Vestigiais ou úteis? Que diz a ciência? |
O
pensamento evolutivo assume que o ser humano compartilha um ancestral comum com
os outros primatas. Em 1871, Charles Darwin observou que os primatas são
normalmente muito peludos, enquanto o ser humano não possui tantos pelos. Para
ele, essa “nudez” humana podia ser explicada por meio da seleção sexual, isto
é, os humanos perderam a maior parte de seus pelos a fim de atrair sexualmente seus
parceiros.[1] Seguindo esse raciocínio, Darwin afirmou que a ausência de pelos
no corpo foi uma característica selecionada sexualmente porque homens preferem
mulheres com menos pelos, e porque “as mulheres em todas as raças têm menos pelos
do que os homens”.[1: p. 559] Diante disso, ele concluiu que as mulheres foram
as primeiras a perder seus pelos do corpo, e passaram essa característica igualmente
para sua prole feminina e masculina.
Portanto,
a partir do momento em que homens e mulheres supostamente evoluíram de ancestrais
símios, eles teriam perdido seus pelos porque não precisavam mais deles para se
acasalar. É por isso que arrepios são vistos como vestígios rudimentares de
nossos supostos parentes peludos, que se estufavam até parecer maiores diante
dos predadores, ou serviam para gerar calor (termorregulação) em circunstâncias
particularmente frias.
Esse
argumento confuso é aplicado já na fase embrionária. O biólogo evolucionista Jerry
Coyne afirma que os finos pelos (lanugem ou lanugo) que recobrem o embrião
humano seriam “apenas” um legado de nossos ancestrais primatas, expressando
algumas de suas fases evolutivas.[2] Muitas vezes, essa lanugem ainda é visível
em bebês prematuros.
Porém,
as evidências demonstram que essa explicação do Dr. Coyne não está correta. Os pelos
lanugo estão presente em embriões humanos pois servem a um propósito
importante: sem lanugo, a pele embrionária não formaria de forma eficaz a
camada protetora de que ela precisa enquanto estiver no útero.[3] Essa camada
protetora, vérnix caseoso, é uma substância gordurosa branca que tem a função
de proteger o feto de maceração pelo líquido amniótico.
Além
disso, o vérnix caseoso facilita o nascimento do feto devido à sua natureza
escorregadia e protege a pele de ser danificada pelas unhas.[4] Assim, os pelos
lanugo servem para fixar (ancorar) essa camada protetora na superfície externa
da pele enquanto ela está se formando. A propósito, se realmente houvesse um
estágio embrionário refletindo um ancestral “peludo”, como o Dr. Coyne alega, a
ciência deveria revelar que em algum momento no útero tínhamos um maior número
de folículos pilosos do que mais tarde na vida. No entanto, esse não é o caso.
Por
mais surpreendente que possa parecer, o número de folículos pilosos é o
mesmo em todas as fases da nossa vida.[5, 6] O ex-professor de anatomia
David Menton diz: “Os seres humanos têm três tipos básicos de fios de cabelo,
que podem crescer a partir de [um mesmo] folículo, dependendo de influências
hormonais ou de outros controles: os pelos lanugo, a penugem e o cabelo
terminal.”
Em
adultos, é visto que o corpo do homem, assim como o da maioria dos mamíferos, é
coberto de pelos, exceto a palma das mãos e a planta dos pés.[7] Mas o
homem, ao contrário de outros mamíferos, tem pelos incolores e minúsculos
chamados pelos velos cobrindo todas as partes do corpo. Isso dá aos
humanos a aparência de ser “sem pelo”, com exceção das áreas do couro cabeludo,
rosto, axilas, peito e regiões genitais. Então, devido ao fato de o ser humano
possuir poucos cabelos terminais (longos) em comparação com os minúsculos pelos
velos é que surge a ideia de vestigialidade presente na literatura científica.
Desde
2004, a revista Discover mantém uma
lista intitulada “Useless body parts” que, embora reconheça a função das
sobrancelhas e da barba em homens, considera os pelos corpóreos como inúteis: “Sobrancelhas
ajudam a manter o suor longe dos olhos e o cabelo facial [barba] masculino pode
desempenhar um papel na seleção sexual, mas, aparentemente, a maior parte dos pelos
deixados no corpo humano não tem nenhuma função.”[8]
Livros
didáticos também têm mantido o argumento vestigial para os pelos, como pode ser
visto aqui: “Pelos do corpo são outra característica humana sem função. Parecem
ser uma relíquia evolucionária da pele que manteve aquecidos nossos
antepassados distantes (e que ainda aquece nossos parentes evolutivos mais
próximos, os grandes macacos).” [9: p. 292]
Outro
ponto controverso está relacionado ao músculo pilo-eretor (pilorum arrectores) - fibras
musculares lisas -, responsáveis por causar pequenas
elevações da pele conhecidas como “arrepios”. Motivados pelo paradigma
naturalista, os neodarwinistas não enxergam nenhuma razão para que os humanos
ainda tenham arrepios. Em uma lista chamada “Some more of God’s greatest mistakes”,[10]
a qual é promovida por Jerry Coyne [11], podemos ver a seguinte alegação: “Desde
que os humanos (especialmente mulheres) têm, geralmente, pouco pelo no corpo, é
inútil ter o mesmo sistema de músculos (pilorum
arrectores) e nervos simpáticos, que na maioria dos mamíferos levanta os pelos
em resposta ao frio ou ao medo. No entanto, temos arrepios (cutis anserina [o nome científico]). Além
do mais, se nossa pele é feita para ser principalmente nua, por que temos os
minúsculos pelos [penugem] ineficazes (e músculos e nervos separados para eles)
em tudo?”
No
entanto, além do que ocorre em primatas, os arrepios em humanos também servem como
um indicador de fortes experiências emocionais (frio e medo).[12] Ademais, a contração
do músculo pilo-eretor durante os arrepios funciona como um sistema de termorregulação,
produzindo e mantendo o calor do corpo; além disso, os pelos levantados
fazem com que uma camada de ar fique parada sobre a pele, funcionando como
isolante térmico.[13] Pesquisas indicam que o músculo pilo-eretor é importante também
na integridade e ancoragem da unidade folicular (fios de cabelo), bem como na
secreção do conteúdo sebáceo, útil na prevenção do ressecamento da pele e
regeneração epitelial.[14, 15]
Longe
de não apresentar um reflexo de design,
os pelos no braço, no rosto ou em qualquer outro lugar do corpo têm funções que
eram, até então, desconhecidas. Em 2001, um estudo descobriu que os pelos
pubianos e axilares em humanos possuem uma função importante.[16] Regiões
genitais e axilares apresentam muitos folículos pilosos (estrutura que origina
o pelo), que, por sua vez, contêm glândulas sudoríparas apócrinas que produzem esteroides
voláteis que atuam como feromônios − sinais químicos que instigam a atração sexual.
Os
pelos são embebidos em feromônios e essas secreções são, inicialmente,
inodoras, mas acabam se transformando num odor forte a partir do momento em que
bactérias penetram nas secreções, interagindo com elas e produzindo ainda mais
feromônios.[16] Aí, então, um parceiro em potencial pode sentir o cheiro e o
corpo o usa como um indicador de que a outra pessoa está pronta para ser
atraída.
Em
2011, foi descoberto também que folículos pilosos, juntamente com as dobras e
glândulas produtoras de óleo na pele, formam um habitat para os microrganismos
comensais vitais para a capacidade da pele de combater os agentes patogênicos
nocivos.[17, 18]
Em
2012, um estudo demonstrou que os pelos finos (penugem) ajudam a detectar e
remover os parasitas indesejados do nosso corpo.[19] Os pesquisadores
recrutaram 29 voluntários e rasparam uma área que continha pelos em um dos
braços deles. Os cientistas, então, testaram quanto tempo os voluntários
levaram para detectar percevejos colocados
em cada braço e quanto tempo levou para que os parasitas encontrassem um bom
lugar para se alimentar.
Os
resultados mostraram que os pelos do corpo aumentaram a capacidade das pessoas
em detectar os percevejos (aqueles com braços peludos). Nos braços visivelmente
sem pelos, os indivíduos demoraram a perceber que havia um intruso parasita. Os
pelos também prolongaram o tempo que os parasitas gastaram para encontrar
lugares para se alimentar, presumivelmente porque atrapalharam o movimento
deles.
Em
2012, foi descoberto que a barba masculina bloqueia 90-95% dos raios
ultravioleta (UV), retardando assim o processo de envelhecimento e reduzindo o
risco de câncer de pele.[20] Além disso, os pelos faciais bloqueiam o
pólen e a poeira, reduzindo os sintomas de alergias sazonais, e retêm a umidade
e protegem contra o vento, mantendo o homem com um aspecto mais jovem. Além
do mais, o ato de se barbear é geralmente a causa de pelos encravados e
infecções bacterianas que levam à acne.[21, 22]
Em
2014, um estudo analisou a estrutura e a função dos folículos pilosos da sobrancelha
e concluiu que, embora eles compartilhem a mesma estrutura básica de folículos
pilosos de outras partes do corpo, os pelos da sobrancelha apresentam funções
distintas. Os pelos, por exemplo, são utilizados como um recurso estratégico do
organismo para proteger os olhos da umidade da chuva ou do suor que escorre da
testa.[23] O suor resultante da transpiração da pele é composto de substâncias
que, em contato com a superfície do globo ocular, poderiam causar irritação. Além
do mais, os pelos da sobrancelha apresentam função imunológica e social, tais
como na expressão facial em humanos, no papel linguístico durante a comunicação
verbal e não verbal, no reconhecimento facial e na percepção da direção do
olhar de outras pessoas.[23-26]
Em
relação à cabeça, um estudo também revelou que a cobertura de pelos da
orelha reduz a exposição aos raios ultravioleta em até 81% em comparação com as
orelhas sem pelos.[27] De igual modo, pesquisadores analisaram o papel protetor
do cabelo na cabeça humana e descobriram que o cabelo protege o couro cabeludo e
o pescoço da radiação ultravioleta e de possível melanoma.[27, 28]
E
os carecas? Por que eles perdem os cabelos? O ex-professor de anatomia David
Menton explica que os humanos nunca perdem um folículo piloso.[5, 6] Os
folículos continuam a produzir cabelos ao longo de toda a vida em um ser humano.
Na puberdade, porém, muitos começam a ficar carecas porque alguns folículos que
antes produziam cabelos terminais (longos) começam a substituí-los por pelos
velos, quase invisíveis. Assim, o ser humano não perde os cabelos com a
idade, eles apenas ficam menores; e mesmo pequenos, eles ainda protegem o couro
cabeludo.[28]
Como
vimos, as evidências sugerem que ambas as estruturas e as funções de pelos e/ou
cabelos apresentam sinais de complexidade e intencionalidade. O cabelo humano é
tão complexo que os pesquisadores não o entendem completamente, muito menos podem
explicar sua origem por processos evolutivos ao acaso.
(Everton Alves)
Referências:
[1] Darwin C. The decent of man, and selection in relation
to sex. 2ª ed. London: John Murray, 1874. Disponível em: http://darwin-online.org.uk/converted/published/1874_Descent_F944/1874_Descent_F944.html
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[3]
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2003, p. 154.
[5] Wieland C. “Blind fish,
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[6] Menton D. “The Amazing
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[7] Menton D. “Vestigial
Organs – Evidence for Evolution?” Capítulo 24. In: Ham K.
The New Answers Book 3. Green Forest, AR: Master Books, 2010. Disponível em: https://answersingenesis.org/human-body/vestigial-organs/vestigial-organs-evidence-for-evolution/
[8] Selim J, Aguilera-Hellweg M. “Useless Body Parts” [Jun. 2004]. Living World. Discover Magazine, 2004. Disponível em: http://discovermagazine.com/2004/jun/useless-body-parts
[9] Audesirk G, Audesirk T,
Byers BE, Biology: Life on Earth
with Physiology. 8th edition. San Francisco: Benjamin
Cummings, 2007.
[10] Oolon Colluphid. Oolon Colluphid’s Guide to Creation. Lista:
“Some more of God’s greatest mistakes”; disponível online até o momento da publicação deste artigo. Link: http://oolon.awardspace.com/SMOGGM.htm#goosebumps
[11] Coyne J. “Bad design: a
theological or a scientific argument?” [Dez. 2009]. Site: Why
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