Enquanto na física se busca a teoria do tudo (a unificação da física quântica com a relatividade), na biologia parece que essa teoria-explica-tudo já existe e se chama darwinismo. Para muitos, as idéias de Darwin (devidamente aprimoradas por seus seguidores em um século e meio) seriam capazes de, por exemplo, explicar (e até justificar) por que alguns homens são puladores de cerca contumazes, por que gostamos de doces e por que apreciamos boa música. A novidade agora é a "explicação" darwinista de um fato observável em quase todo ser humano: nossa predisposição para crer.
Conforme destaca o site G1 Notícias, esse será um dos temas da revista Galileu de abril. Na prévia publicada no site, há a afirmação de que um crescente número de cientistas está considerando a religião um produto da biologia humana, tal como a linguagem, a arte ou o uso de drogas.
Segundo a matéria, a "arqueologia sugere que só começamos a enterrar nossos mortos e ter uma idéia de seres 'sagrados' (animais, por exemplo) há poucas dezenas de milhares de anos. Por que, de repente, a nossa espécie 'acordou' para o lado sobrenatural das coisas?" Não seria por que nossa espécie tem apenas "poucas dezenas de milhares de anos" e, portanto, todos os fenômenos que a acompanham datam também dessa época? Assim, o ser humano seria Homo religiosus desde sua criação, tendo sido criado com essa inclinação para o transcendente e não desenvolvido essa sensibilidade ao longo das eras.
Mas tudo bem. Suponhamos que a fé seja mesmo um fruto da evolução. Por que teria se desenvolvido? Segundo a reportagem de Galileu, na tentativa de explicar o fenômeno, os biólogos da religião se dividem em dois grupos: os defensores da "vantagem adaptativa" e os do "efeito colateral". "Para os primeiros", explica o texto, "o ato de crer em si é que foi vantajoso para os antigos humanos – tão vantajoso que os que 'desenvolveram' a fé deixaram mais descendentes e passaram o traço adiante. A principal vantagem de desenvolver o instinto religioso seria a coesão social que ele traz: se toda a tribo está unida na devoção ao seu deus, ela se torna mais trabalhadora e mais corajosa na guerra, entre outras coisas."
Gene egoísta bem inteligente esse, não? Pelo jeito, sob esse ponto de vista, os exploradores da religião são bem mais antigos do que se pensa...
O outro grupo (do efeito colateral) aposta que "as vantagens para a sobrevivência vinham de características da nossa mente que não têm nenhum elo direto com a religião. No entanto, o resultado acidental dessas propriedades mentais foi estimular o surgimento da fé". Então, a fé é um acidente de percurso?!
Tem mais. Segundo o texto, nossa "mania" de ver intencionalidade nas coisas - nas nuvens, na chuva, nas estrelas - seria um efeito colateral da capacidade de prever ações e intenções de outras criaturas. Daí para a idéia de deuses por trás dessas coisas seria um passo natural. Quer dizer então que a informação especificada do DNA e a homoquiralidade (leia a postagem "Assinatura química de Deus"), para mencionar apenas dois exemplos, seriam fruto de uma intencionalidade inexistente? Coisa da nossa cabeça programada pela evolução para ver intenções? Para mim, isso soa mais como um reforço das palavras de ordem de Francis Crick: "Os biólogos devem sempre ter em mente que aquilo que vêem não foi planejado, mas que evoluiu."
Sei que os darwinistas e ultradarwinistas de plantão vão dar mil e uma justificativas para o texto da Galileu. Só que eu não tenho tanta fé assim.[MB]