Ao
mesmo tempo em que a Igreja Adventista mundial dedica este trimestre para
estudar o livro bíblico de Jó, que começa com um vislumbre do grande conflito
entre Deus e Satanás e em como essa batalha envolve o ser humano aqui na Terra,
a maior produtora cinematográfica do Brasil, a Globo Filmes, lança um filme intitulado
A Comédia Divina, clara referência à
obra de Dante Alighieri, na qual o autor descreve uma viagem ao inferno mitológico. O filme apresenta o diabo como uma
figura caricata, divertida, mas preocupada com sua baixa popularidade. Tentando
salvar sua imagem, ele abre a própria igreja na Terra a fim de conquistar fiéis
(qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência: confira) e utiliza uma emissora de TV para disseminar
suas ideias por meio de um talk show
chamado “Satã Night show”. Uma das atrações do programa consiste em “queimar
pessoas ao vivo”. Em sua igreja, o diabo ensina que tudo o que antes era
proibido agora é permitido. A inveja e a cobiça, por exemplo.
Deus
é representado pela atriz Zezé Motta, e só está preocupado com jogos de azar que
ele/ela usa para enfrentar o tédio. No trailer,
há um diálogo entre “deus” e o “diabo”, que é chamado por ela de “filho”. Zezé
ainda diz: “Os homens não são fiéis. Por isso criei o cachorro!”
O
roteiro do longa é baseado no famoso conto de Machado de Assis intitulado “A
Igreja do Diabo”, mas é ambientado nos dias de hoje.
Na
verdade, não é novidade serem lançadas produções que satirizam o conflito entre
o bem e o mal e que tratam o diabo como piada. No ano 2000, estreou nos cinemas
o filme Endiabrada (Bedazzled), em que o diabo é
interpretado por uma mulher, a atriz Elizabeth Hurley, que concede sete desejos
ao personagem principal, um funcionário de call-center
insatisfeito com a vida. Segundo a sinopse do filme, o roteiro é recheado de
alusões à ideia pagã da alma imortal e ao inferno mitológico. Afirma também que
a batalha entre Deus e o diabo se trata de uma farsa e que o Céu e o inferno
são aqui mesmo, na Terra - tudo depende da escolha humana.
Alguns comentaristas
chegaram a suspeitar de que o filme sugere que o diabo poderia ser um agente de
Deus, enviado para seduzir os seres humanos! Isso é reforçado pelo fato de que,
em certa cena (praticamente copiada pelo filme brasileiro), a diaba é vista
jogando xadrez amigavelmente com “o Criador”. (Aliás, note a semelhança entre os cartazes dos filmes brasileiro e norte-americano.)
É
muito interessante para o inimigo de Deus que as pessoas levem na brincadeira
assuntos espirituais como o grande conflito. Ele ganha das duas formas: tanto
se as pessoas crerem que ele não existe, quanto se acreditarem que se trata de
uma figura caricata e divertida. O diabo é um ser real; um anjo caído rebelado contra o governo de Deus e que há
milênios vem causando estragos aqui neste planeta.
Hollywood
e a Globo estão brincando com assunto sério e levando muitas pessoas fazer a
mesma coisa. Do jeito que o diabo gosta. [MB]