Artigo
publicado na revista Nature e
traduzido aqui mostra
como é difícil derrubar certos dogmas científicos cristalizados. Por mais de cem
anos, a hipótese central da neurociência tem sido a de que “novos
neurônios não são adicionados ao cérebro de um mamífero adulto” (foi isso o que aprendi nas aulas de biologia e nas revistas e livros que li na adolescência). O artigo da Nature examina as origens desse dogma, sua manutenção - mesmo diante de evidências
contraditórias - e seu colapso final. O texto todo é interessante, mas quero
destacar aqui a conclusão dele: “A ideia de que novos neurônios não são
adicionados aos cérebros de mamíferos adultos vem desde as origens da moderna
neurociência nos fins do século 19. A persistência desse dogma em face de
contradições empíricas e sua recente demolição mostram a força de uma tradição e a dificuldade de
cientistas desconhecidos e jovens têm em alterar esses pensamentos
pré-concebidos. Isso sugere também a necessidade de novas ideias surgirem
juntamente com uma matriz de suporte de técnicas inovadoras que lhes
tragam maior aceitação. A concordância geral sobre a neurogênese adulta, pelo
menos no giro dentado do hipocampo, é sugestiva e sugere uma mudança no
paradigma corrente. Podemos estar no meio de uma revolução no nosso
conceito da plasticidade do cérebro de um mamífero adulto.”
Esse tipo de revolução já ocorreu antes e não foi fácil. Conceitos como o ponto G (embora ainda exista quem defenda a existência dele), o flogístico e o éter luminífero foram abandonados, a despeito daqueles que os defendiam com unhas e dentes. Quando
será que as contradições empíricas da macroevolução também serão levadas a sério a fim
de que outro dogma do século 19 dê lugar a uma teoria melhor sobre as origens, e que
tenha mais relação com os fatos observados na natureza? Segundo Thomas Kuhn,
isso muitas vezes só acontece quando morrem os defensores do dogma.[MB]