Intolerâncias, desrespeito e morte |
Eu
sou cristão e não concordo com qualquer tipo de violência, desde a que derrama
sangue até aquela que ofende a consciência. Não concordo com os radicais
islâmicos porque querem impor sua fé doentia e exclusivista ao restante da
humanidade e porque não toleram os que pensam diferente e os que ousam
abandonar sua religião. Sou cristão e não posso concordar, também, com pessoas
que achincalham a crença dos outros e que se valem da imprensa e de outros
meios, não para comentar ou até mesmo criticar civilizadamente ideias, mas para
desrespeitar as convicções alheias, e fazem isso com a justificativa de se
tratar de “liberdade de expressão”. Sou cristão e me solidarizo com as famílias
que sofrem a perda daquelas dez pessoas que trabalhavam no Charlie Hebdo (além dos dois policiais mortos), mas também choro
porque centenas de milhares de cristãos são assassinados todos os anos e a
“grande imprensa” parece ignorar o triste fato (confira aqui e aqui). A ONU não se manifesta, não são feitos protestos em praça pública, nem
vigílias, nem nada. Sou cristão e me entristeço ao ver um mundo que prega a
tolerância e a paz, mas que vive cada vez mais polarizado entre intolerantes e
intolerantes que parecem amar da discórdia.
Sou
cristão, não sou Charlie nem terrorista. Desejo a paz e a boa convivência com
todos. Desejo a liberdade de me expressar, porém, sem ofender quem quer que
seja. Desejo que haja respeito e aceitação do diferente, porque, na verdade, na
essência, não somos diferentes. Somos todos filhos do mesmo Criador e
descendentes dos mesmos pais – apenas nos esquecemos disso, ou nos fizeram
esquecer. A xenofobia se insere nesse contexto de esquecimento das nossas
origens. A teimosia provocatica da Charlie
Hebdo também. Mesmo com tudo o que aconteceu, eles afirmam que continuarão desrespeitando os muçulmanos. O advogado da publicação disse que o espírito do
“eu sou Charlie” significa também “o direito à blasfêmia”. Por isso eu não sou
Charlie. Sou cristão. Publicar charges de Maomé é como chutar
uma estátua católica ou queimar a bandeira de um país. É ofensivo. Desperta
mais ódio. Gera mais violência.
Sou
cristão e leio com certa desconfiança as palavras de um papa que, num momento
como esse, diz que é preciso condenar as formas “desviantes de religião”. Já o vi condenando o “fundamentalismo” que, segundo ele, se trata de, entre
outras coisas, crer na literalidade da Bíblia, especialmente em seus primeiros
capítulos (confira aqui e aqui). Já o vi dizendo que não se deve obedecer à lei de Deus ao pé da letra (confira) e que os criacionistas acreditam num Deus “mágico”, porque sustentam que Ele
criou a vida neste planeta em seis dias literais, como descreve o Gênesis
(confira). Já assisti a um programa de TV britânico em que um padre chama um pastor
adventista de fundamentalista pelo simples fato de crer que Jesus voltará nas
nuvens do céu, verdade afirmada mais de 2.500 vezes nas Escrituras (confira). Então, ser criacionista é ter uma fé “desviante”?
Sou
cristão e decidi seguir Jesus e pautar minha vida pelo exemplo e pelos
ensinamentos dEle. Jesus Se referiu a Adão e Eva como personagens reais,
históricos. Comparou os dias anteriores ao dilúvio aos dias que precederiam Sua
segunda vinda, considerando históricos ambos os eventos. Para os padrões religiosos
de hoje, o próprio Jesus teria uma fé “desviante”. Mas eu sou cristão e fico do
lado de Cristo. Até o fim. Mesmo que tenha que depor a vida por isso - ou ser injustamente chamado de fundamentalista. Mas
jamais farei mal a uma mosca nem desrespeitarei a religião dos outros. Isso
porque sou cristão. Je suis chrétien.
Michelson Borges
Em tempo: Em 2011, a França proibiu os muçulmanos de orar em público (confira). Isso afetou cerca de cinco milhões de pessoas. O que mais será proibido no futuro?
Em tempo: Em 2011, a França proibiu os muçulmanos de orar em público (confira). Isso afetou cerca de cinco milhões de pessoas. O que mais será proibido no futuro?