Cientistas do BAS |
O
fim do mundo está próximo! A depender do alerta emitido nesta quinta-feira pelo
Boletim de Cientistas Atômicos (BAS, na sigla em inglês), ao adiantar em dois
minutos o “Relógio do Apocalipse”, que agora marca três para meia-noite,
vivemos uma situação tão perigosa quanto a da Guerra Fria. A última vez em que
a situação esteve tão crítica foi em 1984, num momento em que o recrudescimento
das hostilidades entre os EUA e a então União Soviética ameaçavam a humanidade
com uma guerra nuclear. Desta vez, a principal ameaça vem do clima. “Isto é
sobre o fim da civilização como nós a conhecemos”, disse Kennette Benedict,
diretora-executiva do BAS. “A probabilidade de uma catástrofe global é muito
alta, e as ações necessárias para reduzir os riscos são urgentes. As condições
são tão ameaçadoras que estamos adiantando o relógio em dois minutos. Agora
faltam três para a meia-noite.”
A
emissão de dióxido de carbono e outros gases está transformando o clima do
planeta de forma perigosa, alertou Kennette, o que deixa milhões de pessoas
vulneráveis ao aumento do nível do mar e a tragédias climáticas. Em comunicado,
o BAS faz duras críticas aos líderes globais, que “falharam em agir na
velocidade ou escala requerida para proteger os cidadãos de uma potencial
catástrofe”.
O
consultor e ambientalista Fabio Feldmann considera o alerta “bastante razoável”
e destaca a falta de mobilização de governos e sociedades como o principal
entrave.
“Se
há um ano eu falasse sobre os riscos da crise hídrica em São Paulo, seria
tachado de apocalíptico, mas veja a situação agora”, disse Feldmann. “A
realidade está superando as previsões científicas, mas não está colocando o
tema na agenda. Esse é o drama.”
Além
da questão climática, o BAS alerta sobre a modernização dos arsenais nucleares,
principalmente nos EUA e na Rússia, quando o movimento ideal seria o de redução
no número de ogivas. Estimativas mostram a existência de 16.300 armas atômicas
no mundo, sendo que apenas cem seriam suficientes para causar danos de longo
prazo na atmosfera do planeta.
“O
processo de desarmamento chegou a um impasse, com os EUA e a Rússia aplicando
programas de modernização das ogivas – minando os tratados de armas nucleares –
e outros detentores se unindo nessa loucura cara e perigosa”, informou o BAS.
A
organização pede que lideranças globais assumam o compromisso de limitar o
aquecimento global a dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e de
reduzir os gastos com armamentos nucleares. “Não estamos dizendo que é muito
tarde, mas a janela para ações está se fechando rapidamente”, alertou Kennette.
“O mundo precisa acordar da atual letargia. acreditamos que adiantar o relógio
pode inspirar mudanças que ajudem nesse processo.”
O
BAS foi fundado em 1945 por cientistas da Universidade de Chicago (EUA) que
participaram no desenvolvimento da primeira arma atômica, dentro do Projeto
Manhattan. Dois anos depois, eles decidiram criar a iniciativa do relógio, para
“prever” quão perto a humanidade estaria da aniquilação. Na época, a principal
preocupação era com o holocausto nuclear, mas, a partir de 2007, a questão
climática passou a ser considerada pelo grupo. As decisões de ajustar ou não o
relógio são tomadas com base em consultas a especialistas, incluindo 18
vencedores do Prêmio Nobel.
Desde
a criação, o “Relógio do Apocalipse” foi ajustado apenas 22 vezes. O momento
mais crítico aconteceu em 1953, com o horário marcando 23h58, por causa dos
testes soviéticos e americanos com a bomba de hidrogênio. A assinatura do
Tratado de Redução de Armas Estratégicas, em 1991, fez o relógio marcar 17
minutos para a meia-noite, a situação mais confortável até hoje.
O
último ajuste do relógio aconteceu em 2012, para 23h55, com o BAS alertando
sobre os riscos do uso de armas nucleares nos conflitos do Oriente Médio e o aumento
na incidência de tragédias naturais.
Nota:
Nada como o medo para motivar ações drásticas no planeta. De qualquer forma, é
bom ver que há mais pessoas percebendo que este mundo é um barril de pólvora
prestes a explodir. [MB]