Fogo debaixo da terra |
Quando
assunto é fogo de minas de carvão subterrâneas, é difícil não citar o caso da
cidade abandonada de Centralia, na Pensilvânia (EUA). O município
norte-americano queima desde 1962 e ganhou notoriedade por ter inspirado a
série de jogos de videogame e o filme
“Terror em Silent Hill”. Cinquenta e dois anos queimando significa muito tempo
e um monte de carvão, mas isso não chega nem perto da Burning Mountain, na
Austrália, que está acesa há [supostos] seis mil anos. Incêndios em minas de
carvão são incrivelmente comuns e milhares deles estão agora queimando nos
subterrâneos do mundo todo. Cerca de um mês atrás, uma dessas minas pegou fogo
a cerca de 1,1 mil quilômetro ao sul da Burning Mountain. Desde então, vem
expelindo gases venenosos e resistindo aos intensos esforços dos bombeiros. Uma
vez que se perde o controle, como em Centralia e na Burning Mountain, é quase
impossível de apagar o fogo.
Também
conhecida como Monte Wingen, a fumaça com odor de enxofre expelida pela Burning
Mountain é o único indício do enorme monte de carvão queimando a pouco mais de
20 metros abaixo da superfície. Calor e gases tóxicos provenientes do fogo deixaram
o terreno rochoso, irregular e, em algumas partes, a terra cedeu.
Como
a montanha pegou fogo pela primeira vez é um mistério. A faísca inicial poderia
ter vindo de um raio, um incêndio florestal, combustão espontânea, ou mesmo
práticas aborígenes de queimadas.
Foi
com a intervenção humana, no século passado, que esse tipo de incêndio se
tornou algo mais corriqueiro. A mineração do carvão o expõe ao oxigênio, e o
carvão, como sabemos, entra em combustão muito, muito facilmente. Com a
abundância de combustível e oxigênio, uma pequena faísca pode acender uma chama
que cresce até atingir diversos metros de diâmetro.
A
China, com seus milhares de minas de pequena escala, e a Índia, com suas minas
antigas e grandes, têm problemas mais graves com incêndios subterrâneos. A
queimada do carvão libera no ar elementos potencialmente tóxicos, como
arsênico, flúor e selênio.
O
oeste norte-americano também está ardendo com fogos subterrâneos em minas de
carvão abandonadas. Eles derretem a neve no inverno, produzem incêndios na
grama no verão e regurgitam elementos venenosos durante todo o ano. Uma empresa
de energia, na verdade, quer incendiar mais minas, fazendo a “mineração” ao
capturar o gás emitido a partir da queima desse carvão.
Ainda
mais notavelmente, fogos subterrâneos antigos moldaram a própria paisagem dos
EUA. “Grande parte da paisagem do oeste norte-americano – com seus planaltos e
escarpas – é o resultado de vastos e antigos incêndios de carvão”, explica
Kevin Krajick. Tais fenômenos formaram grandes massas de pedras fundidas,
extremamente resistentes à erosão, nas quais se baseia o relevo da região.
Muito
antes de nós começarmos a escavar o carvão para alimentar as fornalhas de
nossas fábricas, veios de carvão estavam escondidos em rios subterrâneos de chamas
– normalmente dormentes, mas ocasionalmente destrutivos. Abrir buracos no chão
para a construção das minas só tem despertado o potencial incinerante do
carvão.