Conforme já expliquei aqui, não sou muito fã de esportes e definitivamente atividades físicas nunca estiveram entre minhas preferências. Trabalho com leitura e meu passatempo preferido é ler bons livros. Desde que me tornei adventista, há 20 anos, sempre procurei seguir uma dieta saudável, o mais natural possível. Para evitar sobrepeso, como apenas o suficiente. Justificava-me achando que esses cuidados e mudanças em minha já eram o bastante. Mesmo assim, depois de dez anos de casado, acumulei dez quilos – um para cada ano de vida a dois. É verdade que uns cinco desses quilos vieram preencher o que faltava (pelo menos segundo minha bondosa esposa); mas os outros cinco começaram a me incomodar, especialmente quando olhava para os pés e, antes deles, lá pelo meio do corpo, percebia uma “protuberância” que antes não existia. Mas a vida foi passando e acabei me acostumando às mudanças e até racionalizando-as, pensando que aos 40 anos as coisas deviam ser mais ou menos assim mesmo. O corre-corre, as muitas atividades, a vida agitada acabavam me servindo de desculpa para evitar a verdade que eu neguei por tanto tempo (embora falasse dela para os outros): o corpo humano foi criado para se mover, para a atividade física, tanto quanto para a intelectual.
E esse assunto começou a me “incomodar”. De uma hora para outra, sem explicação, comecei a sentir uma forte convicção de que deveria caminhar. Era como se ouvisse em minha mente a ordem: “Você precisa caminhar. Você precisa caminhar.” E não é que comecei a sentir vontade de fazer o que antes sempre considerei “sem graça”, monótono e difícil de começar? Mas continuei adiando. A que horas faria isso? À noite, quero estar com a família, dar atenção aos filhos e... ler. De manhã, já levanto bem cedo para ler a Bíblia, orar e me dirigir ao trabalho. Como caminhar? Bem, talvez mais tarde, daqui a alguns anos, quando os filhos já estiverem crescidos... Afinal, ainda sou “jovem” e tenho boa saúde, não é mesmo? E a “protuberância” no meio do corpo até que não era grande. Dava para “administrar”. A esposa nem reclamava muito...
Mas minha condição de saúde começou a mudar. Antes tão saudável e disposto, de repente, comecei a me sentir constantemente cansado, com a mente pesada (se é que você me entende) e com certo desânimo sem razão aparente. Fiz um exame de sangue completo e o resultado me mostrou o óbvio: taxa altíssima de triglicerídeos. “Mas, doutora, não como gorduras de origem animal; não bebo refrigerante e como um ou outro doce apenas de vez em quando. Por que isso?”, perguntei, indignado. “Você pratica exercícios físicos?”, foi a pergunta que me atingiu como seta certeira e me fez recordar a ordem que eu estava ouvindo fazia dias em minha mente. “Você precisa fazer exercícios e cortar de vez qualquer tipo de doces e queijos, e evitar as massas.” “Eu já sabia disso”, pensei, envergonhado. Era o empurrão que faltava.
No dia seguinte, levantei às 5h30, calcei meu único par de tênis que eu quase não usava, coloquei um boné e fui para a rua, antes ainda de o Sol nascer. Estava um pouco frio, mas o ar fresco era revigorante e tive uma sensação agradável. Não estava com preguiça. Tinha plena convicção de que aquilo era um milagre para o qual Deus estava me preparando dias antes (talvez, para você, isso não seja um fato assim tão extraordinário, mas, acredite, para mim, levantar àquela hora para caminhar era realmente um milagre).
Dei os primeiros passos na rua deserta, ainda achando tudo aquilo meio estranho, e logo aumentei as passadas, intensificando o ritmo da caminhada. Em pouco tempo, apesar do frio, gotas de suor já molhavam o boné e a respiração se tornava mais intensa, profunda e menos espaçada. Descobri como é agradável respirar profundamente o ar matinal. Dei uma volta no quarteirão (pouco menos de 1.500 metros) e entrei novamente na rua que leva à minha casa, uma subida. Quando entrei no banho, estava bem suado e ofegante. Passei aquele dia sentindo dores nas pernas e, no dia seguinte, sentia dores em músculos que eu nem sequer sabia que existiam!
Mesmo com a dor, na manhã do dia seguinte, levantei-me à mesma hora, com a mesma disposição, e lá fui para as ruas desertas e escuras. Então adicionei um novo elemento à caminhada: o bate-papo. Sim, comecei a conversar com Deus enquanto caminhava e passei a chamar isso de “caminhada de oração”. Enquanto o ar enche meus pulmões e o Sol desponta no horizonte, converso com meu Deus e Lhe peço que continue me dando disposição para me exercitar, ter mais saúde (meu filho mais novo tem dois anos; quando ele tiver dez, eu estarei com quase 50 e quero ainda ter bastante disposição para brincar com ele) e maior intimidade com Ele.
Três semanas já se passaram e tenho caminhado praticamente todos os dias (aumentei o percurso e agora até já corro em alguns trechos, e não mais sinto dores nas pernas). A disposição melhorou; os pensamentos negativos estão indo embora e meu estado geral é bem melhor (tenho certeza de que o próximo exame de sangue, daqui a alguns meses, mostrará números bem diferentes). Ah, e já perdi mais de três quilos, o que causou certa redução naquela “protuberância central”. Pelo menos a esposa notou e elogiou! Mais motivação!
Bem, o que quero lhe dizer é que vale a pena seguir todas as instruções de Deus. A Bíblia diz que somos “templo do Espírito Santo” e devemos manter esse santuário de carne e ossos em boas condições. Ellen White afirma que a caminhada é um dos melhores exercícios físicos e que quem usa muito a mente precisa se exercitar fisicamente. Se Deus está convidando você a uma reforma, uma mudança de vida (quem sabe para começar a caminhar, como eu), não adie essa decisão. Comece o quanto antes. Peça que o Senhor lhe dê disposição para isso. Não espere que um exame jogue em sua cara o que você deveria ter feito ou estar fazendo há muito tempo. Nossa saúde é um dos bens mais preciosos que temos nesta vida. Nossa família merece nossa saúde e nossa boa disposição; nosso Deus precisa de filhos fortes e saudáveis para servi-Lo melhor; nosso cérebro precisa estar em boas condições para abrigar pensamentos claros e manter boa conexão com o Céu.
Se você pode caminhar, louve a Deus por esse milagre e não desperdice esse dom. Caminhe! Vale a pena. Eu posso lhe garantir. Agora posso.
Michelson Borges
Nota: É importante procurar orientação profissional para iniciar um programa de atividades físicas, a fim de que elas se tornem sistematizadas.
Nota: É importante procurar orientação profissional para iniciar um programa de atividades físicas, a fim de que elas se tornem sistematizadas.