Origem comum |
Estudo genético conduzido pela Universidade
Harvard (EUA) com a participação de cientistas brasileiros descobriu que a
origem dos indígenas das Américas é mais complexa do que se imaginava. A
pesquisa, que teve a colaboração da pesquisadora Maria Luiza Petzl-Erler,
professora do Departamento de Genética da UFPR, encontrou uma ancestralidade
comum de índios da Amazônia e do Planalto Central do Brasil com povos nativos
do Sudeste da Ásia e da Oceania,
incluindo aborígenes australianos. A comprovação desse “parentesco” genético é
algo novo nas pesquisas sobre os nativos americanos. “É consenso que o grupo
que deu origem aos indígenas veio do Nordeste da Ásia, da região da Sibéria.
Eles entraram nas Américas pelo Estreito de Bering. E depois se espalharam,
descendo do Norte para o Sul”, diz Maria Luiza. Estima-se que o chamado “grupo
fundador”, do qual se originaram todos os índios americanos, seria composto por
apenas 70 pessoas e passou pelo estreito em algum momento entre 30 mil e 15 mil
anos atrás. [Quem sabe a estimativa não pudesse ser corrigida para cerca de
menos de quatro mil anos?] Não se sabe se numa única ou em mais levas de
pessoas.
Segundo Maria Luiza, a nova pesquisa não
refuta esse entendimento. O mapeamento genético mostra que a ancestralidade dos
indígenas americanos ainda é eminentemente a do povo que viveu na região da
Sibéria. Os traços comuns de algumas tribos do Brasil com as populações nativas
do Sudeste Asiático e da Oceania tampouco são majoritários entre esses índios
brasileiros. E nem sequer aparecem na imensa maioria dos indígenas das
Américas.
A pesquisa, contudo, indica que o povo que
deu origem aos índios (ou ao menos parte dessa população) não veio só da
Sibéria, mas também de algum ponto mais ao Sul da Ásia. Estabelecer os novos
elos do homem americano ainda é algo de terá de ser objeto de mais estudos, diz
Maria Luiza.
A pesquisadora da UFPR afirma que o estudo
tampouco mostra que parte dos indígenas da América do Sul possa ter vindo
diretamente da Oceania, por meio do Pacífico. De acordo com Maria Luiza, embora
haja similaridades genéticas entre povos dos dois continentes, as semelhanças
teriam de ser maiores se a migração tivesse ocorrido diretamente por meio dessa
rota. E isso não foi verificado.
A hipótese de que a origem dos indígenas é a
Oceania chegou a ser cogitada mais fortemente em alguns meios científicos com a
descoberta nos anos 1970, em Minas Gerais, da ossada de Luzia – o esqueleto
humano mais antigo das Américas, com idade estimada em 13 mil anos. A
reprodução de como seria o rosto de Luzia, a partir do crânio encontrado em
Minas, mostrou uma mulher com traços assemelhados aos dos atuais aborígenes
australianos e dos negros africanos – e não dos asiáticos.
Mas a pesquisadora da UFPR afirma que a
interpretação mais corrente hoje sobre a aparência de Luzia é de que, há
milhares de anos, a diferenciação de traços físicos não era tão marcante como
hoje. O tipo humano mais característico à época seria uma espécie de “mestiço”
atual. [Só que eu me lembro muito bem de que a reconstrução artística do rosto
de Luzia foi capa de muitas revistas, como a Superinteressante, gravando em muitas memórias a imagem dela do
jeito que ainda está em muitos livros didáticos, inclusive.] [...]
Note: Não é de hoje que pesquisas têm apontado a Ásia como
ponto de dispersão das populações humanas (confira aqui); sim, a Ásia, onde fica a região do Ararate... E as semelhanças genéticas entre
as populações ameríndias e asiáticas podem ser verificadas, também, na cultura
e na arquitetura: egípcios, mesopotâmicos, astecas, maias, incas e até povos brasileiros construíam pirâmides com finalidades religiosas, por exemplo - quem sabe sendo
esse um resquício da Torre de Babel (confira aqui e aqui). [MB]