Não tem nada para fazer? Você está em um lugar chato? Com pessoas chatas? Talvez você é quem esteja chato. Segundo um estudo canadense, o tédio geralmente tem mais a ver com o estado de espírito ou problema da pessoa do que com um problema do ambiente. John Eastwood da Universidade York (Toronto, Canadá) e Mark Fenske, da Universidade de Guelph (Canadá), decidiram estudar o tédio por ser uma experiência humana comum pouco analisada e compreendida. Fenske e Eastwood dizem que a maioria das pessoas pensa no tédio como trivial e corriqueiro, e talvez por isso pesquisadores ainda não o tenham estudado profundamente. Mas o tédio pode ser um sinal de problemas mais sérios.
“O tédio pode ter alguns efeitos horríveis e pode estar associado com estados patológicos. Há uma forte associação entre depressão e tédio, e lesão cerebral traumática e tédio”, observa Fenske. Também, viciados em drogas e álcool geralmente recaem quando confrontados com o tédio. Portanto, é sim importante responder: O que nos faz ficar com aquela cara de mosca morta desejando que o tempo passe mais rápido?
Segundo os pesquisadores, as pessoas acreditam que o tédio se relaciona com o ambiente. Por exemplo, elas acham que, se uma palestra ou uma conversa está chata, podem simplesmente mudar de tópico para evitar a monotonia. “Nós atribuímos o tédio a problemas no ambiente, em vez de problemas com nós mesmos”, explica Fenske. Mas o tédio pode ter mais a ver conosco.
Eastwood e Fenske avaliaram descrições de tédio da filosofia existencialista, psicologia e literatura. Também realizaram um estudo com participantes, em que eles descreviam como se sentiam ao experimentar o tédio. Os pesquisadores, então, construíram uma definição que abrangeu todas as ideias mencionadas: o tédio ocorre quando temos dificuldade em prestar atenção aos estímulos internos e externos necessários para desfrutar de uma atividade. Quando percebemos que estamos com dificuldade de prestar atenção, culpamos o ambiente pela nossa falta de prazer (daí a relação que fazemos).
“Nossa abordagem é de vincular o tédio à atenção”, disse Fenske. Essa abordagem é importante porque os psicólogos sabem como tratar problemas de atenção, ou seja, os especialistas podem ajudar as pessoas que experimentam tédio crônico (sim, isso existe) ou cujo tédio está afetando sua vida de qualquer maneira (depressão, vícios, etc.).
Os cientistas também acreditam que suas descobertas fornecem novas áreas de estudo. “Não tenho dados para apoiar isso, mas especulo que as pessoas têm mais tédio nos tempos modernos porque experimentam entretenimento intenso. Estamos acostumados a ser passivamente entretidos e essa estimulação constante nos coloca em risco de [mais] tédio no futuro”, finaliza Eastwood.
Nota: A matéria acima rende uma boa reflexão aplicada aos serviços de culto das igrejas. É evidente que nossas reuniões religiosas sempre podem ser melhores: (1) os sermões podem e devem ser mais bíblicos e menos temáticos e existencialistas, com pregadores bem preparados e consagrados; (2) as músicas, embora devam ser caracterizadas pela reverência, pelo estilo apropriado e por letras que levem à reflexão em temas espirituais, podem e devem também ser alegres, trabalhando adequadamente a necessidade de arrependimento por parte do pecador e a satisfação advinda do encontro com Deus e do perdão que Ele oferece; (3) a interação entre os adoradores precisa demonstrar naturalmente o vínculo familiar de amor que une os cristãos e seu desejo de ajudar uns aos outros no caminho para o Lar. Mas uma coisa é certa: o “tédio” que muitos afirmam reinar em certos cultos pode não ser exatamente culpa do culto em si. Por que alguns alegam que o tempo não passa na igreja, mas, em contrapartida, veem o tempo voar quando estão assistindo a um filme ou a uma partida de futebol, por exemplo? Por que o culto é tão “chato”, enquanto a novela e o seriado são tão “legais”? Culpa do culto ou do adorador? De ambos, quem sabe? Mas, se talvez não possa fazer muita coisa com respeito ao culto, posso fazer em meu benefício. Como? Creio que um dos problemas (o principal) seja a falta de religião íntima e no lar. Se não sou adorador na intimidade; se não vivo em constante contato com Deus, não será na igreja que sentirei essa atmosfera celestial. A igreja pode ajudar, mas não substituirá minha devoção pessoal. Outro problema é revelado por esta declaração de John Eastwood: “As pessoas têm mais tédio nos tempos modernos porque experimentam entretenimento intenso.” Se você está habituado a ver filmes, seriados, novelas, etc., produções que visam a excitar os sentidos, realmente considerará monótonos os cultos. Se você vive escutando músicas estimulantes, com estilos e ritmos “próprios para o salão de dança”, como diria Ellen White, dificilmente considerará a música sacra contemplativa e tranquila (a ideal) como interessante para seus sentidos acostumados a sons estimulantes (como os condimentos para o paladar). Assim, o tédio e a monotonia realmente seriam inteiramente culpa do estilo de nossas reuniões religiosas? Devemos nos lembrar de que a igreja nunca conseguirá (e nem deve) igualar em estímulos visuais e auditivos os shows que o mundo oferece por meio da mídia. Os cultos pentecostais e neopentecostais até chegam perto disso, mas o fazem em detrimento da introspecção e da racionalidade que devem caracterizar o verdadeiro culto cristão. Êxtase é coisa do paganismo e tende a viciar tanto quanto os shows e as músicas “apimentadas”. O culto que Deus recomenda deve ser racional (Rm 12:1). Tenho certeza de que, se “despoluirmos” nosso cérebro, passaremos a considerar os cultos (ainda que não perfeitos, pois tudo que o ser humano oferece é imperfeito) e a boa música cristã como momentos agradáveis e de aproximação com Deus. Expulse o tédio da sua mente e adore com alegria santificada na casa de Deus.[MB]