Design ou mutações casuais? |
[Meus
comentários seguem entre colchetes. – MB] Observando a natureza, é fácil surgir
a pergunta: Para que servem os lábios? Os pássaros vivem muito bem sem eles, os
lábios das tartarugas são rígidos como bicos e, mesmo com os lábios existindo
na maioria dos mamíferos, o homem é o único a tê-los permanentemente voltados
para fora. Os cientistas dizem que os lábios são tão importantes que até
compensam o fato de, às vezes, serem mordidos enquanto mastigamos. Usar os
lábios para sugar é uma das primeiras habilidades que temos ao nascer. Essa
aptidão fundamental para nossa sobrevivência é conhecida como “reflexo
primitivo”. Todos nós nascemos sabendo sugar e não precisamos aprender. E isso
vale para quase todos os mamíferos. E é esse reflexo que, combinado com outra
resposta primitiva, o reflexo de busca, permite aos recém-nascidos mamar.
O
reflexo de busca funciona ao se girar a cabeça do bebê para estar de frente
para qualquer coisa que toque sua boca ou sua bochecha. Assim que ele agarra
algo com seus lábios, seu reflexo de sucção é ativado. Apesar de a língua fazer
boa parte do trabalho na mamada, os lábios são essenciais para manter um lacre
que permite ao bebê engolir o leite. Isso significa que mamar, seja no peito ou
na mamadeira, não é um comportamento passivo do bebê. É quase como uma
conversa, com cada lado fazendo sua parte em uma dança cuidadosamente
coreografada pela evolução [e antes que essa “dança evoluísse”, como os bebês
sobreviviam?]. E os lábios estão no centro dessa dança.
Os
lábios também são importantes no ato de comer e na fala. Em linguística, os
lábios representam um dos muitos pontos de articulação – partes da boca e da
garganta que ajudam a bloquear o ar que vem dos pulmões e formar os fonemas. A
fala é um aspecto crucial da vida humana, mas talvez não tão divertida quanto o
beijo.
O
beijo não é universal, mas aparece em 90% das culturas. Suas raízes estão na
biologia, talvez uma combinação de impulsos natos com um comportamento
adquirido. Sabemos que outras espécies também se beijam. Os chimpanzés fazem
isso para se reconciliar após uma briga e os bonobos usam a língua.
Em
uma edição da publicação Scientific
American Mind de 2008, o escritor Chip Walter argumentou, citando o
zoólogo britânico Desmond Morris, que o beijo pode ter se originado do costume primata de mastigar alimentos e
passá-los para a boca dos filhotes. O encontro dos lábios pode então ter se
tornado uma maneira de aliviar a ansiedade. [Quanta imaginação, não acha?]
Alguns
estudos de condicionamento sugerem que, após estimular os lábios com comidas, o
simples ato de tocá-los já provoca sentimentos de prazer. Acrescente aí a
grande presença de terminações nervosas dos lábios, e você terá a receita do
êxtase.
Os
lábios são tecidos especialmente sensíveis. A parte do cérebro responsável por
detectar o toque é chamada de córtex somatossensorial e fica no topo do
cérebro, em uma área chamada de giro pós-central. [Pensando na tese da
complexidade irredutível, vem a pergunta: O que surgiu primeiro, as terminações
nervosas táteis dos lábios ou a área específica do cérebro responsável por
detectar o toque? Uma delas teria utilidade sem a outra?]
Todas
as sensações de tato são enviadas para serem processadas aqui, e cada parte do corpo tem sua própria
subdivisão dentro do giro pós-central. Seu tamanho reflete a densidade de
receptores. [E aí, o que lhe sugere: design inteligente ou mutações acidentais
filtradas pela seleção natural?]
A
parte que recebe sensações do peito e da barriga é relativamente pequena,
enquanto as que processam as sensações das mãos e dos lábios são enormes.
Segundo
o pesquisador Gordon Gallup, nas culturas em que não existe o beijo, “parceiros
sexuais podem assoprar os rostos um do outro, ou ainda lamber, sugar ou
esfregar o rosto do outro antes do ato sexual”. Já o chamado “beijo de esquimó”
não se limita a esfregar os narizes, mas sim trocar odores. É possível que o
ato de beijar tenha surgido como uma maneira prazerosa de sentir e filtrar
possíveis parceiros.
Gallup
estudou o comportamento de um grupo que deveria saber bastante sobre o beijo:
estudantes universitários americanos. Ele e seus colegas descobriram que uma
das principais maneiras de as mulheres determinarem se um parceiro era ou não
um bom beijador usava pistas químicas, como o gosto e o cheiro. Elas também
disseram que provavelmente não fariam sexo com um homem sem antes beijá-lo.
Outra
pesquisa de Gallup perguntou a voluntários se já tinham perdido o interesse em
alguém que consideravam atraente após o primeiro beijo. Entre os homens, 59%
disseram que sim e 66% das mulheres concordaram.
Mesmo
tendo se concentrado em estudantes americanos, os estudos de Gallup, quando
comparados com dados multiculturais e com evidências de pesquisas com animais,
mostram que o contato íntimo propiciado pelo beijo pode nos ajudar a julgar a
possível adequação de um parceiro.
É
por isso que vale a pena ter lábios - mesmo que de vez em quando eles rachem
com o vento ou acabem mordidos sem querer.
Nota:
“Beije-me ele com os beijos da sua
boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho” (Cânticos 1:2). Explicação
mais simples: o beijo é um presente de Deus criado para ser desfrutado por duas
pessoas comprometidas em amor. [MB]