“Quando
você tem dois deuses batalhando, é como se seu mundo fosse feito de papel”,
disse Zack Snyder, o diretor de O Homem de Aço. “Deuses não são
cuidadosos. Um deles é, pelo menos, mas isso não importa muito no calor da
batalha”, comentou em coletiva de imprensa na tarde de sexta em Los Angeles,
referindo-se aos antagonistas do filme, Superman (Henry Cavill)
e o General Zod (Michael Shannon). O exagero na ação e destruição desses
encontros é um contraponto interessante no filme com os temas e
simbolismos. “Nosso objetivo foi pegar um quadrinho e levá-lo às telas da
melhor maneira possível, sem preocupações com realismo e fatos do mundo real. É
uma obra de ficção, mas com preocupações verdadeiras sobre o que ela
representa. Superman é uma metáfora sobre encontrar seu lugar no
mundo, para essa jornada. Todo mundo é incompreendido quando jovem, quando
criança. Esse é um sentimento universal”, segue Snyder.
Segundo
o roteirista David Goyer, “todos conseguem se identificar com
não ser compreendido e buscar seu lugar no mundo. Mas a grande diferença é que
Kal-El tem a responsabilidade de escolher entre mudar o planeta ou não. Ele
conta com os ensinamentos de seus pais para escolher, mas ao final é a voz de
seu pai biológico, Jor-El, que o guia na decisão definitiva. Kryptonianos não
escolhem seus destinos – essa é a diferença fundamental entre os humanos e eles”.
Uma
das grandes preocupações sobre o papel do Superman nos dias de hoje, quando há
super-heróis muito mais “malandros” nas telas, é como torná-lo “bacana” outra
vez. “Superman é legal? É legal fazer o certo. Ele é um trabalhador
voluntário em escala global, alguém que não busca glórias pelo que faz.
Superman é legal, sim”, garante Snyder.
O
simbolismo religioso é outro elemento que O Homem de Aço resgata. “A relação entre Jesus Cristo e Superman não
foi inventada por nós. Existe desde a criação do personagem. Mas é uma
dessas coisas que desapareceram nas últimas décadas... Eu achei que deveríamos
voltar a falar dessa mitologia e da
importância desse personagem e sua relevância para o momento”, explica
Snyder. “A mitologia da história estabelece um paralelo interessante com a
história de Cristo, dando uma camada de interesse extra ao filme. Filosofia,
religião, respeito aos quadrinhos, tudo isso nos interessou.”
Goyer
também exalta outras referências mitológicas: “O mito de Moisés é outra influência. Superman tem raízes no Novo e
também no Velho Testamento. Ele é um personagem
messiânico e ao mesmo tempo meio Beowulf, meio Gilgamesh, entre outros
heróis clássicos que representam a conciliação entre os deuses e nós.”
(Omelete)
Nota:
Não é de agora que os “deuses dos quadrinhos” vêm ganhando as telas do cinema e
invadindo as locadoras. X-Men, Wolverine, Thor, Lanterna Verde, Batman, Os Vingadores, Homem-Aranha e outros já tiveram sua vez. E é claro que o maior de
todos os super-heróis e o pioneiro da DC Comics não poderia ficar fora dessa
nova onda. Superman é claramente uma paródia de Jesus Cristo: ele vem de fora
da Terra, é adotado por uma família humana, inicia seu “ministério” em favor da
humanidade já na vida adulta, morre numa história em quadrinhos que vendeu
milhões e, posteriormente, é ressuscitado. Nesse novo filme de Zack Snyder, o
personagem se aproxima ainda mais da história sagrada, fazendo-a parecer tão
mitológica quanto o filme. Note que para o roteirista de O Homem de Aço, até a
história de Moisés é mito. E assim esses filmes vão cumprindo uma “agenda” que
parece ser a mesma: substituir a crença nos antigos deuses pela idolatria dos
novos “deuses”, mitologizando a ideia de que existe um verdadeiro Filho de Deus
que efetivamente morreu pela humanidade e que prometeu voltar para levar
consigo aqueles que aceitarem Sua proposta de vida eterna numa nova realidade
sem pecado. Quanto mais distração e distorção houver no caminho dos filhos de Deus, melhor para
aquele que já foi derrotado pelo Herói e que não quer ninguém do lado
vencedor.[MB]