Das "fontes do grande abismo" |
Um
diamante de cinco milímetros de comprimento pode revelar a existência de um
oceano gigante sob a Terra – maior que a soma de todos os mares conhecidos. A
pedra, encontrada no interior do Mato Grosso, chegou à superfície de um rio há
90 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], pegando carona na
subida de uma rocha vulcânica. O mineral foi encontrado por acaso por
mineradores no município de Juína. É feio e, julgando pela aparência, vale no
máximo US$ 20. Para a ciência, no entanto, sua contribuição é incalculável. O
diamante comprovaria que, a mais de 400 quilômetros de profundidade, estariam
guardados um quintilhão de litros de água [mais do que todos os oceanos da
Terra]. O segredo da pedra está em um minério em seu interior, conhecido como
ringwoodita – nome dado em homenagem ao geoquímico australiano Alfred Ringwood.
Cerca de 1,5% de seu peso é formado por água. Sabe-se que esse minério pode ser
encontrado em meteoritos, mas ele nunca fora visto na Terra.
Agora,
pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, acreditam que há uma
imensidão desses minérios a milhares de quilômetros de profundidade. “A
permanência do líquido dentro do diamante, mesmo depois de ele ter vindo de um
local tão profundo, é uma prova de que existe muita água presa abaixo da
superfície”, explica o pesquisador Gratham Pearson, que assina um estudo sobre
o minério publicado [ontem] na revista Nature.
“A água estaria distribuída por toda a Terra em uma zona entre 410 e 670
quilômetros de profundidade, mas ainda não sabemos quais seriam os locais mais
úmidos.”
A
região ocupada pelo líquido é uma zona de transição entre os mantos superior
(de 100 a 410 quilômetros sob a superfície) e o inferior (a partir de 660
quilômetros de profundidade) do planeta. Segundo Pearson, a presença do líquido
nessa região também coincide com estudos sobre condutividade elétrica
realizados nos últimos anos por geofísicos [confira aqui].
O
diamante de água pode acabar com uma polêmica que, há 50 anos, divide
cientistas que estudam a estrutura interna da Terra. Para alguns, a região de
transição entre os dois mantos do planeta seria uma área seca. Outros, no
entanto, defendem que a área é repleta de água.
Ainda
é impossível estudar detalhadamente as características dessa zona, porque não
existe tecnologia para chegar a uma região tão profunda. Mas não há dúvidas de
como o grande e oculto oceano pode influenciar a dinâmica do planeta. A água da
zona de transição poderia dissolver o magma e alcançar a parte inferior das
placas continentais. Desta forma, ela criaria regiões propensas a vulcões.
“A
água retida pode explicar os padrões irregulares de algumas rochas vulcânicas”,
ressalta Pearson. “Além disso, a súbita
libertação de água a partir desta zona poderia enfraquecer placas tectônicas.”
[Teria sido essa súbita libertação, em algum evento cataclísmico, que deu
origem à fragmentação e movimentação das placas tectônicas?]
O
estudo foi realizado por cientistas de seis países. Apesar de o diamante ter
sido encontrado no Mato Grosso, nenhum brasileiro participou da análise da
pedra. “Infelizmente, ainda não temos cientistas brasileiros na pesquisa, mas
esperamos trabalhar com eles, porque a região do Mato Grosso tem diamantes
muito interessantes. Em nenhum lugar do mundo encontramos pedras que trazem
tantas revelações”, ressalta Pearson.
Ao
jornal Guardian, Hans Keppler,
coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Berlim, admitiu sua surpresa
com a descoberta do diamante de água. “Até hoje, ninguém havia encontrado
ringwoodita no manto da Terra, embora os geofísicos tivessem certeza de que ela
existia. Muitas pessoas – eu, inclusive – nunca esperavam ver uma amostra.”
(O Globo)
Nota:
“No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia
romperam-se todas as fontes do grande
abismo, e as comportas dos céus se abriram” (Gênesis 7:11). [MB]