Os pré-candidatos Ben Carson, Scott Walker e Donald Trump |
Correndo por fora do circo midiático gerado pelo bilionário Donald Trump, um neurocirurgião aposentado sem experiência na política encostou na liderança da disputa republicana à Casa Branca. Ben Carson, 63, chega ao segundo debate entre pré-candidatos presidenciais do partido, às 21h de Brasília desta quarta (16), pela CNN, sob a expectativa de ser o único a ameaçar a supremacia do histriônico Trump. A ascensão de Carson na preferência dos eleitores republicanos impressiona. Segundo pesquisa da rede de TV CBS e do The New York Times, o médico saltou de 6% antes do primeiro debate, em agosto, para 24% na véspera do segundo. Trump, que tem dominado o noticiário com seu estilo bombástico e provocativo, segue no topo, mas teve alta modesta, de 24% para 27%. Em comum entre os dois pré-candidatos há o fato de não serem políticos profissionais e por isso atraírem eleitores fartos da política tradicional. Fora isso, são personalidades inteiramente diferentes: Trump é bilionário, branco e exibicionista. Ele ficou famoso pela fortuna ganha no setor imobiliário e por apresentar o reality show “O Aprendiz” - após comentários xenófobos, Trump será substituído no programa por Arnold Schwarzenegger. Carson, único negro na disputa, superou a infância pobre para se tornar neurocirurgião. Tem a fala pausada e prefere fugir de polêmicas.
Ao
lado dos dois “antipolíticos” no debate realizado pela rede CNN estarão outros
nove pré-candidatos que concorrem à nomeação republicana, de um total de 16. Os
demais participarão de um debate mais cedo. Além de Trump, com sua personalidade
naturalmente televisiva, grande parte da expectativa está em Carson. Analistas
tentam desvendar seu poder de atração.
A
aversão por políticos tradicionais, incluindo os governadores que estão na
corrida presidencial, explica em parte a popularidade de Trump e Carson, afirma
Matt Dallek, professor da Universidade George Washington. O perfil de lutador
contra as adversidades, diz Dallek, ajuda especialmente o médico. E interessa
aos republicanos passar a imagem de inclusão com um negro no páreo. “Carson é
uma figura que interessa à ala ultraconservadora do Partido Republicano”, disse
ele à Folha. “Ele tem a vantagem
de não ser político e dizer coisas radicais para incendiar a base sem ser
bombástico como Trump.”
No
primeiro debate, Carson não se destacou, mas tampouco comprometeu. Tem
plataforma vaga o bastante para atrair eleitores de todas as esferas, com
propostas como restaurar a responsabilidade fiscal, lutar contra o terrorismo
islâmico e proteger as fronteiras da imigração ilegal. Seu trunfo está na
personalidade. Os simpatizantes de Carson costumam citar sua fé em Deus e a
história de superação do negro filho de mãe solteira criado numa área miserável
de Detroit que se tornou um celebrado médico, condecorado pelo presidente dos
EUA.
Ex-chefe
de neurocirurgia pediátrica da Universidade John Hopkins, em Baltimore, Carson
ficou mundialmente famoso ao ser o primeiro médico a separar com sucesso gêmeos
siameses unidos pelo cérebro, nos anos 1980. [...]
Nota: Conversava esta manhã com o amigo e colega de mestrado pastor Sérgio Santeli, de São Paulo, sobre essa situação interessante na
corrida presidencial norte-americana. Santeli levantou algumas questões
importantes: Será que teremos a última eleição norte-americana entre um
adventista republicano e um católico democrata? Seria um cenário cem por cento
escatológico! Imagine, num futuro debate em cadeia nacional, o democrata
evangélico Joe Biden ou mesmo o evangélico Trump perguntando em tom provocador, bem ao estilo dele: É verdade que sua
religião acredita que o papa é a besta do Apocalipse? É verdade que a sua igreja
acredita que o mundo foi criado em seis dias? É verdade que você acredita em
Adão e Eva? A imensa maioria neste país guarda o domingo, por que você e sua
igreja guardam o sábado? Você é fundamentalista? O que você tem a dizer sobre o recente atentado no
Vaticano [imaginando que isso possa acontecer]? Você está do lado dos terroristas contra o Vaticano? Tempos
interessantes estes... [MB]