terça-feira, setembro 15, 2015

A repaginação do papa e a ajuda do El Niño

Papa com recém-casados de uma ONG
Jorge Mario Bergoglio não voltou para a Argentina desde que foi eleito papa em 2013, mas isso não foi um problema. Quase todas as personalidades argentinas viajaram para o Vaticano para cumprimentá-lo e tirar fotos. E muitos que o visitaram garantem que há enormes diferenças entre o Bergoglio que foi e o Francisco que é, que sua mensagem atual é muito mais liberal. Outros, talvez os que mais de perto o conhecem, afirmam, no entanto, que apesar de um caráter que é sem dúvida mais cordial agora, suas convicções continuam sendo as mesmas. Quando alguns de seus velhos conhecidos lhe perguntam sobre essa mudança, ele responde com um sorriso zombeteiro: “É que é muito melhor ser papa do que arcebispo de Buenos Aires.” A ideia mais difundida entre os que o visitam na Santa Sé é que Bergoglio se libertou, que antes tinha de fazer pactos internos dentro da igreja argentina e que agora, logicamente, tem muito mais poder e liberdade. Também há quem acredite que, na realidade, sempre foi um conservador, um peronista de direita, mas que se deu conta, graças a um pragmatismo e a uma visão política que nunca lhe faltaram, que o que agora convém à Igreja é uma mudança de mentalidade, mais compreensão em questões como o aborto, o divórcio e a homossexualidade nas quais antes se mostrava extremamente duro. Qualquer que seja a opção, a verdade é que conquistou inclusive seus detratores mais ferozes.

Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz em 1980 por seu papel contra as ditaduras latino-americanas e um dos maiores expoentes da teologia da libertação, está entusiasmado com a nova face de Bergoglio. “Antes, como chefe da igreja argentina, representava muita gente, e também os mais conservadores. Agora pode dizer como papa o que antes guardava para si. Além disso, o mundo muda, a igreja muda, e o papa também. Ele fez isso pela via da espiritualidade. Está causando uma grande surpresa para todos. Provocou uma esperança que há muito tempo não se via na igreja universal”, explica Pérez Esquivel, que se emociona quando ressalta o apoio do papa aos mais desfavorecidos ou sua “encíclica impressionante” contra as multinacionais.

Horacio González, diretor da Biblioteca Nacional e líder da Carta Aberta, um grupo de intelectuais kirchneristas, foi duríssimo em suas críticas a Bergoglio quando estava em Buenos Aires. Agora se rendeu: “Realizou uma transmutação político-religiosa fascinante. Antes o víamos como um grande opositor do Governo, representante dos setores mais conservadores, do peronismo de direita. Agora Francisco está próximo à teologia da libertação que Bergoglio combateu. Mudei minha avaliação sobre ele com uma certa dor pessoal; agora estou de alguma forma pensando contra minha própria convicção. Mas não acredito que a transmutação de Bergoglio seja uma mudança tática. O mundo mudou, e ele faz a leitura do abismo que se abre diante da enorme crise ética da humanidade.”

Dois dos argentinos que afirmam que Bergoglio não mudou são o monsenhor Marcelo Sánchez Sorondo, secretário da Pontifícia Academia das Ciências, e a jornalista Elisabetta Piqué, autora do livro Francisco. Vida e Revolução, no qual se baseia o filme sobre o papa que estreia agora. Ambos são, além disso, amigos do “padre Jorge”.

Segundo Sánchez Sorondo, Bergoglio continua sendo o mesmo: “Não mudou. Continua sendo contra o aborto, mas adverte os cristãos de que não se pode ser contra o aborto e a favor de jogar 70.000 bombas no Iraque. Mas isso o papa sempre disse. Ele é a mesma pessoa, o que é mais curioso é que no Governo agora todos sejam amigos de Francisco.”

Piqué reforça que Bergoglio “sempre teve a mesma atitude aberta e de inclusão com homossexuais e divorciados que se casaram novamente, e de misericórdia com as mulheres que passaram pelo drama do aborto”. A jornalista dá uma prova: “Não se pode esquecer que, quando era arcebispo de Buenos Aires, setores conservadores do Vaticano o questionaram por ser morno em todas essas questões, ou por ordenar aos padres de sua diocese que não se negassem jamais a batizar filhos de mães solteiras.”


Nota: O fato é que até a face de Bergoglio mudou depois que ele se tornou papa. O arcebispo era mais sisudo, como se pode ver na foto ao lado (de 2005), enquanto o papa parece ser só sorrisos. Assim, ele cativou o mundo e conquistou até mesmo seus opositores (todos se maravilham, conforme Apocalipse 13). E sua encíclica Laudato Si lhe rendeu muitos elogios e tem servido de ponte entre o Vaticano e os governos, finalmente preocupados com a questão do aquecimento global. Na notícia a seguir, quase dá a impressão de que a “natureza” resolveu dar uma força para os proponentes do ECOmenismo, que terão um momento muito especial/determinante daqui a poucos dias, quando o papa viajar aos EUA para falar a uma audiência seleta na ONU, no Senado e na Casa Branca. [MB]

Cientistas avisam: vem aí um El Niño como nunca se viu

As temperaturas globais deverão atingir níveis recordes nos próximos anos devido ao impacto dos gases com efeito de estufa combinados com o aquecimento da superfície no Oceano Pacífico, conhecido como “El Niño”, de acordo com os cientistas. A esse fenômeno deverá seguir-se uma “pausa” no aquecimento global, que alguns cientistas mais céticos apontam como uma evidência que contradiz as alterações climáticas em curso. No entanto, um estudo da Met Office, o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, sugere que o mundo está aquecendo de novo e que o sistema climático da Terra está num ponto de viragem, com várias mudanças globais ocorrendo ao mesmo tempo. Uma das alterações mais significativas é o fenômeno “El Niño”, que os cientistas acreditam já estar em curso e cujo pico é esperado para este inverno [no hemisfério norte].

Os anos 2014, 2015 e 2016 estão atingindo níveis recorde, precisamente devido à influência do “El Niño”. Adam Scaife, professor na Met Office, acredita que este será um ponto de virada na história do clima terrestre. “É por isso que estamos chamando a atenção para isso [...]; estamos assistindo a tantas mudanças de uma só vez. Muitas dessas coisas são naturais, já tivemos outros ‘El Niños’ quando éramos homens das cavernas [sic] e também há evidências de variações no Atlântico que remontam há mil anos”, sublinhou.

Ainda assim, o professor Scaife enfatiza que muitas dessas alterações podem ocorrer sem a influência dos seres humanos. “No entanto, eles agora ocorrem sobretudo por influência da atividade do homem”, acrescentou.