segunda-feira, janeiro 05, 2009

Extremos de Veja

A revista Veja desta semana foi capaz de demonstrar equilíbrio e preconceito em textos publicados com poucas páginas de intervalo. Na Carta ao Leitor, comentando o acirramento do conflito entre Israel e palestinos, a semanal explica que “os palestinos dividiram-se entre aqueles que apoiam a Autoridade Palestina, que negocia com Israel, e o Hamas, o grupo terrorista que prega a destruição do estado israelense, fundado em 1948 na esteira do holocausto. É o Hamas o alvo da operação das Forças Armadas de Israel na Faixa de Gaza. O grupo vinha utilizando o território, dominado por seus militantes, para lançar foguetes contra alvos do outro lado da fronteira. Do ponto de vista estritamente militar, a operação é movida por uma causa razoável? Aparentemente, sim. Do ponto de vista humano, ela é desproporcional? Absolutamente, sim. Eis a essência do problema quando o assunto é Israel e palestinos: ambos os lados conseguem ter razão não tendo, muitas vezes, razão nenhuma”.

Mas a boa análise da revista é ofuscada, em minha opinião, pelo ataque gratuito de Tony Bellotto aos criacionistas, na página 28: “Acendam as luzes da razão! Não deixem que a Idade das Trevas volte a eclipsar a sabedoria humana! Notícias dão conta de que o criacionismo – doutrinação religiosa disfarçada de pseudociência – cresce entre as escolas brasileiras. E não apenas no ensino religioso, em que faria sentido, mas nas aulas de ciência.”

Em poucas linhas, Bellotto consegue demonstrar todo o seu desconhecimento do assunto. O criacionismo tem, sim, bases científicas que poderiam ser analisadas (assim como as proposições do Design Inteligente) nas aulas de ciências juntamente com o darwinismo. A intenção não é de doutrinamento, mas, sim, de que se ensine o contraditório e se mostre as insuficiências epistêmicas da teoria da evolução. Isso somente ajudaria a formar a visão crítica dos alunos. O criacionismo tem fundamento religioso, com certeza, mas é preciso que se esclareça de uma vez por todas que o darwinismo, de modo semelhante, tem muito de filosófico, não sendo uma teoria plenamente falseável, no entender de Karl Popper. Ademais, sempre é bom repetir: naturalismo filosófico não é sinônimo de naturalismo metodológico.