Confusa? A culpa não é sua |
Esta
semana, a Nature revelou que as editoras de revistas
científicas Springer e IEEE removeram mais de 120 artigos publicados entre 2008
e 2013. Elas descobriram que cada um deles era jargão sem sentido, todos
gerados automaticamente por computador. O enorme descuido foi descoberto pelo
cientista da computação Cyril Labbé, que passou os últimos dois anos reunindo
esses artigos. Os textos foram elaborados com um programa do MIT
chamado SCIgen; qualquer pessoa pode baixá-lo e usá-lo. Ele foi criado em
2005 para provar que conferências acadêmicas constantemente aceitam estudos sem
qualquer sentido. Labbé criou um site onde usuários podem testar se artigos
foram criados usando o SCIgen; ele diz à Nature
que eles “são bastante fáceis de se detectar”. Labbé diz não saber por que os
trabalhos foram enviados, nem mesmo se os autores sabiam deles. Mas como algo assim
pode ser publicado em veículos sérios? Parte da genialidade do esquema é que,
pelo menos para um olhar destreinado, os artigos parecem plausíveis.
Por
exemplo, um dos trabalhos publicados, vindo de uma conferência de engenharia na
China, é intitulado “TIC: Uma metodologia para a construção do e-commerce”.
Vago, mas parece plausível. Só que o resumo já causa estranheza: “Nos últimos anos, muitos
estudos vêm se dedicando à criação de chaves públicas e privadas de
criptografia; por outro lado, poucos sintetizaram a visualização do problema do
produtor-consumidor. Dado o estado atual de arquétipos eficientes, importantes
analistas notoriamente desejam uma emulação do controle de congestionamento de
rede, que incorpora os princípios fundamentais de hardware e arquitetura. Em
nossa pesquisa, nós concentramos nossos esforços em refutar que planilhas podem
ser compactas ou feitas com base em conhecimento e empatia.”
Basicamente,
algo saído de um gerador de lero-lero. Segundo a Nature, a maioria dos trabalhos veio de conferências que
aconteceram na China, e a maior parte tem autores com filiações chinesas. No
entanto, ninguém sabe ao certo quem está por trás desse escândalo.
Dezesseis
dos trabalhos foram publicados pela Springer, enquanto mais de 100 vieram da
IEEE. O problema é que os estudos, supostamente, são revisados
por pares: eles passam pelo escrutínio de um ou mais estudiosos com mesmo
escalão que o autor, em geral de forma anônima. Por isso, as editoras estão
tendo dificuldade em explicar exatamente como isso aconteceu. Ou seja, se você
já teve que ler um artigo científico e ficou meio (muito) confuso, não se sinta
tão mal: talvez o texto fosse algo sem sentido gerado automaticamente por
computador.
(Gizmodo)