As
manifestações que,
contrariando algumas expectativas, continuam ocorrendo em todo o Brasil e já
duram alguns dias, apenas mostram que o mundo é uma verdadeira panela de
pressão prestes a explodir, vazando por todos os lados (leia, por favor, a nota
desta postagem). A paz nos grandes centros é muito frágil e a situação pode se
transformar num campo de batalha em pouco tempo. As reivindicações são justas,
porque as injustiças são um fato, mas alguns apelam para o vandalismo e prejudicam
todo o movimento, que, por parte da maioria, segundo se alardeia, tem caráter
pacifista. A Catedral de Brasília, por exemplo, levou quatro meses para ter
seus vitrais reformados – foram quebrados em questão de minutos por
manifestantes irresponsáveis. O Theatro Municipal de São Paulo, verdadeiro
tesouro arquitetônico e cultural, foi barbaramente pichado por pessoas que não
sabem a diferença entre a justa indignação contra uma situação e o ataque a um
patrimônio que também é delas. Esses são apenas dois exemplos de atitudes
revoltosas de pura ignorância anárquica.
Tá
na cara: falta organização a esse movimento. Faltam vozes de liderança. Embora
tenham conseguido a redução das tarifas dos transportes coletivos em muitas
cidades, o que é uma conquista, sem dúvida, os rumos que o movimento vem
tomando empolgam os revoltados – todos nós –, mas também preocupam. Estudante
de letras da USP, Julia, de 23 anos, constata que “a polícia não está mais
violenta, mas a violência agora parte das pessoas. O protesto virou uma festa.
As pessoas estão bebendo, brigando contra tudo, e os poucos que estavam
organizados por uma causa foram expulsos hoje”. O analista de tecnologia da
informação Pedro Henrique Gonçalves, 26 anos, diz que a falta de um comando
gera desorganização e faz com que o protesto perca força. “Esses protestos não
têm liderança. Acho que precisa ter um comando, algo assim. Se não, fica
tudo meio perdido.”
Segundo
matéria publicada no portal Terra, alheias às (confusas) pautas de reivindicação, muitas pessoas pareciam estar em uma grande festa. Munidos de
bandeiras do Brasil e cartazes, jovens se deitavam nas faixas de pedestre da Avenida
Paulista para posar para fotos, imediatamente compartilhadas nas redes sociais.
“Desde pirralho eu sonhava com esse dia, em que as pessoas iriam para as ruas
protestar. Mas cheguei aqui hoje e isso parece uma festa. Parece um concurso de
cartazes para exibir no Facebook. Hoje o Brasil mostrou que não tem maturidade
para assumir um movimento sem controle e sem lideranças”, lamentou Fagner
Augusto, 21 anos, professor de filosofia.
Quais os
perigos de um movimento assim acéfalo? Golpe de oportunistas que podem tornar a
situação no País ainda pior? Prevalência da baderna pura e simples e desgaste
do poder de manutenção da ordem por parte das autoridades? Caos urbano? Tudo
isso é possível, sim. Por outro lado, o povo pode ter se dado conta de que é
possível alcançar algumas conquistas sociais por meio da manifestação, saindo
assim de uma condição letárgica que já durava havia anos. É bom que os políticos
percebam isso e fiquem mais preocupados com a condução responsável da nação.
Não é novidade para ninguém que a impunidade é uma mancha horrível na reputação
deste país. Ladrões de galinha sempre (ou quase sempre) foram presos, ao passo
que bandidos de colarinho branco desviam milhões que poderiam ser investidos em
saúde e educação, e raramente vão para a cadeia – na verdade, alguns são até reempossados
em cargos importantes...
O fato é
que, para aqueles que conhecem os bastidores do conflito cósmico entre o bem e
o mal, a situação do Brasil, neste momento, é apenas um pequeno ato no grande
drama. Será bom que se consigam algumas conquistas sociais. Será bom que o povo
desperte do torpor causado pelo pão e circo, durante anos. Será bom que os
governantes se assustem um pouco. Será bom. Mas o que é bom, num mundo mau, não
dura muito tempo. Lembremo-nos de que, neste exato momento, centenas, milhares
de pessoas estão morrendo em conflitos ao redor do mundo (na Síria, quase cem
mil já perderam a vida naquela guerra civil absurda). Certamente, terroristas
estão planejando o próximo ato que vai ceifar outras tantas vidas (como o
ocorrido em Boston, há
alguns meses). Fome, desemprego, crise econômica, guerras e rumores de guerra –
tudo isso somado a desastres naturais cada vez mais mortíferos... Realmente
nosso lar não é aqui. A pressão da panela só aumenta.
Em breve
a situação ficará realmente insustentável. Um grande líder finalmente assumirá
as rédeas do mundo e conduzirá as massas acéfalas. Aí, mais do que agora, os
pacifistas serão acusados de apáticos, alienados, promotores da desunião, e
serão punidos por isso. Hoje há apenas críticas contra aqueles que defendem que
a solução está não apenas nas manifestações justas e ordeiras, mas
principalmente na pregação do evangelho que converte corações, não apenas muda
o status quo. Uma pregação que é por
si só contracultural e abala o mundo, porque transforma sua base: os
indivíduos. Basta lembrar do que os cristãos fizeram com o Império Romano,
simplesmente por obedecer às palavras de Jesus. Aqueles homens e mulheres fiéis
deram literalmente a vida pelo evangelho, e seu sangue foi muito mais poderoso
do que palavras de impacto escritas em cartazes exibidos para as câmeras.
Muitos
cristãos estão dispostos a ir para as ruas brigar por justiça (e eles têm todo
o direito de fazer isso), mas será que estariam dispostos a dar a vida pela
causa do Mestre? Ah, se a mesma empolgação e o mesmo nível de compartilhamento de conteúdos nas redes sociais fossem vistos na pregação do evangelho! Talvez nem estivéssemos mais aqui neste mundo injusto. A solução definitiva já teria chegado. Os mártires do passado – todos, sem exceção – viveram e
morreram pela bandeira de Cristo, pois sabiam que o cristianismo levado de
coração a coração se constitui na verdadeira revolução.
(Lembre-se
disso quando houver a convocação para o próximo Impacto Esperança.)
Michelson Borges
“O governo sob que Jesus viveu era
corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos – extorsões, intolerância
e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma reforma civil.
Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não
interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no
poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado
dos governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do
homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e
externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem,
individualmente, e regenerar o coração” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 509).