem eleger candidatos que tenham um registro de defender
posições conservadoras, como forma de mitigar o controle que os progressistas
têm sobre os debates sociais, uma realidade que eles simplesmente aceitam. Mas
por que temos apenas que aceitá-lo? Por que não podemos pensar além das linhas
e eleger alguém que possa ser capaz de dar um golpe fatal no “politicamente
correto” e no marxismo cultural?
Ter
um presidente conservador consistente dos EUA seria, sem dúvida, algo
bem-vindo. Publicamente, defender uma série de causas cristãs e nomear juízes
sólidos, por exemplo, seriam bons resultados em si mesmos. No entanto, há uma
quantidade muito limitada de bens que isso faria, quando ainda existe uma
cultura que restringe severamente o debate público, particularmente sobre uma
série de questões sociais vitais. Os políticos conservadores, os comentaristas
e os acadêmicos ainda teriam que pisar com cuidado, diluir seus argumentos e
pedir desculpas por ofender as pessoas, enquanto os marxistas culturais
tivessem controle sobre o debate público. Nenhuma vitória a longo prazo é
possível enquanto esse é o caso.
Basta
olhar para os benefícios mínimos sustentáveis de oito anos de George W. Bush,
um cristão conservador, no poder. Ele era tudo o que um cristão conservador
podia pedir. Ele até tinha um congresso republicano por um período de tempo.
Mas o que temos para mostrar dos oito anos em que ele foi presidente? A América
é, de alguma forma concebível, mais hospitaleira ao cristianismo e aos
princípios conservadores do que era em 2000? Mesmo se você culpar Obama por
reverter as boas coisas que Bush fez, então você tem que aceitar que as
conquistas de Bush eram tão insustentáveis a ponto de serem praticamente
inúteis. Então, qual é exatamente o ponto de eleger outro presidente cristão
conservador, afinal?
De
um pano de fundo de comércio, Trump é a opção de “alto risco/alto retorno”. Ele
poderia acabar conseguindo pouco para o conservadorismo e constranger os
conservadores no curto prazo. Mas também é possível que ele afaste o marxismo
cultural da esfera pública, permitindo que os cristãos se posicionem livremente
por muitas gerações vindouras. [...]
Há
também questões legítimas sobre o caráter de Trump, seu temperamento e ego.
Trump certamente não é santo. Mas nós realmente precisamos de um santo como
presidente dos Estados Unidos agora? Ou precisamos apenas de alguém para
liberar a esfera pública para permitir que os cristãos ajudem a tornar todos
santos?
Em
qualquer caso, alguém acredita seriamente que Trump tem um ego maior do que
qualquer outro político? Ele simplesmente se recusa a mostrar a falsa humildade
que os políticos têm aperfeiçoado e a população passou a desprezar. Aqui há
também uma semelhança com Constantino: como imperador, ele era um indivíduo tão
egoísta a ponto de nomear a capital do império, Constantinopla, em homenagem a
si mesmo (mesmo Trump não iria tão longe, provavelmente).
Como
Constantino, Trump é um humano imperfeito e um líder falho. Mas, assim como Constantino
é agora amplamente referido como “Constantino o Grande” por suas realizações
como imperador romano e dando liberdade aos cristãos, é possível que um dia
Trump possa ser lembrado como o homem que “made America great again” (tornou a América
grande outra vez) e reverenciado por cristãos como “o Grande”?
Trump
poderia ser exatamente o que os cristãos conservadores precisam agora. Estamos
atualmente constrangidos por um ambiente marxista cultural e politicamente
correto.
(Blaise Joseph é diretor
assistente na Warrane College at the University of New South Wales, onde está cursando
um mestrado em Ensino. Bacharel em Comércio, ele tem forte interesse em
política social, e escreveu para MercatorNet e Online Opinião sobre casamento e
questões familiares; Roman Catholic Man; tradução de Daniel Luiz Miranda)
Nota:
Só o tempo dirá se, com Trump, os cristãos terão mesmo essa liberdade. Para o
avançamento dos ponteiros do relógio profético, seria interessante que o
Vaticano convencesse o novo presidente norte-americano a se unir ao papa nos
esforços ECOmênicos para “salvar o planeta” (veja aqui). Aí, sim, seria bem interessante...
[MB]