Ao
convocar 75 mil reservistas para as fileiras, o governo de Israel deixou claro
que prepara nova invasão terrestre da Faixa de Gaza, como passo prévio a
uma aventura maior, contra o Irã. Desta vez, no entanto, há sinais de que a
violência encontrará a resistência dos países árabes vizinhos. A visita do
primeiro ministro do Egito, Hisham Kandil, a Gaza e a clara advertência do novo
presidente, Mosri, de que os egípcios não deixarão os palestinos sós deveriam
conter os alucinados direitistas de Tel-Aviv, mas não parece que isso ocorra.
Ao contrário, há todas as indicações de que se encontram dispostos a ir
ao tudo, ou nada.
Ocorre
que as coisas mudaram nos países árabes. Os aliados de Israel haviam visto,
na primavera árabe, uma democratização à americana, que laicizaria as
sociedades muçulmanas e as levaria à absorção pela civilização do consumo. Se
assim fosse – era a ilusão de Israel –, os palestinos seriam compelidos a
aceitar, resignados, o fim de sua luta pela sobrevivência como nação.
Rapidamente as coisas se mostraram como são.
Os
árabes não saíram às ruas para contestar o Islã, mas com o propósito de
recuperar os princípios de solidariedade do Corão e contestar o alinhamento de
seus governos aos interesses de Washington. Não é por outra razão que os
radicais de Al Qaeda contribuíram para o levante contra Kadafi.
O
Egito, sob Mubarak, sempre foi fiel aos Estados Unidos em sua política
regional, e aliado confesso de Israel. Com Mosri, a situação mudou. O novo
presidente egípcio tem mantido consultas sucessivas com outros chefes de Estado
e de governo árabes e reuniu, no Cairo, o presidente da Turquia, Recep Erdogan,
o emir de Catar, Hamad bin Khalifa Al Thani, e outros dirigentes políticos da
região, para discutir o problema da Palestina. O emir de Catar visitou
recentemente a Faixa de Gaza e doou 254 milhões de dólares para a reconstrução
de seus hospitais.
A
atitude mais clara do Cairo foi a de enviar a Gaza seu primeiro ministro Hisham
Kandil, sexta-feira passada. Israel prometeu que suspenderia seus ataques
aéreos contra a área durante as três horas da visita do dirigente egípcio – mas
antes que Kandil deixasse a cidade pelo passo de Rafa, reiniciaram-se os
bombardeios. Os judeus usam mísseis ar-terra, como o que matou o primeiro
ministro do Hamas. E também aviões não tripulados, os criminosos drones.
Dezenas de crianças estão gravemente feridas e, entre outras vítimas infantis,
morreu um menino de apenas onze meses.
Se
Israel, além de arrasar Gaza, como é o confessado propósito de seus
extremistas, atacar o Irã, será quase impossível evitar uma terceira guerra
mundial. O momento, sendo de recessão econômica global, é propício ao desvario
dos conflitos armados. Como registra a História, nada melhor para o capitalismo
do que um grande conflito, do qual ele sempre emerge fortalecido. Mas não
parece que, desta vez, os vencedores venham a ser os mesmos.
(Viomundo, Mauro
Santaiana)
Nota:
Não quero entrar aqui no assunto das motivações por trás desses conflitos
israelenses-palestinos. Isso é um vespeiro daqueles. Quero apenas destacar a
fragilidade e a gravidade da situação presente. Uma guerra envolvendo vários
países (produtores de petróleo, diga-se) num momento de crise econômica mundial
levaria o mundo a uma situação realmente caótica. Nada mais profético...[MB]