Mensagem desconsiderada |
[No
dia 1º de março, o pastor e doutor Horne Silva apresentou no Unasp, campus São
Paulo, um sermão que causou polêmica nas redes sociais porque alguém filmou
apenas uma pequena parte da mensagem e a postou no Facebook. Nessa parte do
sermão, o pastor Horne, para causar impacto, rasgou algumas páginas do livro Música, de Ellen White, alegando que não
eram necessários aqueles conselhos, uma vez que quase ninguém parece dar-lhes
atenção. Foi o suficiente para causar uma polarização. De um lado, houve quem
aplaudisse a atitude corajosa do pregador; de outro, houve quem o acusasse de
fanático, extremista e exagerado. Infelizmente, houve até atitudes
desrespeitosas com um pastor que tem PhD em teologia e que lecionou por muitos
anos para muitos pastores que hoje trabalham na obra adventista. Não se trata
de “pegação no pé” dos músicos (tão importantes que são para a igreja), já que
vêm sendo feitas críticas também às mensagens sem “substância teológica” que estão
sendo apresentadas em muitos púlpitos. Talvez, justamente por isso, estejamos
vendo uma mudança significativa em certos aspectos do louvor praticado nas
igrejas adventistas. Estamos estudando o assunto ou o que mais conta é o nosso
gosto? Preocupamo-nos com a preferência do Ser adorado ou levamos em conta
apenas a nossa preferência? O pastor
Horne não é um irresponsável. Como pregador, ele quis usar um recurso
impactante para despertar a reflexão em torno de um assunto delicado. Talvez
esses que o criticaram de modo agressivo fizessem o mesmo ao ver Isaías
profetizando nu ou ao contemplar Moisés despedaçando as tábuas de pedra
escritas pelo dedo de Deus - ou quem sabe eles mesmos rasgassem os livros de Ellen White, se isso não fosse visto como "politicamente incorreto". Abaixo, está o sermão completo do pastor Horne, que
publico aqui a pedido. Ele me disse o seguinte: “O que fiz foi consciente e
contristado porque não estamos dando a Deus a música que Ele merece.” O uso
extensivo que ele faz de textos de Ellen White se deve ao fato de que o
destinatário de sua mensagem é a Igreja Adventista. Leia e tire suas
conclusões. [MB]
O
ser humano normal, em âmbito intelectual, moral e espiritual, sabe e sente que
há um Ser superior, um Criador de todas as coisas. Esse homem (sentido
genérico) sente a necessidade de reverenciar e prestar um culto de adoração a
Deus. No Salmo 42:2, Davi diz que sua “alma tem sede de Deus”. Todos nós cristãos
participamos desse sentimento de Davi e podemos dizer com ele: “Alegrei-me
quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.” Vamos à casa do Senhor para quê?
Para prestar-Lhe culto. Mas o que é culto? Jesus, falando à mulher samaritana,
disse: “Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão
o Pai em espírito e em verdade, porque são estes que o Pai procura para Seus
adoradores. Deus é espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em
espírito e em verdade” (João 4:23, 24). Gosto disto aqui: “Os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai.”
E,
então, o que é um culto? É adoração a Deus. Ok. Está claro, mas por que vou
adorar a Deus? Adoro a Deus em virtude do que Ele é. Todavia, tudo que sei a
respeito de Deus foi o que Jesus disse: “Quem vê a Mim, vê o Pai” (Jo 14:9). Quer
dizer que quem quer conhecer a Deus tem que ver Jesus. Mas quem é Jesus? Jesus
é o Senhor, é o Deus do Antigo Testamento que Se encarnou tornando-Se homem.
Que ressuscitou e hoje está nos Céus e intercede por nós, para nos salvar.
Segundo
Hebreus 1:1, 2, esse Jesus é o Criador de todas as coisas; Ele é onipotente,
onisciente, onipresente; Ele é o grande El
Shadday, o mistério dos mistérios, o Deus de amor.
Bom,
já que eu sei o que é Deus e quem Ele é, como posso prestar honra a
esse Deus? Como posso homenagear esse Deus? Prestando-Lhe um culto. O problema
é que nossa geração está perdendo o senso do que é Deus e da Sua presença.
Hoje, a criatura quer assumir o papel do Criador. Estão dizendo que “deus está
dentro de você mesmo”. “Adore você mesmo.” Nossa geração está, literalmente,
rejeitando a Deus. É por isso que vemos em nossos cultos a prática de uma
adoração que busca o prazer para os adoradores, fazendo do culto um espetáculo,
um show para agradar às pessoas.
Ivan
Espíndola de Ávila, pastor evangélico ex-presidente da Sociedade Bíblica do Brasil,
diz: “O púlpito esvaziou-se, e os pastores, que não têm mais mensagem que falem
ao coração do rebanho, gostam de dizer que não são mais pregadores e, sim,
comunicadores. A tribuna sagrada foi substituída pela plataforma, em que se apresentam
conjuntos musicais estridentes, alheios à noção do sagrado. Os cultos têm
aspecto de shows, e a mensagem foi
sorrateiramente eliminada. Há sobra de ruído e carência de verdadeira
comunhão.”
Em
1984, publiquei um livro de 389 páginas intitulado Culto e Adoração. Já faz 30 anos desde sua publicação – e o culto mudou,
mas não foi para melhor. Poderíamos gastar muito tempo analisando as diferentes
partes do culto, mas não temos tempo para isso. Quero falar sobre um aspecto do
culto que está se tornando a parte principal da adoração: a música. Sutilmente,
o tipo de música que usamos na igreja está mudando e afetando a liturgia. Os ouvintes
não têm paciência e preparo para ouvir um sermão expositivo ou doutrinário, uma
boa pregação. Eles querem mensagens leves, com forte apelo emocional. O
pregador é mais um narrador, um comunicador falando numa entonação e linguagem
melosa.
Como
Igreja Adventista temos uma orientação para a música apropriada para o culto? Temos.
Ótimo, problema resolvido. Não, não está resolvido, porque não seguimos a
orientação que temos. Veja o que diz o Manual
da Igreja, p. 151: “Toda melodia que partilhe da natureza do jazz, rock ou formas híbridas relacionadas, ou toda linguagem que
expresse sentimentos tolos ou triviais, serão evitadas.”
Veja
aqui o que diz a Lição da Escola Sabatina do 3º trimestre de 2011, p. 73: “É
difícil dizer a diferença entre o que está sendo tocado na igreja e o que está
sendo tocado como música secular (porque, francamente, não há diferença).”
Será
que não sabemos discernir que o sagrado vem de cima e o profano vem de baixo? Que
essa “música gospel” é um engodo do diabo? Será que Igreja Adventista tem uma
clara e segura orientação de Deus?
No livro Música,
de Ellen G. White [que não contem tudo o que ela fala sobre o assunto], o então
diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White, Alberto Ronald Timm, diz o
seguinte: “São orientações de Deus, extraídas dos escritos de Ellen G. White
por seu neto Arthur White, a pedido da Associação Geral” (p. 7). Vejamos
algumas dessas orientações de Deus:
“Não
é o cantar forte que é necessário, mas a entonação clara, a pronúncia correta e
a expressão vocal distinta” (p. 24). “Pode-se fazer grande aperfeiçoamento no cantar.
Pensam alguns que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho,
porém, não é música. O bom canto é como a música dos pássaros – suave e
melodioso. Tenho ouvido em algumas de nossas igrejas solos completamente
inadequados ao culto na casa do Senhor. As notas prolongadas e os floreios,
comuns nas óperas, não agradam aos anjos” (p. 25, 26).
“Os
que fazem do canto uma parte do culto divino, devem escolher hinos com música apropriada
para a ocasião, não notas de funeral, porém melodias alegres e todavia solenes.
A voz pode e deve ser modulada, suavizada e dominada” (p. 30).
“Quão
impróprias essas vozes agudas, estridentes, para o solene e jubiloso culto de Deus!
Desejo tapar os ouvidos, ou fugir do lugar, e regozijo-me ao findar o penoso
exercício” (p. 32).
“Vi
que todos devem cantar com o espírito e também com entendimento (1Co 14:15.)
Deus não Se agrada de barulho e desarmonia... E quanto mais perto puder chegar
o povo de Deus do canto correto, harmonioso, tanto mais será Ele glorificado, a
igreja beneficiada e os incrédulos impressionados favoravelmente” (p. 32, 33).
“...e
quando chegam a uma nota alta, fica impossível de ouvir qualquer palavra da
congregação em seu canto, nem ouvir outra coisa, a não ser grunhidos parecidos
com os que são emitidos por deficientes mentais” (p. 36, 37).
“Eles
gritavam e cantavam suas canções até que se tornavam realmente histéricos” (p.
37).
“A
verdade para este tempo não necessita disso para conseguir a conversão de
pessoas. Uma balbúrdia de barulho fere os sentidos e perverte aquilo que, se
devidamente dirigido, seria uma bênção” (p 39).
“Por
essas coisas os incrédulos são levados a pensar que os adventistas do sétimo
dia são um bando de fanáticos” (p. 42).
“Canções
frívolas e partituras de músicas populares de sucesso parecem estar de acordo com
seu gosto” (p. 48).
“A
movimentação física no cantar é de pouco proveito. Tudo que de algum modo está ligado
ao culto religioso deve ser elevado, solene e impressivo” (p. 64, 66).
“Notas
ásperas e gesticulações exageradas não são exibidas entre os componentes do
coro angelical. O cântico deles não irrita os ouvidos. É suave e melodioso, e
ocorre sem esse grande esforço que tenho testemunhado. Não é algo forçado, que
requer muito esforço físico” (p. 67).
Convido
os meus ouvintes a que, se possível, leiam o contexto e vejam os princípios que
Ellen G. White traz para a igreja. Agora, e a Bíblia? Não fala nada? Não precisa
falar muito para incluir tudo que é certo e errado quanto à música. Vamos ler
Amós 5:23, que diz: “Afasta de Mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei
as melodias das tuas liras.” A Bíblia na Linguagem de Hoje é mais clara: “Parem
com o barulho das suas canções religiosas; não quero mais ouvir a música de harpas.”
E a Bíblia Viva é ainda mais enfática: “Acabem com esse barulho das suas
canções; eles são um barulho que incomoda Meus ouvidos. Não ouvirei suas
músicas, por mais belas que sejam.”
Ao
profeta Ezequiel Deus disse: “Ao Meu povo ensinarão a distinguir entre o santo
e o profano, e o farão discernir entre o imundo e o limpo” (Ez 44:23). Espere! Vamos
com calma. Estamos vivendo numa nova era. Temos que levar em consideração a
cultura. Cultura? Consideremos o seguinte:
1.
Que tal se disséssemos aos europeus que no Brasil adoramos a Deus ao som de samba,
frevo, forró, pagode ou axé? Esses são ritmos mais relacionados com a cultura
brasileira. E não o rock, o blues, o jazz, swing da música gospel.
2.
O que você vai fazer com a Bíblia? Ela está cheia de cultura, e cultura milenar.
E ainda oriental. E os livros da senhora Ellen G. White, escritos há mais de
cem anos? O Deus que eu adoro e o Deus que a Igreja Adventista adora é um Deus
que está além da cultura; Ele não muda. “Ele é o mesmo ontem, hoje e
eternamente” (Hb 13:8).
O
problema é que a igreja quer se tornar como o mundo, com a desculpa de trazer
os que estão fora, no mundo. Mas com isso ela está se “mundanizando”,
secularizando.
Kenneth
Wood foi professor, escritor e diretor do Centro White por 28 anos. Ele diz
categoricamente: “A igreja nunca presta um serviço ao pecador comprometendo-se com
o mundo. É melhor que os não regenerados permaneçam fora da igreja até que se submetam
aos princípios da igreja, do que ela [a igreja] se tornar semelhante ao mundo, alistando
como membros aqueles que desejam trazer suas normas, seus costumes e gostos.”
O
pastor Ted Wilson, presidente mundial da Igreja Adventista, falando para a
América do Sul, disse que “o avanço do mundanismo em muitas de nossas igrejas é
alarmante”. É claro que é alarmante. No entanto, devemos ter equilíbrio.
Equilíbrio em quê? Equilíbrio entre o sacro e o secular? Entre o santo e o profano?
Existe equilíbrio entre o “assim diz o Senhor” e o coração enganoso do homem? “Que
comunhão pode ter a luz com as trevas”? (2Co 6:14). Equilíbrio entre nossas convicções
pessoais e a orientação divina? Salvação não é questão de equilíbrio, mas de fé
e santificação. O que devemos fazer?
Tenho
conhecimento e vivência para mostrar o problema e dar a solução. Mas prefiro que
Ellen White nos diga o que devemos fazer, numa citação que não está no seu
livro Música. Depois de escrever um
capítulo inteiro sobre diversos aspectos da música, ela termina dizendo que “há
uma obra a fazer: remover o lixo [rubbish]
que se tem trazido para dentro da igreja” (Evangelismo,
p 512). Precisa ser mais claro? Quem vai
fazer isso? Eu tenho a resposta. Mas quero deixar para um homem de Deus
responder, na pergunta que o pastor Kenneth Wood faz: “Tornar-se-á a música do
mundo música da igreja? A resposta cabe aos responsáveis pela liderança da igreja
nestes tempos solenes, e aos que suspiram e gemem por causa de todas as abominações
que se cometem no meio dela (Ez 9:4).”
Ó,
Senhor! Tenha misericórdia de nós. Perdoa a nossa maneira indevida de Te adorarmos.
Ajuda-nos a aprendermos a Te adorar na beleza da Tua santidade. Que o nosso
culto e a nossa música sejam para Tua honra e glória. Amém!
Assista também:
“O poder da música”