Não era assim que eles viviam... |
Tenho ouvido argumentos do tipo: se ossos humanos e de dinossauros
não são encontrados juntos, então eles não viveram ao mesmo tempo. Porém, não é possível afirmar que eles não
viveram ao mesmo tempo. Mas é possível afirmar, sim, que eles não foram
enterrados juntos. Especialmente, quando
é levada em conta a teoria do zoneamento paleoecológico.[1] Esse modelo foi formulado pelo biólogo Harold W. Clark, pesquisador afiliado a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), a fim de explicar a distribuição ecológica dos organismos em um ambiente pré-diluviano no qual seria possível que diversas criaturas vivessem ao mesmo tempo no planeta, mas sem nunca se cruzarem devido ao fato de que cada organismo vivia em ambientes
diferentes.[2] Por exemplo, você já viu um tigre e um urso panda no mesmo
habitat? Portanto, só
porque os animais não são encontrados juntos no mesmo espaço geográfico ou no mesmo estrato geológico (considerando seus fósseis) não significa que eles não
viveram ao mesmo tempo.
A fossilização é um evento raro, especialmente de seres humanos
que têm muita mobilidade em comparação com os répteis (incluindo os
dinossauros). Um ponto crucial a ser levado em consideração é o da mobilidade
diferencial. Uma vez que as águas do dilúvio universal levaram semanas para
cobrir a terra, muitas pessoas poderiam ter feito barcos, ter se agarrado a
detritos flutuantes, e assim por diante. Alguns podem ter subido para terrenos
mais elevados. Embora eles não tivessem durado tanto tempo e teriam finalmente sido
afogados, muitos corpos podem ter ficado flutuando na superfície da água e ter
sido decompostos ou devorados (por aves ou animais marinhos carnívoros) e, portanto,
não ter sido fossilizados.[3]
Mas suponhamos que esses corpos tivessem sido soterrados pelos
sedimentos, a decomposição orgânica poderia ainda ocorrer
posteriormente (isto é, pós-deposição). Por
exemplo, se as águas subterrâneas que permeiam os sedimentos (tais como
arenito) contivessem oxigênio suficiente, em seguida, o oxigênio provavelmente
oxidaria as moléculas orgânicas nos corpos enterrados e, assim, as destruiria.
Do mesmo modo, as águas subterrâneas quimicamente ativas também poderiam ser
capazes de dissolver os ossos humanos, a remoção de todos os vestígios de
pessoas enterradas.[3]
Outras hipóteses
criacionistas postulam que os continentes pré-diluvianos foram subduzidos para
dentro do manto terrestre, aniquilando totalmente os restos das civilizações.[4] Os fósseis que foram preservados devem
ter sido soterrados no final do dilúvio, perto da superfície terrestre, e teriam
estado sujeitos à erosão e destruição mais uma vez pela força e velocidade das
águas que regrediam, enquanto partes do continente se elevavam.
Outro ponto que dificulta a possibilidade de encontrar fósseis humanos
e de dinossauros juntos relaciona-se aos locais de escavação desses fósseis. Os
paleontólogos têm escavado regiões desérticas, principalmente na África,
conclui o jornalista Michelson Borges.[5] Porém, Genesis 8:1 relata que, após o
dilúvio, Deus enviou um vento forte que levou para longe os cadáveres que
estavam boiando. Possivelmente, para as montanhas - onde esbarrariam, seriam soterrados e teriam a chance de ser
fossilizados. Quem sabe um dia eles ainda não sejam descobertos por lá? As
evidências levantadas pelo biólogo Roberto César de Azevedo corroboram essa
nossa inferência, ao listar alguns locais com grande possibilidade de se
encontrar fósseis de seres humanos antediluvianos.[6]
Por outro lado, é fato que os vestígios
de cadáveres podem desaparecer de uma só vez. Em 26 de dezembro de 2004, por
exemplo, o tsunami que atingiu o sudeste da Ásia (Indonésia) foi um lembrete
chocante da velocidade com que a água e outras forças podem eliminar todos os
vestígios de corpos, mesmo quando se sabe o local exato por onde procurar. Segundo relatório emitido pela
ONU e a Cruz Vermelha, cerca de 37.000 vítimas do
tsunami nunca foram encontradas após cessarem
as buscas.[7, 8] Possivelmente, muitos foram soterrados e podem ter sido
fossilizados.
Dezenas de fósseis são encontrados todo mês e, por isso, muitos
acreditam que as descobertas de fósseis humanos também sejam abundantes. Porém,
o número encontrado de fósseis humanos e dinossauros, na verdade, é
relativamente pequeno, comparado a outros tipos de criaturas.[3, 9] Segundo pesquisas, 95% de
todos os fósseis conhecidos são de criaturas marinhas (moluscos, corais, trilobitas,
etc.). Dos 5% restantes, 4,74% dos fósseis são de árvores/plantas, algas e insetos; e 0,25% são de animais terrestres. Esses animais terrestres são representados por répteis (dinossauros, por
exemplo), peixes, anfíbios, aves e mamíferos (incluso humanos).
Outro ponto interessante é o de que a população humana pré-diluviana
era relativamente pequena, embora as estimativas sejam baseadas em pouca
informação, já que Gênesis 1 não informa sobre o tamanho das famílias ou sobre
o crescimento populacional. O que se sabe é que Noé estava na décima geração de
sua linhagem, e ele viveu cerca de 1.650 anos após a semana da criação. Gênesis
também indica que as crianças da linhagem até Noé nasceram quando os pais
tinham idades entre 65 e mais de 500 anos (quando Noé gerou seus três filhos).
Sabe-se que as pessoas das linhagens de Adão a Noé viviam mais de 900 anos cada
uma, mas não se sabe ao certo se todos viveram tanto tempo.
Também são desconhecidas as taxas de natalidade e mortalidade das
crianças. Entretanto, a Bíblia relata
que a violência encheu a terra; assim as taxas de morte podem ter sido extraordinariamente
altas. As estimativas indicam que existia no momento do dilúvio entre 5 a 17
milhões de pessoas.[10-12] Mesmo se fizermos uma suposição generosa de 200
milhões de pessoas no momento da inundação, haveria pouco mais de um fóssil
humano por quilômetro cúbico de sedimentos previsto pelo dilúvio.
Diante disso, é possível que os fósseis
humanos do período diluviano possam existir, mas simplesmente ainda não foram
encontrados. E mesmo que os fósseis de humanos e de dinossauros não sejam
encontrados na mesma camada, isso não afeta em nada a narrativa bíblica da história, diante das evidências aqui
apresentadas.
(Everton Alves)
Referências:
[1] Clark HW. The New Diluvialism. Angwin, CA: Science Publications, 1946, pp. 37-93.
[2] Roth AA. Origins: Linking Science and Scripture. Hagerstown, Maryland:
Review and Herald Publ. Assn., 1998, p. 170-175.
[3]
Snelling AA. “Where are all the human fossils?” Creation
1991; 14(11):28-33. Disponível em: http://creation.com/where-are-all-the-human-fossils
[4] Morris JD. “Why Don’t We
Find More Human Fossils?” Acts & Facts 1992; 21(1). Disponível em: http://www.icr.org/article/why-dont-we-find-more-human-fossils/
[5]
Borges, M. A História da Vida. Tatuí,
SP: CPB, 2011.
[6] Azevedo RC. A origem
superior das espécies: uma nova teoria. São Paulo: Unaspress, 2004, p. 136.
[12] Morris JD. The Young Earth. Green
Forest, AR: Master books, 2007.
[13] Hodge B. “Why Don’t We Find
Human & Dinosaur Fossils Together?” Capítulo 13, The
New Answers Book, 2007. Disponível em: https://answersingenesis.org/dinosaurs/humans/why-dont-we-find-human-dinosaur-fossils-together/
[7]
Relatório da Cruz Vermelha. “Indonésia:
a resposta humanitária desde o tsunami” [13/04/2005]. Disponível em: https://www.icrc.org/por/resources/documents/update/6e8gfv.htm
[8]
Cluff LS. “Effects of the 2004
Sumatra-Andaman Earthquake and Indian Ocean Tsunami in Aceh Province.” The Bridge. 2007;
37(1):12-16. Disponível em: https://www.nae.edu/File.aspx?id=7405
[9] Morris J. The Young Earth.
GreenForest, AR: MasterBooks, 2001.
[10] Morris HM. Biblical Cosmology and Modern Science. Grand Rapids,
Michigan: Baker Book House, 1970, 77-78.
[11]
Pickett T. Population of the PreFlood World. Lambert Dolphin’s Library, 2004. Disponível em: http://www.ldolphin.org/pickett.html
[12] Morris JD. The Young Earth. Green
Forest, AR: Master books, 2007.
[13] Hodge B. “Why Don’t We Find
Human & Dinosaur Fossils Together?” Capítulo 13, The
New Answers Book, 2007. Disponível em: https://answersingenesis.org/dinosaurs/humans/why-dont-we-find-human-dinosaur-fossils-together/
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