quarta-feira, janeiro 21, 2015

Cópia mais antiga do Evangelho é encontrada em múmia

Máscara de múmia do Egito
Um grupo de cientistas encontrou a cópia mais antiga do Evangelho em um papel papiro reutilizado para construir a máscara de uma múmia egípcia, revelou à Agência Efe Craig Evans, doutor em Estudos Bíblicos e um dos responsáveis pela descoberta. Trata-se de um fragmento do Evangelho de São Marcos, localizado há três anos e que, agora, especialistas da Universidade Evangelista de Acadia, no Canadá, consideram como o primeiro manuscrito do Novo Testamento da Bíblia de que se tem conhecimento. Os cientistas acham que a origem do papiro remonta ao primeiro século de nossa era, entre o ano 80 e 90 d.C., o que representa uma grande novidade. Até então, as cópias mais antigas datavam do século II depois de Cristo.

Os especialistas acreditam que alguém escreveu o fragmento de texto no papiro e, depois, outras pessoas reciclaram o material, muito caro na época, para elaborar a máscara funerária. As máscaras de papel eram utilizadas pelas pessoas pobres do Egito, não tendo relação com as feitas em ouro e joias para cobrir os rostos dos grandes faraós, explicou Evans.

Acredita-se que São Marcos escreveu seu evangelho em Roma, acompanhado de São Pedro. Mas como a cópia viajou da atual capital italiana ao Egito? O caminho não é assim tão longo, garante o pesquisador. “No Império Romano, o correio tinha a mesma velocidade de hoje em dia. Uma carta escrita em Roma pode ser lida no Egito semanas depois. Marcos escreveu seu evangelho no final dos anos 60 d.C. [quando ainda havia muitas testemunhas oculares de Jesus, que poderiam refutar o registro dos evangelistas, caso fosse mentira], portanto, era possível encontrar uma cópia no Egito 20 anos depois”, defende.

Para determinar a data dos papiros, os cientistas usaram uma técnica que permite descolar o papel das máscaras sem danificar a tinta. Dessa forma, os textos podem ser lidos com a mesma clareza.

Esse evangelho é uma das centenas de documentos que estão sendo analisados pela equipe de Evans, composta por mais de 30 especialistas. “Estamos recuperando antigos documentos do primeiro, do segundo e do terceiro séculos depois de Cristo. Não só documentos bíblicos, mas também textos gregos clássicos ou cartas pessoais”, explicou Evans, que revelou que alguns deles pertencem ao poeta grego Homero, autor de grandes obras clássicas como Ilíada e Odisseia.

No caso do fragmento do evangelho de São Marcos, foram analisados também o design do projeto e as decorações da máscara, assim como o estilo da escrita e a datação do material, através do uso do isótopo carbono-14.

No fim do ano, as descobertas serão divulgadas em uma revista especializada. Só então o público conhecerá qual o trecho do Evangelho de São Marcos está escondido nos papiros da máscara egípcia.

(UOL Notícias)

Comentário de Luiz Gustavo Assis, por e-mail: Há uns três anos, outro estudioso do Novo Testamento, Daniel Wallace, já havia mencionado a existência desse manuscrito. Ele de certa forma é revolucionário, já que o fragmento mais antigo do Novo Testamento era o chamado P52, Papiro Johns Rylands, contendo alguns versos do capítulo 18 de João, produzido aproximadamente em 125 d.C. Há uma discussão envolvendo um fragmento encontrado em Khirbet Qumran, o local onde os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados. O 7Q5, como ele é chamado, estaria aparentemente relacionado com o evangelho de Marcos capítulo 7, e sendo que a comunidade que ali morava foi destruída no começo dos anos 60, o livro de Marcos teria de ter sido escrito na década de 50. Mas essa opinião está longe de ser dogmática. Esse novo manuscrito recentemente anunciado é inquestionavelmente do primeiro século d.C. Se a tradição estiver correta ao afirmar que esse evangelho foi escrito em Roma por João Marcos, o fato de ele ter sido encontrado no Egito é sugestivo. Sugere que o cristianismo, de fato, estava se espalhando pelo Oriente em um curto período de tempo e numa época em que testemunhas oculares dos eventos ali narrados ainda estavam vivas. Um dos acadêmicos que estão trabalhando no estudo desse manuscrito e de outros ali encontrados é Craig Evans, da Acadia Divinity College, no Canadá. Ele é um dos entrevistados por Lee Strobel, no livro Em Defesa de Cristo.