sexta-feira, março 14, 2014

Diamante revela existência de um oceano dentro da Terra

Das "fontes do grande abismo"
Um diamante de cinco milímetros de comprimento pode revelar a existência de um oceano gigante sob a Terra – maior que a soma de todos os mares conhecidos. A pedra, encontrada no interior do Mato Grosso, chegou à superfície de um rio há 90 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], pegando carona na subida de uma rocha vulcânica. O mineral foi encontrado por acaso por mineradores no município de Juína. É feio e, julgando pela aparência, vale no máximo US$ 20. Para a ciência, no entanto, sua contribuição é incalculável. O diamante comprovaria que, a mais de 400 quilômetros de profundidade, estariam guardados um quintilhão de litros de água [mais do que todos os oceanos da Terra]. O segredo da pedra está em um minério em seu interior, conhecido como ringwoodita – nome dado em homenagem ao geoquímico australiano Alfred Ringwood. Cerca de 1,5% de seu peso é formado por água. Sabe-se que esse minério pode ser encontrado em meteoritos, mas ele nunca fora visto na Terra.

Agora, pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, acreditam que há uma imensidão desses minérios a milhares de quilômetros de profundidade. “A permanência do líquido dentro do diamante, mesmo depois de ele ter vindo de um local tão profundo, é uma prova de que existe muita água presa abaixo da superfície”, explica o pesquisador Gratham Pearson, que assina um estudo sobre o minério publicado [ontem] na revista Nature. “A água estaria distribuída por toda a Terra em uma zona entre 410 e 670 quilômetros de profundidade, mas ainda não sabemos quais seriam os locais mais úmidos.”

A região ocupada pelo líquido é uma zona de transição entre os mantos superior (de 100 a 410 quilômetros sob a superfície) e o inferior (a partir de 660 quilômetros de profundidade) do planeta. Segundo Pearson, a presença do líquido nessa região também coincide com estudos sobre condutividade elétrica realizados nos últimos anos por geofísicos [confira aqui].

O diamante de água pode acabar com uma polêmica que, há 50 anos, divide cientistas que estudam a estrutura interna da Terra. Para alguns, a região de transição entre os dois mantos do planeta seria uma área seca. Outros, no entanto, defendem que a área é repleta de água.

Ainda é impossível estudar detalhadamente as características dessa zona, porque não existe tecnologia para chegar a uma região tão profunda. Mas não há dúvidas de como o grande e oculto oceano pode influenciar a dinâmica do planeta. A água da zona de transição poderia dissolver o magma e alcançar a parte inferior das placas continentais. Desta forma, ela criaria regiões propensas a vulcões.

“A água retida pode explicar os padrões irregulares de algumas rochas vulcânicas”, ressalta Pearson. “Além disso, a súbita libertação de água a partir desta zona poderia enfraquecer placas tectônicas.” [Teria sido essa súbita libertação, em algum evento cataclísmico, que deu origem à fragmentação e movimentação das placas tectônicas?]

O estudo foi realizado por cientistas de seis países. Apesar de o diamante ter sido encontrado no Mato Grosso, nenhum brasileiro participou da análise da pedra. “Infelizmente, ainda não temos cientistas brasileiros na pesquisa, mas esperamos trabalhar com eles, porque a região do Mato Grosso tem diamantes muito interessantes. Em nenhum lugar do mundo encontramos pedras que trazem tantas revelações”, ressalta Pearson.

Ao jornal Guardian, Hans Keppler, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Berlim, admitiu sua surpresa com a descoberta do diamante de água. “Até hoje, ninguém havia encontrado ringwoodita no manto da Terra, embora os geofísicos tivessem certeza de que ela existia. Muitas pessoas – eu, inclusive – nunca esperavam ver uma amostra.”


Nota: “No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram” (Gênesis 7:11). [MB]