Que
a Veja odeia o Lula e o PT, isso não
é novidade e também não se pode condená-la por isso. Mas ela também parece
“odiar” outras ideologias, além da petista. E a edição desta semana deixou isso
bem claro, mais uma vez. Há algumas semanas, a revista publicou um artigo
pró-ateísmo e ignorou as manifestações contrárias (como esta).
Sempre que pode, cutuca os criacionistas e não lhes concede direito de resposta,
como se eles fossem réus do Mensalão ou do Lava Jato. Nunca (pelos menos nas
duas décadas em que acompanho a revista) foi dado espaço ou feita uma
entrevista com algum defensor do criacionismo, a fim de que se pudesse explicar
do que, afinal, se trata esse modelo conceitual.
Como
se não bastasse tudo isso, nesta semana, Veja
publicou um artigo em que o autor defende com todas as letras o aborto (confira aqui). Mas a semanal não conseguiu evitar que outro entrevistado desse uma lição de
vida e promovesse valores típicos do cristianismo. Trata-se Nick Vujicic, o
palestrante e escritor que nasceu sem pernas nem braços. “Sou cristão e me
casei virgem. Para mim, sexo fora do casamento acontece para que as pessoas
preencham um vazio. Esse vazio pode ser preenchido ao se estabelecer uma
relação sólida com a religião.”
Vujicic
é casado desde 2012 e tem dois filhos. Ao lado da entrevista, uma foto estampa
a página inteira e traz o filho de Vujicic lhe dando um abraço. Coisa linda!
Valorização da vida, da família, da fé e da pureza sexual. Muito provavelmente
esperavam que ele falasse de superação, apenas, mas ele falou também de
religião e de crença como elementos capazes de preencher o vazio mesmo de
pessoas como ele, com tremendas limitações físicas.
Aí,
numa atitude de quase compensação, curiosa e “coincidentemente”, na página
seguinte à da foto do pai com o filho, estão as fotos de Charles Darwin e da
nadadora norte-americana Katie Ledecky. Ambos também tiveram que superar
dificuldades, mas, peraí!, nada que se compare à luta do cristão Vujicic.
Na
seção “Página Aberta”, um ser humano “normal” diminui o valor da vida humana;
depois, um cristão sem membros revela o segredo para a completude na vida;
seguido da foto do naturalismo ídolo inglês cujas anotações foram transformadas
em livro e conquistaram o mundo. Três pessoas e duas posturas que sintetizam a
opinião de boa parte da humanidade: para alguns, a vida não vale tanto assim,
afinal, tudo surgiu casualmente e continua existindo sujeito aos meandros do
acaso; para outros, a vida foi planejada, tem propósito e deve ser valorizada.
Realmente,
uma edição emblemática. Com ou sem o Lula na capa. [MB]