Os
últimos acontecimentos nos Estados Unidos relacionados ao monitoramento de
dados das pessoas promovido pelo governo despertaram grande preocupação por
parte da opinião pública em relação à ameaça à liberdade e à democracia, tão
defendidas por essa nação. Um
fator que revelou essa preocupação foi o aumento
estratosférico de mais de 7000% das vendas do livro 1984 de George Orwell, publicado em 1949.[1] O motivo é porque o
livro denuncia de forma detalhada as futuras estratégias dos Estados
totalitários na tentativa de restringir a privacidade dos indivíduos, que são
bem semelhantes às praticadas pelos Estados Unidos, hoje. O presidente Barack
Obama tem sofrido duras críticas por invadir a privacidade dos indivíduos na tentativa de obter dados confidenciais
comprometedores. Essa prática de espionagem tem sido encarada como violação
declarada dos direitos civis. Essa atitude ameaça de morte o que há de mais
importante nessa nação: a democracia.
Sendo
os Estados Unidos da América conhecidos historicamente como o país símbolo da
liberdade individual e da democracia, por que então essa nação estaria lançando
mão de comportamentos típicos dos regimes totalitários? Ao fazer uma reflexão
sobre as notícias de violação de privacidade por parte do governo norte-americano,
acredito que pelo menos três fatores estão motivando a desconstrução dos
sólidos muros democráticos desse país.
A crise
O
primeiro fator tem que ver com a crise. A crise de qualquer espécie desmantela
qualquer sistema social, político, religioso e econômico sólidos. Marvin Moore,
jornalista e escritor, reproduzindo o pensamento do livro The Addictive Organization, salienta que “as crises são usadas para
desculpar ações drásticas e equivocadas por parte dos administradores”.[2] Além
disso, ressalta também que “quando a norma é a crise, a administração tende a
assumir uma quantidade perigosa de poder a cada dia”.
Moore
acrescenta ainda, ao citar Michael Barkun, autor da obra Disasters and the Millennium, que “o desastre cria condições
especialmente adaptadas à rápida alteração de sistemas de valores”.[3] Sendo
assim, como consequência de um desastre ou crise, são muito grandes as chances
de um indivíduo ou grupo de pessoas abandonarem antigos valores há muito
acalentados. Moore afirma também que “sistemas de crenças que talvez fossem
rejeitados em condições livres de desastre, agora recebem consideração
favorável”.[4].
Com
os ataques de 11 de setembro de 2001, a América
se viu mergulhada em uma crise estratosférica de segurança nacional. Diante
disso, os líderes norte-americanos se viram obrigados a rever seus conceitos
democráticos de liberdades individuais havia muito defendidos. Então, a
primeira atitude do governo norte-americano foi lançar mão de um movimento de
violação dos direitos civis. Os Estados Unidos passaram a grampear secretamente
e-mails e telefonemas de indivíduos sem consulta prévia ou autorização
judicial. Os últimos passos nessa direção dados pela política norte-americana
foram revelados na mídia recentemente, quando o governo realizou uma “coleta
indiscriminada de registros telefônicos de milhões de cidadãos pela Agência de
Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês)”.[5]
Fica
claro com isso que, a fim de promover a segurança da nação, o governo adotou
práticas de regimes totalitários utilizadas no passado e ainda hoje. O “país
mais livre do mundo” abriu mão da democracia para agir autoritariamente e até
violar os direitos civis há muito defendidos por ele, atestando com isso o
óbito da sua democracia.
Monopolização da
informação
A
monopolização da mídia norte-americana é outro fator que tem facilitado ao
governo minar a democracia com suas ações totalitárias. A informação
jornalística na mão de poucas corporações está conduzindo a América ao
enfraquecimento do debate e ao fortalecimento da alienação popular. Ruben Dargã
Holdorf, em seu artigo “O fim da democracia norte-americana: A imprensa leva a
culpa”,[6] alerta que “quando as comunicações se aglutinam sob o comando e a orientação
de poucos ou somente uma empresa jornalística, ocorre o risco da manipulação”.
Vanderlei
Dorneles, em sua obra O Último Império (CPB), acrescenta que “com a Comissão
Federal de Comunicação, a legislação rígida sobre imprensa vem sendo alterada”.[7]
E hoje, segundo Dorneles, “nada menos que 90% de tudo que os americanos veem,
ouvem e leem são produzidos por apenas seis empresas, que no passado foram mil
(AOL, Time Warner, Viacom, Disney, General Eletric, News Corporatione Vivendi
Universal)”.[8]
Como
esse processo de monopolização da informação, que não permite à população ter
acesso a diferentes pontos de vista e, com isso, criticar as decisões
autoritárias do governo, faz-se com que o risco de morte da democracia desse
país seja cada vez maior, a cada dia que passa.
Os ataques preventivos
ao inimigo
No
passado, sobretudo em 2001, o governo norte-americano iniciou a prática de
atacar preventivamente o inimigo. Essas ações têm-se revelado nitidamente como
totalitárias. Dorneles revela o pensamento-base desses ataques ao afirmar que,
“quando os interesses e a segurança dos Estados Unidos estiverem em questão,
eles não hesitarão em ‘agir sozinhos’, referindo-se a uma completa
independência em relação aos aliados e às Nações Unidas”.[9]
Hoje,
o investimento do Estado Americano está sendo canalizado para uma nova
modalidade de ataques preventivos, como os “ciberataques”. Por meio dessa
iniciativa, apresentado pelo senador John Edwards, o governo deve fornecer US$
350 milhões durante os próximos cinco anos para o Instituto Nacional de Padrões
e Tecnologias,[10] a fim de produzir tecnologias de informação mais eficazes no
combate ao terror.
Esses
ciberataques permitem ao governo invadir ou atacar os computadores de
instituições, organizações, empresas e indivíduos suspeitos de terror, isso sem
autorização judicial. Assim, mais uma vez, a América se revela uma nação verdadeiramente
autoritária, que aos poucos vem minando sua própria democracia.
Conclusão
As
ações denunciadas acima, tais como crise, monopolização da informação e os
ciberataques têm assustado e acendido um sinal de alerta por parte da população
mundial. Contudo, essas ações em direção ao enfraquecimento
da democracia norte-americana foram denunciadas pela escritora Ellen White, há
mais de cem anos. Em sua obra mais famosa, publicado no fim do século 19, ela alerta
de forma contundente sobre as atuais ameaças à liberdade individual, quando diz
que “a corrupção política está destruindo o amor à justiça e a consideração
para com a verdade; e mesmo na livre América do Norte [...] a liberdade, obtida
a tão elevado preço de sacrifício, não mais será respeitada”.[11]
Se
essas práticas forem copiadas por outras nações, tendo como justificativa a
segurança, poderemos presenciar um ressurgimento do totalitarismo no Ocidente
sem precedentes na História.
(Wanderson Vieira da
Silva, A Voz do Profeta)
Referências:
1.
Disponível em <http://oglobo.globo.com/cultura/venda-de-1984-de-george-orwell-cresce-7000-apos-escandalo-de-espionagem-nos-eua-8653420>;.
Acesso em 26 jun. 2013, 14:31:30.
2.
MOORE, Marvin. Apocalipse 13: leis
dominicais, boicotes econômicos, decretos de morte, perseguição religiosa -
isso poderia realmente acontecer?, 1ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,
2013, p. 248.
3.
Ibidem, p. 251.
4.
Ibidem.
5.
PACIORNIK, Celso. “Ameaça à Democracia”. [S.I]: Estadão.com.br/Internacional.
Disponível em
Acesso em 26 jun. 2013, 14:50:40.
6.
HOLDORF, Ruben Dargã. “O fim da democracia norte-americana: a imprensa leva a
culpa”. Web Site Sala de Prensa: Disponível em
Acesso em 26 jun. 2013,
14:41:29.
7.
DORNELES, Vanderlei. O último império: a
nova ordem mundial e a contrafação do reino de Deus. 1ed. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2012, p. 160.
8.
Ibidem.
9.
Ibidem, p. 161.
10.
Disponível em <http://idgnow.uol.com.br/mercado/2002/01/29/idgnoticia.2006-05-07Acesso>;
Acesso em 26 jun. 2013, 14:45:27.
11.
WHITE, Ellen G. O grande conflito.
ed. 22. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009, p. 566.