quinta-feira, dezembro 22, 2016

Qual a origem do Natal? Devemos celebrá-lo?

Nasceu o menino-Deus!
O bispo Romano Libério foi quem instituiu oficialmente a celebração do Natal, no ano 354 d.C. Tempos depois, especialmente no Ocidente, a data se fundamentou como uma tradição religiosa e não religiosa. Talvez a maior dúvida esteja relacionada à data do festejo, uma vez que ele é direcionado ao nascimento de Jesus. É importante ressaltar que a data de 25 de dezembro não foi escolhida como princípio cronológico, mas como mero símbolo permeado por motivos cristãos. A alusão de Cristo simbolizado como o Sol da justiça (Ml 4:2) e a luz do mundo (Jo 8:12), e as primeiras celebrações da festa na colina vaticana – onde os pagãos tributavam homenagem às divindades do Oriente – expressa, na verdade, o sincretismo das festividades pagãs adotadas por Constantino e absorvidas pelos cristãos.

Segundo historiadores, a razão mais plausível para a adoção de 25 de dezembro se deu porque a data coincidia com a festa pagã dos romanos dedicada ao nascimento do Sol inconquistado, o solstício do inverno. No mundo romano, a Saturnália, que no passado era comemorada em 17 de dezembro, era um período de alegria e troca de presentes. Costume que hoje ocorre nos períodos relativos às festas natalinas. A data de 25 de dezembro também foi conhecida como o nascimento do famoso e misterioso deus iraniano Mitra, o sol da virtude. Do ponto de vista histórico, a razão da escolha da data, para se comemorar o dia do nascimento de Jesus, parece misteriosa, mas não é mistério algum quanto aos variados significados pagãos em torno desse dia festivo. Quanto às confraternizações, no ano novo romano, comemorado em 1º de janeiro, havia o hábito de enfeitar as casas com folhagens e dar presentes às crianças e aos pobres. Acrescentaram-se a esses costumes os ritos natalinos germânicos e célticos, quando as tribos teutônicas penetraram na Gália, na Grã-Bretanha e na Europa central. A acha de lenha, o bolo de Natal, as folhagens, o pinheiro, os presentes e as saudações comemoravam diferentes aspectos dessa festividade.

O fato de a festividade de Natal estar misturada com elementos pagãos torna proibitiva sua celebração pelos cristãos? Não poderíamos utilizar a data de maneira a aproximar as pessoas de Jesus?

Alguma confusão tem sido levantada quanto ao que Ellen White escreveu sobre o Natal. Normalmente, seus escritos são erradamente procurados numa tentativa de provar a opinião pessoal e não tanto para perceber o que ela quis aconselhar. Cremos que seria de grande valia fazer uma leitura ampla, abrangente acerca de como devemos nos comportar nessa época.

“O dia 25 de dezembro é supostamente o dia do nascimento de Jesus Cristo, e sua comemoração tem se tornado costumeira e popular. Porém, não há certeza de que se esteja celebrando o verdadeiro dia do nascimento de nosso Salvador. A história não nos dá certeza absoluta disso. A Bíblia não nos informa a data precisa. Se o Senhor tivesse considerado esse conhecimento essencial para nossa salvação, teria Se pronunciado através de Seus profetas e apóstolos, para que pudéssemos saber tudo a respeito do assunto. Mas o silêncio da Bíblia sobre esse ponto nos mostra que ele nos foi ocultado por razões sábias. [...] Ele ocultou o dia preciso do nascimento de Cristo, para que o dia não recebesse a honra que deve ser dada a Cristo como Salvador do mundo. Ele é quem deve ser recebido, em quem se deve crer e confiar como Aquele que pode salvar perfeitamente todos os que vão a Ele. A adoração deve ser prestada a Jesus como o Filho do infinito Deus” (Ellen G. White, Review and Herald, 9 de dezembro de 1884).

Esse texto deixa perfeitamente claro que não é vontade de Deus que o dia em si receba alguma homenagem ou deferência especial; pelo contrário, fica nítida a intenção de desviar a atenção do dia e focá-la em Cristo. Assim, perguntamos: Quer isso dizer que devemos ignorar completamente a data em que o mundo assinala o nascimento de Jesus? Eis a resposta:

“Sendo que o dia 25 de dezembro é lembrado em comemoração ao nascimento de Cristo, e sendo que as crianças têm aprendido por palavras e exemplo que esse é um dia de alegria e contentamento, será difícil passar por alto esse período sem lhe dar alguma atenção. Ele pode ser utilizado para um bom propósito. As crianças devem ser tratadas com muito cuidado. Não devem ser deixadas no Natal a buscar seus próprios divertimentos em prazeres vãos, em diversões que prejudicarão a espiritualidade. Os pais podem controlar essa questão voltando a mente e as ofertas dos filhos para Deus e a salvação de pessoas. O desejo de divertimentos não deve ser contido e arbitrariamente sufocado, mas guiado e dirigido por meio de paciente esforço da parte dos pais. O desejo de dar presentes deve ser bem conduzido para levar bênçãos ao próximo graças à manutenção do dinheiro na grande e ampla obra para a qual Cristo veio ao mundo. Altruísmo e espírito de sacrifício marcaram Sua conduta. Que isso também caracterize os que afirmam amar a Jesus, porque nEle está centralizada nossa esperança de vida eterna” (Ellen G. White, Review and Herald, 9 de dezembro de 1884).

Percebemos que seria uma tarefa quase impossível esconder a ocasião, tanto de nós como de nossos filhos. Portanto, a data pode ser assinalada através de atos de altruísmo, beneficência, honra e louvor a Deus. O texto anterior menciona, inclusive, o uso de presentes. Essa ideia é desenvolvida no seguinte texto:

“Como os magos do passado, vocês podem oferecer a Deus seus melhores presentes e mostrar por suas ofertas a Ele que apreciam o Presente dado por Ele a um mundo pecaminoso. Levem os pensamentos de seus filhos ao longo de um caminho novo, altruísta, motivando-os a apresentar ofertas a Deus pela dádiva de Seu único Filho” (Ellen G. White, Review and Herald, 13 de novembro de 1894).

De acordo com o relato bíblico, quando do nascimento de Jesus, foi Ele quem recebeu os presentes. Semelhantemente, podemos ensinar a nossas crianças que o primeiro e melhor presente que tivermos pode e deve ser entregue a Deus, colocando-O como objetivo maior até do que é material em nossa vida, e usando isso para avanço de Sua obra nesta Terra. Repare bem:

“Vocês podem ensinar uma lição a seus filhos enquanto lhes explicam a razão por que fizeram uma mudança no valor dos presentes deles. Digam que vocês percebem que têm até então pensado mais no prazer deles do que na glória de Deus. Digam-lhes que têm pensado mais em seu próprio prazer e satisfação deles e em se manter em harmonia com os costumes e tradições do mundo, em dar presentes aos que não necessitam deles, do que em ajudar no progresso da missão dada por Deus” (Ellen G. White, Review and Herald, 13 de novembro de 1894).

Essa é a postura correta, da qual Deus Se agrada, não apenas no lar, mas também na igreja, incluindo com o uso da tradicional árvore de natal. Leia atentamente a constatação disso:

“Deus Se alegraria muito se, no Natal, cada igreja tivesse uma árvore de Natal sobre a qual pendurar ofertas, grandes e pequenas, para esses locais de adoração. Têm chegado a nós cartas com a pergunta: ‘Devemos ter árvores de Natal? Não seria isso imitar o mundo?’ Respondemos: Vocês podem fazer isso à semelhança do mundo, se escolherem isso. Mas podem fazê-lo de modo muito diferente. Não é pecado selecionar um pinheiro e pô-lo em nossas igrejas, mas o pecado está no motivo que induz à ação e no uso que é feito dos presentes postos na árvore. [...] Os galhos dela devem estar carregados com o fruto de ouro e prata da bondade de vocês, e apresentem isso a Deus como seu presente de Natal. Que suas doações sejam santificadas pela oração” (Ellen G. White, Review and Herald, 11 de dezembro de 1879).

Repare bem que Ellen White não dá valor a árvores enfeitadas “à semelhança do mundo”, ou seja, com luzes, fitas, bolas, estrelas, etc. Aquilo que agrada ao céu é ver essas árvores cheias de ofertas para a casa de Deus, Sua obra, os carentes e necessitados. Ainda assim, algumas pessoas têm mantido a ideia de que ter uma árvore de natal seria uma paganização dos locais de culto a Deus. Além do texto anterior, essa ideia é contrariada por esta declaração:

“Os pais não devem pensar que uma árvore de Natal posta na igreja para alegrar os alunos da Escola Sabatina seja pecado, pois pode ela ser uma grande bênção. Falem às crianças sobre bondade e generosidade. O mero divertimento não deve ser o objetivo dessas reuniões. Embora possa haver alguns que transformarão essas reuniões em momentos de frivolidade, e cuja mente ainda não foi tocada por Deus, para outros essas reuniões trarão grande bem. Tenho certeza de que pode haver substitutos sadios para muitas reuniões que, de outra forma, seriam impróprias” (Ellen G. White, Review and Herald, 9 de dezembro de 1884).

A existência de uma árvore de Natal dentro da igreja, enfeitada com o critério que vimos anteriormente, diferentemente do habitual pelo mundo afora e usada para um bem maior que não frivolidades e futilidades, pode ser de muito enriquecimento moral e espiritual para os membros da igreja, especialmente para as crianças.

Em resumo, podemos concluir com toda a segurança que os conselhos que Ellen White deixou sobre o Natal indicam não propriamente uma celebração da ocasião, mas, sim, um aproveitamento da data, das festividades, para falar e testemunhar sobre Jesus, prestando-Lhe as honras que Lhe são devidas.

O nascimento de Jesus é uma história bíblica. Esta é uma ocasião para apresentar o que a Bíblia diz sobre esse acontecimento, incluindo as impressionantes profecias que o anunciaram com séculos de antecedência. É uma ocasião para falar de toda a vida de Jesus, desde o nascimento, Seu ministério, Sua morte e ressurreição. É uma ocasião para ensinar às crianças princípios de bondade e altruísmo. E, ao contrário do que muitos parecem insistir, é uma excelente ocasião para nos distanciarmos das práticas do mundo e preservarmos uma santa e apreciada adoração ao Deus do Céu e a Seu Filho que Ele enviou para nos salvar.

Deus mesmo nos deu exemplo de como aproveitar datas e elementos pagãos e/ou religiosos para pregar o evangelho (com bom senso e sabedoria, claro). Lembra-se da estátua de Daniel 2? Deus usou um elemento típico da cultura do rei Nabucodonosor a fim de impressionar o monarca, chamar a atenção dele e tornar a mensagem mais compreensível: uma estátua pagã. Lembra-se da parábola do rico e Lázaro? Jesus Se valeu de uma crendice da época para transmitir uma mensagem que, claro, nada tinha que ver com o dogma da imortalidade da alma. Isso se chama contextualizar a mensagem. Seguindo esses e outros exemplos bíblicos, podemos e devemos utilizar elementos lícitos e apropriados da nossa cultura para comunicar as verdades e os princípios do evangelho. É o que a Igreja Adventista faz, por exemplo, na época da chamada Semana Santa. Os estudantes da Bíblia sabem que, depois da morte de Cristo, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, a celebração da Páscoa se tornou desnecessária. No entanto, sabendo que, nessa época do ano, as pessoas estão mais voltadas para temas espirituais, a igreja realiza séries de pregações e procura levar a mente das pessoas para a realidade da morte de Jesus, da salvação e da promessa de Sua vinda.

Por que não fazer algo parecido no Natal? Por que não realizar um culto de gratidão com os parentes que estiverem em sua casa? Que tal cantar hinos natalinos na chamada “noite de Natal” e elevar a Deus uma prece de gratidão pelo grande presente que o Céu nos ofertou? Que tal, nessa data, presentear com livros que falem sobre Jesus, como O Desejado de Todas as Nações ou o Vida de Jesus, por exemplo? Em lugar de satanizar a data, como fazem alguns, criando ainda mais aversão à nossa mensagem, aproveitemos o momento para falar do Deus encarnado na pessoa de Jesus Cristo e do profundo significado de Seu nascimento lá em Belém, cerca de dois mil anos atrás.

(Gilberto Theiss, Filipe Reis e Michelson Borges)