quarta-feira, março 19, 2014

Aprender com os homens é ignorar a realidade?

Perguntas sem resposta
Quando li o texto abaixo, em que Isabel Clemente revela uma cena íntima de sua família (publicado no site da revista Época), fiquei pensando como é triste manter uma visão naturalista/secularista da realidade. Não há certeza da nossa origem (ou pior, crê-se que somos apenas animais evoluídos parentes de macacos), não se sabe o que é a morte e há um esforço mental para relativizá-la, e se encara o futuro da Terra como irremediavelmente fadado à destruição. Ponto final. Como essa conversa entre mãe e filhas poderia ser diferente se a mãe, conhecendo a Bíblia e aproveitando o “gancho” oferecido por uma das meninas (que leu a Palavra) lhes ensinasse que, de fato, somos especiais porque fomos especialmente criados por Deus; que a morte é apenas um intervalo entre a cessação da vida e a ressurreição, num estado de inconsciência comparado ao sono (confira) e que o fim não será de fato fim para aqueles que creem em Jesus e em Sua promessa de voltar a este mundo sofredor para resgatar os que aceitaram o plano de resgate. Infelizmente, a proposta de Isabel é deixar essas preocupações de lado e simplesmente dormir (como fez o marido), a fim de levantar no dia seguinte com todas as preocupações “mundanas” a ocupar a mente, como se pudéssemos evitar as grandes questões simplesmente ao fechar os olhos. As crianças, como sempre, se demonstram mais sensíveis aos dilemas da vida, mas nem sempre encontram as respostas adequadas. Mas vamos ao texto da Isabel, que reproduzo aqui com todo respeito ao ponto de vista dela [MB]:

“Uma depois da outra, minhas filhas chegam no meu quarto, luz apagada, e se infiltram na minha cama. Está tarde, o marido toma banho, elas já deviam estar dormindo, mas não conseguem. Eu, derrotada pelo cansaço, me rendo à presença delas, mas peço silêncio. Começa o falatório.

“– Se Deus criou o homem e a mulher, então todo mundo é parente? – questiona a mais velha.

“Silêncio. Preciso dar uma explicação. Resolvo falar.

“– Quem te falou isso? – pergunto.

“– Li na Bíblia.

“– Não é bem assim... Essa história bíblica é uma representação que Deus criou todas as coisas, mas você ouviu falar da teoria da evolução, que um macaco virou homem, daí vários macacos...

– Sim, eu sei.

“– Faz mais sentido. Mas não deixa de ser legal a gente imaginar que todos os seres humanos têm laços. Agora chega. Shhhh... gente.

“Silêncio. [...]

“– Mas mamãe, você vai morrer antes de mim? – pergunta a pequena.

“Antes que eu diga alguma coisa, a irmã se antecipa.

“– Claro, né, Carol, mas quando isso acontecer, você já será adulta, terá filhos, e terá acontecido um monte de coisa... – diz Letícia.

“Apesar do tema pesado, sorri. Quando a mais velha, hoje com oito anos, tinha quatro, veio com a mesma conversa. Agora, quatro anos depois, ela repete meu discurso com a explicação que me ocorrera dar naquela época.

“Na penumbra da noite, como um feijão encantado, eu flagro uma semente germinando. Não posso continuar calada.

“– A gente não sabe quem vai morrer quando, mas a gente espera que seja assim, primeiro os mais velhos – digo.

“– Eu não quero. Se todo mundo morrer, eu, você, todo mundo, aí acaba?

“– Não, Carol, os filhos têm filhos, eles também têm filhos, e assim vai, não acaba – continua Letícia, minha porta-voz para assuntos aleatórios.

“Silêncio.

“– Eu não quero que você morra, mamãe – diz Carol.

“– Filha, eu não quero morrer agora, só quero dormir. Esquece isso agora, por favor?
Letícia ri. O tema já não lhe afeta da mesma maneira.

“– Mas vai ter um dia, Carol, que o sol vai esquentar, esquentar, ficar muito quente e acabar com todo o planeta – diz Letícia, reluzente como uma explosão solar.

“– Que isso, Letícia, quem te falou isso? – pergunto.

“– Na escola a gente pesquisa, mamãe.

“– Vai ficar muito quente? – Carol pergunta.

“– Pegando fogo! Mas só daqui a muuuuuito tempo. A gente nem vai estar aqui mais, nem nossos filhos, nem nossos netos... – responde a irmã que tudo-sabe-tudo-vê.

“– Pessoal, não é agora. O ar tá ligado, aqui nem tá quente, vamos dormir? – digo, para dar um fim ao clima apocalíptico.

“Chega o pai e encerra com a farra. Elas se vão. Resumo para ele os diálogos e ele ri.

“– Agora você vê, essa conversa do mundo terminar? – digo, sono indo embora.

“– Hum-hum.

“– E esse papo de morte? Sempre difícil – afirmo, mente a mil.

“– Hum-hum. Agora dorme, Bebel.

“– Coisa de quatro anos, né, lembra da Letícia? – insisto.

“– Shhhh... Pensa nisso agora não. Boa noite.

“Aí a gente fica pensando nos dramas existenciais dos filhos, na morte da bezerra, no planeta pegando fogo... e ele dorme!

“O sono, esse fujão...

“É por essas e outras que as mulheres têm mais insônia do que os homens.
Precisamos aprender com eles.”