sábado, maio 10, 2008

Época entrevista Alister McGrath

A revista Época desta semana traz uma entrevista com o autor do livro O Delírio de Dawkins, ALister McGrath. Segundo a semanal, "Alister McGrath e Richard Dawkins, autor do livro Deus, um Delírio, têm trajetórias bastante parecidas. Ambos são cientistas de Oxford, estudiosos das ciências naturais e mostram-se abertos a novas formas de pensar, desde que as evidências os levem a isso. A diferença é que o raciocínio lógico levou Dawkins a pregar o ateísmo e McGrath a acolher a fé. Leia, nesta entrevista, como ele considera que a existência de Deus pode ajudar o conhecimento científico."

Época - Quando você passou a acreditar em Deus?

McGrath - Na juventude estive apaixonadamente persuadido pela veracidade e relevância do ateísmo. Quando fui para Oxford estudar química, comecei a refletir sobre se aquilo faria sentido. Mais tarde conheci Joanna (sua esposa) e percebi que a força dos argumentos que levam a Deus é mais satisfatória do que a que leva ao ateísmo.

Vocês e Richard Dawkins são amigos?

Não, somos apenas professores da mesma universidade. Nós estamos presentes em alguns congressos e nos encontramos. Somos cordiais. Mas não posso dizer que somos amigos. Nós nos conhecemos mais pelas publicações que um e outro produziu. E nossas divergências também aparecem no que escrevemos.

Você diz que Dawkins se tornou um fanático. Qual a sua suspeita?

A agressividade de Dawkins é reflexo de sua frustração. Ele passou a ser mais agressivo porque sabe que a religião está cada vez mais presente na vida das pessoas. Ele convoca seus leitores para militar contra a religião e rompe com sua própria argumentação. Seu único argumento é de que a religião não descobriu nenhum indício sobre a existência de qualquer realidade que não seja a natural. É por frustração que ele afirma que toda a religião é perniciosa e deve ser banida da sociedade.

Quais seus argumentos para acreditar que Deus existe?

Neste meu livro, eu realmente não dou argumentos para acreditar em Deus, mas rebato os de Dawkins. A forma como você acredita em Deus dá sentido ao mundo. Acreditar em Deus traz esperança e motivação para se manter vivo e se relacionar com as pessoas.

Você acredita na evolução?

Eu discordo de Dawkins em sua insistência de que a evolução biológica exclui Deus do processo. Não entendo como ele chegou a essa conclusão. Na minha opinião, as duas coisas são compatíveis.

As pessoas religiosas têm a moral mais desenvolvida que os ateus?

Não quero dizer que ateus são pessoas ruins. O que quero dizer é que acreditar em Deus dá habilidade e ferramentas para tratar melhor deste assunto.

Dawkins diz que é importante submeter a fé a um exame crítico. Você acredita nisso?

Sim, acho que isso é uma importante coisa a se fazer. Acredito que todo mundo deveria submeter suas crenças a um exame crítico. Sempre. A razão pela qual sou cristão é porque submeti minhas crenças e descobri que elas não ficavam em pé. Para mim, acreditar em Deus tem razões muito mais robustas.

Quando a ciência não pode explicar Deus?

Penso que a ciência é extremamente efetiva para explicar o mundo natural. Mas quando tenta explicar questões como valores ou significados, não acredito que ela consiga com êxito. Dawkins diz que a ciência pode explicar todas as coisas. Eu digo que acreditar em Deus ilumina partes da vida que a ciência não pode explicar. As duas podem trabalhar muito bem juntas.

Você votaria em um candidato ateu?

Eu não escolheria meu candidato considerando a religiosidade dele. Dawkins exagerou no preconceito. Eu não cultivo o preconceito que ele próprio tem. Há um grande preconceito dentro da universidade, especialmente contra cristãos.

Nota: Em seu livro O Delírio de Dawkins, McGrath não entra no mérito (ou a falta dele) do darwinismo. Ele se limita a criticar o ateísmo estridente e preconceituoso de Dawkins. Assim como Francis Collins (autor de A Linguagem de Deus), McGrath pode ser classificado como evolucionista teísta, uma vez que crê ser possível conciliar o darwinismo com o teísmo. Se ele não fosse cristão, isso até que não seria incoerente. Mas se tratando de um cristão que provavelmente se pauta pela Bíblia Sagrada, essa posição é, no mínimo, contraditória. Leia a matéria "Mistura impossível" e saiba por quê.[MB]