sexta-feira, maio 09, 2008

A polêmica das células-tronco

Segundo a Dra. Mayana Zatz, professora de Genética Humana e Médica do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da Universidade São Paulo e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, "células-tronco são células capazes de multiplicar-se e diferenciar-se nos mais variados tecidos do corpo humano (sangue, ossos, nervos, músculos, etc.). Sua utilização para fins terapêuticos pode representar talvez a única esperança para o tratamento de inúmeras doenças ou para pacientes que sofreram lesões incapacitantes da medula espinhal que impedem seus movimentos. As células-tronco existem em vários tecidos humanos, no cordão umbilical e em células embrionárias na fase de blastócito. Pesquisas com células-tronco, porém, estão cerceadas pela desinformação ou por certas posições religiosas que vêem nelas um atentado contra a vida em vez de um recurso terapêutico que possibilitará salvar muitas vidas."

De acordo com o site Comciência, "a grande discussão gira em torno das células-tronco embrionárias obtidas, normalmente, de embriões descartados em clínicas de fertilidade. Não há um consenso mundial sobre a liberação das pesquisas com células humanas. A Inglaterra foi o primeiro país a liberar, em agosto de 2000, os experimentos com células-tronco de seres humanos. Na Alemanha, a criação de embriões para pesquisa é proibida, embora eles possam ser importados de outros países. No restante da Europa, o assunto ainda é motivo de restrições éticas. Países como Austrália e Israel já se posicionaram a favor das pesquisas."

Alguns anos atrás, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, permitiu o financiamento público à pesquisa com células-tronco embrionárias, mas de forma limitada. Ele liberou US$ 250 milhões para pesquisas em apenas 60 linhas de células-tronco já existentes, que tenham sido criadas com o consentimento dos doadores a partir de excesso de embriões fecundados apenas para fins reprodutivos.

O assunto voltou a ser debatido nesta semana e está envolto em polêmica pois traz à baila a discussão sobre o que é e quando surge a vida humana. Mas o ponto central da discussão é o fato de que para retirar as células-tronco embrionárias é preciso destruir os embriões. A Igreja Católica considera a destruição de embriões equivalente ao aborto (mas é bom lebrar que a Igreja Católica também é contra o uso de contraceptivos). A Lei Judaica (Halachá), por outro lado, não faz objeção ao uso de embriões em estágio primário. Segundo o rabino Moshe D. Tendler, presidente da Comissão Bioética do Conselho Rabínico da América, o óvulo fertilizado in vitro não tem "humanidade". Sem a implantação no útero ele permanece um zigoto, não sendo vista sua destruição como aborto.

O tema, como se pode ver, é polêmico. E não pode ser resolvido com afirmações e comparações absurdas como a do comentarista Arnaldo Jabor que, na terça-feira à noite, no Jornal da Globo, disse que não ser a favor da utilização de células-tronco embrionárias seria o mesmo que acreditar como os criacionistas, que Deus criou o mundo há 6 mil anos com Adão e Eva namorando no jardim do Éden". Ele conclui dizendo que isso não passa de "pura ignorância". Jabor não precisava ter aproveitado o tema para alfinetar os criacionistas. Até porque a igreja (católica) que mais condena a pesquisa com células-tronco não é criacionista. Foi uma comparação desnecessária e infeliz.

Quanto ao uso ou não das células-tronco, creio que se deve discutir melhor o assunto. O uso indiscriminado desse recurso (ou seja, criar embriões "apenas" para pesquisa) pode banalizar ainda mais a vida humana; mas o não uso pode fazer com que percamos uma grande chance de salvar vidas e amenizar o sofrimento de muita gente. A doação de órgãos também produziu (e produz) grandes discussões, mas hoje ninguém duvida ser ela uma prova de amor que salva muitas vidas. E você, o que acha desse assunto?[MB]